"Já não dormia, fiquei sem sangue". "Maria" foi perseguida durante um ano e apanhou a surpresa da vida quando descobriu o responsável

12 jul 2024, 21:00

Foram centenas de chamadas, centenas de emails, muitos deles relacionados com websites pornográficos ou de encontros

Uma portuguesa foi perseguida durante um ano, recebeu milhares de emails indevidos e viu todos os seus dados, incluindo a própria fotografia, expostos em websites pornográficos.

O pesadelo de “Maria” (nome fictício) só terminou depois da intervenção da Polícia Judiciária (PJ), que acabou por revelar a identidade do autor dos crimes, deixando a vítima completamente surpreendida.

“Comecei a receber muitos emails, o assunto era explícito, as chamadas continuavam, eram centenas de interações. Já não dormia, não estava descansada”, conta ao Exclusivo, da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), a mulher, entre lágrimas.

A situação já era má quando começou, em janeiro de 2021, mas agravou-se: “Evoluiu para sites de pornografia e sexo e a partir daí foi em crescendo”, explica, lamentando a ausência de resposta das autoridades, até porque via o email, o número de telemóvel e a fotografia espalhados pela Internet.

Chamada pela PJ para uma atualização do caso, “Maria” ficou “sem sangue, sem chão, sem nada” quando lhe revelaram quem estava por detrás de tudo. Tanto nos telemóveis privado como de serviço começou a receber cerca de 40 chamadas de várias empresas, entre as quais EDP, Iberdrola, etc., empresas que a mulher nunca tinha contactado.

“Há um dia em que recebo um email de uma empresa que me queria fornecer uma máquina de água ou de café, e aí senti-me completamente invadida, que estavam a invadir o meu espaço vital, porque queriam vir à minha casa”, descreve, confessando o terror pela possibilidade do acesso à sua morada.

Foi então que decidiu ligar a uma das empresas que a contactavam incessantemente. Descobriu aí que tinha sido preenchido um formulário com os seus dados, num documento escrito em espanhol.

Começou então a pedir esse mesmo formulário a todas as empresas, na tentativa de perceber a origem de tudo. Ainda apresentou queixa na PSP, mas as chamadas e até consultas médicas não pararam. E aí tudo piorou.

“Entro na caixa de spam e sou confrontada com emails de sites de encontros com perfis criados em meu nome”, revela, explicando que o seu utilizador continha palavras ofensivas.

“Comecei a ficar apavorada”, continua, mas ainda não foi aí que descobriu quem estava, afinal, por detrás de tudo.

Os convites continuavam: para encontros sexuais, para filmes pornográficos e conteúdos do género.

O ponto de rutura foi um email de uma funerária – “alguém deseja a minha morte – e aí apresentou queixa na PJ na secção de Cibercrime. A investigação decorria, mas os meses passavam, sempre com os contactos indevidos presentes.

Em janeiro de 2022, um ano depois de tudo começar, há novas pistas: “Maria” é chamada para identificar o autor e conheceu-o automaticamente. “Apresenta-se a imagem de um homem… era o meu gestor bancário”, conta, referindo-se ao seu gestor no banco Millenium BCP, “António” (nome fictício), que foi recomendado pela agência imobiliária a quem a mulher tinha comprado a casa.

“Isto é de alguém que deseja muito mal”, sublinha, revelando que ligou de imediato ao gestor, que lhe garantiu estar “muito envergonhado” e que tudo foi feito por “ciúmes”.

Os ciúmes eram, não do gestor do banco, mas da sua companheira, “Lúcia” (nome fictício), que tinha grandes conhecimentos de dark web. A PJ acabou por conseguir chegar à origem de tudo através do IP utilizado pela autora de tudo.

O gestor contou às autoridades que a companheira é “bastante desconfiada, ciumenta e possessiva”, o que ativou o gatilho da PJ para desvendar tudo. A suspeita começou por negar tudo, depois confessou: “Sei do que se trata, e sou eu”.

A justificação, essa, surgiu com base em conversas ouvidas entre o companheiro e “Maria”, algumas delas com caráter pessoal, segundo a suspeita. Mas a vítima nega esse cenário, enquanto a autora dos crimes confessou tudo, ao mesmo tempo que ilibou o companheiro.

“Lúcia” acabou por mostrar arrependimento, mas foi condenada por três crimes: perseguição, falsidade informática e devassa da vida privada, numa condenação que resultou em 21 meses de pena suspensa e ao pagamento de 10 mil euros a “Maria”.

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