Cães, gatos e não só: há mais animais de estimação envenenados ao ingerirem marijuana. Saiba quais são os efeitos

CNN , Sandee LaMotte
25 abr 2022, 11:00
Cão (Direitos Reservados)

Desorientação, letargia, movimentos anormais ou descoordenados, tais como oscilação, diminuição do ritmo cardíaco e incontinência urinária são os sintomas mais comuns

Um estudo recente feito no Canadá e nos EUA descobriu que, em comparação com o ano passado, há mais animais de estimação a serem alvo de envenenamento, chegando mesmo alguns a morrer, por ingestão de plantas e produtos comestíveis de marijuana.

Uma pesquisa levada a cabo por um grupo de veterinários descobriu que os casos de envenenamento ocorrem mais frequentemente em cães, tendo, no entanto, os efeitos alucinogénios da marijuana vitimado, também, gatos, iguanas, furões, cavalos e catatuas.

"A maior parte dos casos de intoxicação provocada pela canábis deu-se por via oral, por ingestão de produtos comestíveis, beatas de charros ou vestígios da planta secos”, afirmou o autor do estudo, Jibran Khokhar, professor assistente na Faculdade de Medicina Veterinária, Ontario Veterinary College, na Universidade de Guelph em Ontário, no Canadá.

"É importante lembrar que os nossos animais de estimação não são pequenas pessoas. São criaturas muito diferentes com metabolismos diferentes e, por isso, podem sofrer efeitos graves com a ingestão de marijuana", declarou Dana Varble, a veterinária chefe da Comunidade Veterinária Norte-Americana.

"Os efeitos num pequeno animal serão muito mais fortes do que aquilo que possamos experimentar", disse Varble, que não participou no estudo.

"Num cão ou num gato que, de facto, não compreendem porque é que se podem sentir de uma maneira que lhe é estranha, constatamos, evidentemente, sinais de desorientação, angústia e ansiedade", afirmou.

Há um perigo duplo, acrescentou. "Muitos dos produtos comestíveis atualmente existentes vêm embalados com sabores de chocolate e fruta, que são muito apelativos para os cães e até para os gatos", declarou ainda. Chocolate, uvas, passas e citrinos são tóxicos para cães e gatos, tal como o adoçante xilitol que pode ser utilizado em gomas de marijuana.

"Nesta situação, temos um cão ou gato que não só sofre dos efeitos tóxicos do THC, mas também de uma toxicidade multi-drogas", afirmou Varble. "Isso complica claramente o tratamento do animal e acrescenta ansiedade e acarreta despesas para o seu dono".

Mais pessoas a dizer a verdade

O estudo, publicado na quarta-feira na revista PLOS ONE, questionou veterinários no Canadá e nos Estados Unidos sobre as suas experiências com envenenamento por canábis depois de o Canadá e vários estados dos EUA terem legalizado a marijuana.

Alguns veterinários relataram um aumento nos casos, que poderia decorrer do maior acesso a produtos legais de marijuana em alguns estados dos EUA e no Canadá, que legalizaram a canábis em 2018. Pode também dever-se ao facto de mais pessoas estarem dispostas a relatar a verdadeira razão dos sintomas do seu animal de estimação, disse Khokhar.

"Como o consumo de droga já foi legalizado, há mais pessoas dispostas a relatar", afirmou Khokhar. "No passado, poderiam ter chegado com o mesmo problema e dito: 'Não sei o que aconteceu ao meu animal de estimação'. "

Segundo a sondagem, a maioria das pessoas relatou ao seu veterinário que a exposição teria acontecido acidentalmente.

"Contudo, penso que não podemos descartar o uso intencional, quer para fins recreativos ou medicinais", disse Khokhar, apontando para vídeos nas redes sociais que mostram pessoas a dar intencionalmente marijuana aos seus cães ou gatos.

"As pessoas também podem estar a dar THC ou CBD ao seu animal de estimação para fins medicinais, mas há apenas um número limitado de indicações para as quais a CBD realmente funciona - tudo o resto não faz sentido", afirmou. "A canábis para efeitos medicinais não é aprovada para uso veterinário".

Os sintomas mais comuns em animais de estimação expostos à canábis incluíam desorientação, letargia, movimentos anormais ou descoordenados, tais como oscilação, diminuição do ritmo cardíaco e incontinência urinária.

"Houve animais que urinaram em todo o lado", disse Khokhar. "E o último foi o aumento da sensibilidade dos sentidos - tudo desde a sensibilidade à luz, até ao facto de se mostrarem muito assustados quando lhes tocavam ou quando ouviam um som".

O estudo também comprovou que a maioria dos animais de estimação recuperou, por vezes após 24 a 48 horas no hospital veterinário.

Dezasseis cães morreram após a ingestão de marijuana, afirmou ainda, mas, acrescentou "é difícil avaliar se a morte esteve relacionada com a própria canábis ou com outros ingredientes da canábis comestível, tais como o chocolate".

"Os donos de animais de estimação devem ser extremamente cautelosos e manter os animais longe de qualquer produto com marijuana, armazenando-os em recipientes fechados e em locais a que o animal não possa aceder", declarou Varble.

"A outra coisa de que os donos de animais de estimação têm de se lembrar é que aqueles lindos frascos à prova de crianças em que guardamos os medicamentos prescritos não são à prova de cães", acrescentou ela.

"Qualquer pessoa que já tenha visto um cão mastigar um brinquedo de plástico ou um sapato pode ver a facilidade com que isso pode acontecer."

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