Cocó e xixi de cão contaminam solos com superfertilização de nitrogénio e fósforo

7 fev 2022, 10:22
Passeios com cães na China

As zonas verdes de Gent, na Bélgica, foram o palco do estudo, mas os cientistas acreditam que a situação é igual no resto da Europa

As fezes e a urina dos cães estão a contaminar os solos na natureza e podem ameaçar a vida selvagem, defende um estudo belga publicado na revista científica Ecological Solutions and Evidence.

O nível de contaminação é, inclusive, comparado ao registado na agricultura, na indústria ou na poluição automóvel, responsável pela produção de 5 a 25 quilos de nitrogénio: durante os passeios, os cães deixam para trás uma média anual de 11 quilos de nitrogénio por hectare e cinco quilos de fósforo, calculam os cientistas no seu trabalho Nutrient fertilization by dogs in peri-urban ecosystems (Fertilização de nutrientes por cães em ecossistemas periurbanos, na tradução literal).

O volume destes dejetos pode mesmo ultrapassar os níveis considerados legais na agricultura, sublinha a investigação.

As zonas verdes de Gent, na Bélgica, foram o palco do estudo, mas os cientistas acreditam que a situação é igual no resto da Europa, onde há cerca de 87 milhões de cães. Ao longo de 18 meses, foram contabilizados os passeios em quatro espaços verdes nos arredores daquela cidade portuária. 

"Ficámos surpreendidos com o quão altos podem ser os nutrientes dos cães. Os dados do nitrogénio atmosférico na agricultura, indústria e tráfego recebem, com razão, muita atenção política, mas os cães são totalmente negligenciados a este respeito", afirma o professor Pieter de Frenne, da Universidade de Gent, que liderou a investigação.

E uma vez que estes ecossistemas são pobres em nutrientes, a superfertilização com nitrogénio e fósforo reduz a biodiversidade, permitindo que plantas como urtigas e erva-cidreira expulsem outras que são necessárias para a vida daqueles ambientes.

"Estes níveis são bastante surpreendentes, pois o nosso estudo diz respeito a reservas naturais. É claro que há muitos efeitos benéficos [em caminhadas na natureza], tanto física como psicologicamente, para os donos e seus cães, mas a desvantagem é trazer quantidades significativas de nutrientes”, observa o investigador.

Os cálculos tiveram em conta mais de 1.600 cães durante 500 passeios na natureza, em qualquer dia ou hora da semana, num espaço de dois metros para cada lado ao longo dos trilhos. Estes dados foram combinados com os níveis conhecidos de nitrogénio e fósforo expelido por estes animais para estimar o total de nutrientes depositados nos solos. Foram também identificados os cães que passeavam com ou sem trela, uma vez que os níveis de depósitos de nitrogénio e fósforo aumentaram substancialmente de 126 para 175 kg/ha anuais nos cães que passeavam com trela.

E os cientistas lembram que mesmo que os donos apanhem o cocó dos seus cães, removendo quase todo o fósforo, não poderão fazê-lo com o xixi, sendo que a urina contém níveis significativos de nitrogénio mas pouco fósforo.

"É importante que os donos de cães estejam conscientes deste efeito da fertilização", defende ainda Pieter de Frenne.

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