Os EUA detetaram um aumento da atividade militar russa em torno de importantes cabos submarinos, e acredita que a Rússia pode agora estar mais perto de levar a cabo potenciais operações de sabotagem destinadas a desativar uma peça crítica da infraestrutura mundial de comunicações, afirmaram dois altos funcionários do governo americano à CNN Internacional.
A Rússia tem vindo a dar cada vez mais ênfase à criação de uma unidade militar específica, que utiliza uma formidável frota de navios de superfície, submarinos e drones navais, de acordo com uma das fontes. A unidade, a “Direção Principal do Estado-Maior para a Investigação do Mar Profundo”, é conhecida pelo seu acrónimo russo GUGI.
“Estamos preocupados com o aumento da atividade naval russa em todo o mundo e com o facto de o cálculo da decisão da Rússia de danificar as infraestruturas submarinas críticas dos EUA e dos aliados poder estar a mudar”, disse um alto funcionário à CNN Internacional. “A Rússia continua a desenvolver capacidades navais para sabotagem submarina, principalmente através da GUGI, uma unidade bem protegida que opera navios de superfície, submarinos e drones navais.”
Os EUA seguem regularmente os navios russos que circulam perto de infraestruturas marítimas críticas e de cabos submarinos, muitas vezes longe da costa russa, disse o responsável. A preocupação dos EUA com as operações submarinas da unidade secreta russa não foi relatada anteriormente. A CNN Internacional solicitou comentários ao Ministério da Defesa russo.
Os cabos submarinos constituem uma espinha dorsal fundamental para o tráfego da Internet e das telecomunicações em todo o mundo. A maior parte das comunicações e do tráfego de Internet viaja através de uma vasta rede de cabos de fibra ótica de alta velocidade instalados ao longo do fundo do oceano. Um ataque coordenado poderia perturbar significativamente as comunicações privadas, governamentais e militares, bem como as indústrias que dependem dessas comunicações, incluindo os mercados financeiros e os fornecedores de energia.
Os cabos submarinos transportam também grandes quantidades de eletricidade entre vários países europeus.
Os EUA e os seus aliados monitorizam de perto a atividade naval russa perto dos principais cabos submarinos em todo o mundo. Comandantes a bordo de um navio de patrulha da NATO em abril de 2023 disseram à CNN Internacional que tinham testemunhado um aumento dessa atividade no Mar Báltico nos últimos anos.
Os mares do Norte da Europa são um foco dessa atividade militar russa. No ano passado, uma investigação conjunta dos organismos públicos de radiodifusão da Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia revelou que a Rússia tem uma frota de navios espiões suspeitos a operar nas águas do Norte da Europa para potencial sabotagem de cabos submarinos e parques eólicos.
Recorrendo à análise de dados, a comunicações de rádio intercetadas e a fontes de informação, as emissoras seguiram durante vários anos cerca de cinquenta navios que operavam na zona, utilizando a vigilância subaquática para mapear locais de potenciais ataques.
As forças taiwanesas e norte-americanas têm assistido a uma atividade semelhante por parte da marinha chinesa nas águas em torno de Taiwan, como eu (Jim Sciutto) relatei em “O Regresso das Grandes Potências”, em março. “A atividade parece ser um assédio direcionado por parte de Pequim - ou um exercício de preparação para isolar toda a ilha de Taiwan”, escreveu Elisabeth Braw na revista Foreign Policy em fevereiro de 2023.
A ameaçadora atividade russa não foi interrompida pela sua guerra contra a Ucrânia. As lideranças russas dão grande valor à GUGI, disse uma fonte do governo americano à CNN Internacional, e continuam a financiar a unidade mesmo estando a combater contra a Ucrânia.
Um responsável americano disse à CNN Internacional que os EUA considerariam qualquer ato de sabotagem contra infraestruturas submarinas como uma escalada significativa da agressão russa fora da Ucrânia.
“Quaisquer atividades que danifiquem infraestruturas no fundo do mar, incluindo cabos submarinos especialmente durante períodos de elevada tensão, podem levar a mal-entendidos e perceções erradas que podem conduzir a uma escalada não intencional”, disse o alto funcionário. “Os EUA estariam especialmente preocupados com os danos causados às nossas infraestruturas submarinas ou às dos nossos aliados”.