Sente-se esmagado ou com falta de produtividade no trabalho? Como dizer não: dicas sobre como definir limites

CNN , Upasna Gautam
31 dez 2022, 11:00
Burn out esgotamento solidão saúde mental depressão GettyImages

Entrevista com a terapeuta Nedra Glover Tawwab, que ajuda a iluminar escolhas para que as pessoas possam recuperar o controlo das suas vidas, estabelecer limites saudáveis e desfrutar de relações gratificantes.

Num mundo onde as pessoas lutam com ansiedade, depressão e esgotamento, a terapeuta Nedra Glover Tawwab traz algumas soluções.

Estabelecer limites com os outros pode ajudar a afastar algumas destas questões, diz Tawwab, autora do livro "Set Boundaries, Find Peace: A Guide to Reclaiming Yourself" [à letra: “Definir fronteiras: Um Guia para Recuperar-se a Si Próprio”). Mas o aumento da pressão durante a pandemia para desempenhar múltiplas tarefas no trabalho e em casa tornou a definição de fronteiras ainda mais difícil, observa, forçando as pessoas a reavaliarem as suas vidas e a aprenderem a dizer não.

"A vida está cheia de escolhas e penso em limites como escolhas", diz. "As pessoas quererão sempre que você faça alguma coisa. Se fizermos sempre o que as pessoas querem que façamos, estaremos muito ocupados".

Em conversa com a CNN, Tawwab ajuda a iluminar escolhas para que as pessoas possam recuperar o controlo das suas vidas, estabelecer limites saudáveis e desfrutar de relações gratificantes.

CNN: Que relação viu entre o burnout [esgotamento] pandémico e o local de trabalho, e a definição de fronteiras?
Tawwab: Muitos já estávamos esgotados e a pandemia apenas nos levou até esse ponto. Isto fez-nos avaliar os fatores que estavam a levar ao esgotamento. Para muitos de nós, foi o trabalho e as relações pouco saudáveis em que nos encontrávamos. A pandemia sublinhou algo que já existia.

Como pensa que estes fatores contribuíram para a "Grande Resignação" [termo usado para cunhar o movimento de muitos americanos que abandonaram os seus empregos durante a pandemia]?
No início da pandemia, muitos fomos colocados em situações que nunca poderíamos ter imaginado. Sabemos agora que a vida pode ser flexível, sabemos que podemos gerir múltiplos papéis. As pessoas estão a tentar descobrir como podem ganhar a vida sem fazer disso a sua vida inteira. Estamos num estado de reavaliação do que parece importante. Pode não valer a pena passarmos por coisas com as quais estamos a lidar no trabalho.

Para alguém que nunca estabeleceu limites, mas que sabe que é necessária uma mudança, por onde se começa?
Comece pelos seus sentimentos. Onde está a sentir-se frustrado ou ressentido? Quando esses sentimentos surgem, o que está a fazer em resposta? Está a tolerá-lo, ou está a tentar fazer a diferença na sua vida? Será útil se começar a fazer a diferença, dizendo: "Este é um espaço onde preciso de dizer não".

Precisamos de criar espaços onde as pessoas possam concentrar-se no que precisam sem estarem sobrecarregadas com tarefas.

Porque é tão difícil para as pessoas dizerem não?
Não se trata de estar sempre em conformidade com tudo o que alguém lhe pede. Por vezes, é preciso adiar, por vezes temos perguntas a fazer, outras vezes precisamos de apoio. É preciso descobrir como equilibrar a energia entre querer ser apreciado e querer ser um bom trabalhador.

Como se consegue esse equilíbrio e como se sabe de que lado se deve estar?
Reconheça a sua capacidade. Quando é que fica ansioso ou frustrado por fazer coisas? Quando é que começa a notar a sua mudança de humor com os seus colegas de trabalho, ou entes queridos, porque está irritado? Procure saber o que sente quando lhe é pedido para fazer outro projeto. Em que é que pensa? Está a ficar ansioso? Tem tempo para encaixar isto? Está a começar a ter uma reação física ao assumir demasiadas coisas? É aí que se aprende a colocar um limite.

No seu trabalho como terapeuta, tem observado nos últimos anos correlações entre o aumento da ansiedade, a falta de limites e o stress no local de trabalho?
A ansiedade no local de trabalho aparece sob a forma de um abrandamento involuntário. Você torna-se mais laxista nas suas funções de uma forma não intencional. Você fica mais parado, preocupa-se com acabar as coisas, ou ansioso sobre o que aquela pessoa poderá sentir se você disser não. Há ansiedade em torno da forma como pode terminar os seus deveres no trabalho. Tenho visto isso aparecer como um abrandamento, e uma falta de vontade e de determinação.

Que orientação tem para as pessoas que sabem que precisam de ter uma conversa difícil?
As pessoas já disseram não antes, e penso que o nosso cérebro nos prega partidas. Você de facto sabe como dizer não a algumas coisas, mas não sabe como dizer não a tudo. Há outras áreas na vida em que diz não - o que o faz sentir confortável nesses espaços? E o que o faz sentir-se desconfortável nestes espaços? Temos de passar através do "Porque é que eu penso que isto vai sair pela culatra? Porque é que eu penso que isto não vai ser bem recebido?” Muitas vezes, é uma narrativa que estamos a contar a nós próprios e raramente é a verdade.

E as conversas sensíveis em que os riscos são maiores? Por exemplo, com um chefe, um pai ou um sogro.
Comece pela vulnerabilidade. Pode ser útil dizer às pessoas: "Pela minha saúde mental, não posso comprometer-me a fazer esta coisa a mais porque já estou muito esticado". Use palavras para descrever o que é a saúde mental. O que poderá estar a passar é ansiedade ou poderá sentir-se esmagado, e poderá dizer: "Estou sobrecarregado com tarefas. Sinto-me muito frustrado porque não consigo encontrar as palavras certas para dizer não. Por isso, quando me desafia, faz-me sentir como se não fosse seguro dizer não".

E se essa pessoa pensar que está a ser desrespeitoso ou rude? Como se navega através dessa conversa?
Penso muito na família em relação a isto. Explique que compreende que provavelmente foi diferente com os seus pais e liste as coisas que têm em comum: "Acreditamos no amor, na comunidade, numa ligação, na união. Acredito que não há problema em eu ter uma diferença de opinião. Isso não significa que não acredite no amor, na comunidade, numa ligação, na união. Significa que a minha opinião sobre algumas coisas é diferente, mas continuo a amar a família, mesmo que esteja a tentar ter algumas coisas que são diferentes para mim".

Durante os últimos dois anos, as pessoas começaram a aprender sobre coisas que as fazem trabalhar e viver melhor. Para aqueles que são autossuficientes, que dicas tem para que possam refrear um potencial esgotamento?
Conduzimos a maioria dos carros no intervalo de zero a talvez 130, e a maioria em torno de 60 a 90 quilómetros/hora no velocímetro. Não se pode existir a 130, e não se pode existir a zero. Muitos de nós tentaremos existir a esse número mais elevado, e é como se estivéssemos a acelerar na vida.

Você estará a perder todos os momentos importantes porque não é capaz de abrandar. Há algo de importante em escolher por vezes a estrada mais cénica, porque a vida é para ser desfrutada. A desaceleração intencional é importante. Precisamos de praticar sermos menos produtivos e descobrirmos como descansar.

Durante os últimos dois anos, teve de definir novos limites ou quebrar velhos?
Tenho vindo a praticar limites intencionais sobre a forma como distribuo o tempo.

Por vezes, na nossa corrida para estarmos ocupados e sermos produtivos, estamos só a dizer que sim. Por vezes um sim hoje é também um sim futuro - por isso penso: "Será que isto vai prolongar-se pelo Natal dentro? Então, deixem-me dizer não já. Porque sei que não estarei disponível".

* artigo originalmente publicado a 12 de agosto de 2022

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