"É horrível ver alguém morrer com esta doença". Mãe de camionista que morreu de covid-19 sem estar vacinado deixa mensagem para manifestantes antivacinas

CNN , Christina Zdanowicz
17 fev 2022, 10:45
David Mitchell lutou contra a covid-19 por semanas (Direitos Reservados)

"É horrível ver alguém morrer com esta doença", disse Marg, que espera que os camionistas se vacinem

A família de Marg Makins trabalha, há muitas gerações, no ramo do transporte de mercadorias. Ao assistir ao protesto dos camionistas, um pouco por todo o Canadá, contra a obrigatoriedade da vacinação, Marg quer falar-lhes sobre o seu filho, que morreu de covid-19.

Makins disse que David Mitchell, de 70 anos, era um camionista veterano antes de morrer, a 15 de outubro. A mãe disse que o filho não tinha sido vacinado.

"É horrível ver alguém morrer com esta doença", disse na terça-feira à CNN. Marg vive numa pequena cidade do Ontário.

“Espero que estes camionistas possam ouvir o que tenho a dizer e o quão terrível é a covid. Com isto, talvez possa salvar alguém das suas famílias ou até mesmo eles próprios.”

Milhares de camionistas canadianos protestam por serem contra uma ordem que exige a vacinação completa aos camionistas que entrem no Canadá. Caso estes não estejam vacinados, é-lhes exigido que façam testes e é necessário fazerem quarentena. Este grupo também se opõe a outras restrições, tais como o uso de máscara e confinamentos por causa da covid-19.

Os protestos tiveram origem no grupo de camionistas denominado "Comboio da Liberdade". Estes percorreram o país antes de chegar a Otava, onde acabaram por paralisar a cidade.

Justin Trudeau, o primeiro-ministro canadiano, disse que esses manifestantes representam uma "pequena minoria". De acordo com o governo, cerca de 90% dos camionistas canadianos estão totalmente vacinados e, por isso, cumprem os requisitos necessários para atravessarem a fronteira.

“Agora, todos os meus filhos morreram”

David Mitchell lutou contra a covid-19 durante semanas. Depois de o terem ligado ao ventilador, ele nunca mais reagiu. Makins disse que David ficou de cama durante alguns dias, antes de o levarem para o hospital. Após alguns exames, teve alta.

"Ele parecia muito doente”, disse Makins. "O meu filho ficou de cama e tinha tantas dores que nem conseguia alcançar o telemóvel.”

“Após uma semana, não melhorou. No dia 18 de setembro, David gemia com dores e tinha dificuldade em respirar. Foi internado no hospital e ligaram-no a um ventilador”, disse Makins.

Mitchell foi sedado. Este tipo de medicamento é usado para evitar que os pacientes se mexam enquanto estão ligados a um ventilador. Marg Makins relembra, em lágrimas, que o seu filho não podia sequer mexer os olhos ou as mãos.

"Passei muitos dias e noites no hospital com os seus filhos. Dormia no hospital e nunca obtive qualquer reação por parte do meu filho", adiantou.

Quando a família decidiu desligar o ventilador, Mitchell morreu em poucos minutos, enquanto a mãe e os seus entes queridos lhe seguravam na mão.

Makins perdeu, naquele dia, o seu último filho, o filho mais velho. A mulher perdeu Bruce, em 2020, e Jane, em 2010. Ambos os filhos morreram com um cancro.

Marg Makins disse: “Agora, todos os meus filhos morreram. É uma espécie de caminho errado. Não é suposto ser assim.” Mitchell deixa dois filhos, uma filha e cinco netos.

"O meu filho não era antivacinas"

De acordo com a sua mãe, Mitchell nunca foi vacinado, mas não foi por ser contra as vacinas.

"O David não era antivacinas. Apenas dizia que não tinha tempo para se vacinar. Se o meu filho estivesse aqui, com certeza estava arrependido”, disse Makins. "Ele sabia que deveria ser vacinado. Apenas já não não conseguiu fazer isso.”

Mitchell trabalhava muito. Ele atravessava o Canadá e dormia no seu camião. A sua mãe disse que, muitas vezes, o filho levava o seu cão Bull nas suas viagens.

Marg Makins espera agora que os camionistas que não estão vacinados oiçam a sua mensagem e se vacinem contra o vírus.

Makins disse que os seus companheiros de profissão apelidaram o filho de “lenda”. Mitchell tornou-se camionista por volta dos 19 anos. “Trabalhou até adoecer, aos 70 anos”, acrescentou ela.

“O David era muito querido. O meu filho não sabia lidar bem com o dinheiro. Se não conseguisse gastá-lo consigo, dava-o", disse Makins. "Ele era engraçado, curioso e tinha sempre uma piada para contar."

Marg Makins disse que toda a família foi vacinada, exceto Mitchell e um dos seus filhos. Ela disse que recebeu as duas doses da vacina contra a covid-19 e uma dose de reforço.

A mãe de Mitchell afirmou que não entende o porquê de alguns camionistas se recusarem a levar a vacina. A situação começa a “irritá-la”.

"Eles estão a fechar a economia do nosso país e a dos Estados Unidos”, disse Makins. "É realmente preocupante. Ninguém pode ir trabalhar ou usar essas estradas. Os camiões não podem passar com as suas mercadorias. Por isso, está na hora de irem para casa". A mãe do camionista acrescentou: “A liberdade é um privilégio.”

Makins vem de uma longa linhagem de camionistas. O seu pai era dono de uma empresa de transporte de mercadorias. Os seus irmãos e dois dos seus filhos eram camionistas, adiantou a mulher.

Marg Makins espera que a sua mensagem possa salvar a vida de outras pessoas, de forma a poupar as suas famílias desta dor.

“Nunca sabemos lidar com isso. Apenas aprendemos a conviver com esse sentimento. Eu só gostaria de poupar outras mães, famílias e amigos desta dor.”, adiantou Makins relativamente à sua perda.

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