Fabricante chinês encontrou na Hungria um forte aliado para contrariar as taxas impostas pela União Europeia aos veículos chineses
A guerra comercial entre o ocidente e a China continua a subir de nível. No último mês, a União Europeia impôs um imposto alfandegário a vários produtores de automóveis chineses, de forma a combater aquilo que diz ser a concorrência desleal dos pesados apoios que o governo chinês dá aos fabricantes. A BYD, um dos principais construtores, encontrou uma forma de contornar as tarifas ao abrir fábricas na Hungria e os representantes do setor na Europa mostram-se preocupados que não fique por aqui.
“Olhamos para isto com preocupação. Temos um excesso de capacidade de produção de veículos. O mercado não está a absorver toda a produção e poderemos continuar a ver fabricantes chineses a entrar na Europa de forma a manter a pressão na Europa”, alerta José Couto, presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), em declarações à CNN Portugal.
Stella Li, vice-presidente da BYD, esteve em Portugal para inaugurar um novo concessionário em Lisboa, numa parceria com a Salvador Caetano, onde revelou a estratégia da marca para escapar às taxas alfandegárias impostas pela União Europeia. “Não me preocupa. Porque a BYD já vai começar a produzir na Hungria. A nossa produção começa em setembro do próximo ano. Porque a BYD é uma empresa de longo prazo, uma visionária. Já decidimos fabricar na Europa, vamos investir mais na Europa, tornando-nos num dos fabricantes locais europeus”, afirmou em entrevista ao Jornal de Negócios.
A União Europeia impôs um imposto alfandegário de 17,4% à BYD por, juntamente com outras fabricantes chinesas, receber subsídios estatais milionários que permitem aos produtores vender carros a preços artificialmente baixos. A solução encontrada pela BYD, ao produzir dentro do mercado europeu na Hungria de Viktor Órban, permite contornar esta tarifa e continuar a vender carros bem abaixo do preço.
Só que os produtores europeus mostram-se preocupados com o facto de o dinheiro público chinês poder ser encontrado um pouco por toda a cadeia produtiva e não só na construção. O presidente da AFIA acredita que outras indústrias que alimentam o setor automóvel chinês – como a extração de matérias-primas, a produção de baterias e até o próprio transporte de produtos, são subsidiados pelo governo chinês e permitem continuar a oferecer aos consumidores preços mais baixos.
“Hungria oferece condições interessantes. Contudo, achamos que a produção será feita com componentes da China, o que faz com que os preços sejam muito mais baixos. Acredito que haverá uma ajuda do estado chinês à produção desses componentes e à sua exportação”, refere José Couto.
E os efeitos da competição chinesa na Europa podem ter impactos “devastadores” num setor que representa 7% do PIB europeu e emprega mais de 13 milhões de pessoas, de acordo com a European Automobile Manufacturers Association. E os impactos neste setor já se estão a sentir. No início de setembro, a Volkswagen abriu a possibilidade de encerrar fábricas na Alemanha para reduzir os custos em vários milhares de milhões de euros. A acontecer, será a primeira vez que o fabricante alemão o faz desde que começou, há 87 anos.
“O problema é reconhecido por todos e a Europa tem de reagir e reagir de forma rápida para poder conter esta crise na indústria automóvel, que tem uma importância no PIB europeu muito relevante e afeta muitas empresas. É uma situação de profunda crise”, destaca.