opinião
Analista de Segurança e Defesa
A ARTE DA GUERRA

Interferência Política no BOPE: O Preço da "Resposta Rápida"

16 jun, 21:28

A recente exoneração do Coronel André Luiz de Souza Batista, do Comando de Operações Especiais, e do Coronel Aristheu de Góes Lopes, comandante do BOPE, após a trágica operação no Morro Santo Amaro, expõe uma grave questão: a perigosa inclinação do Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em ceder priorizar decisões políticas sobre as forças de segurança.

A hierarquia e a disciplina são alicerces inabaláveis de qualquer corporação militar ou policial. A prestação de contas é um dever inerente à função de comando, e a convocação para explicações é uma realidade constante. No caso de Santo Amaro, contudo, a celeridade das decisões levanta sérios questionamentos sobre as verdadeiras motivações por trás do afastamento desses oficiais.

A operação, inoportuna, no Morro Santo Amaro, comandada por um tenente do BOPE, culminou em um desfecho lamentável: a morte de um jovem, atingido por um tiro na cabeça durante uma festa junina, e outros sete feridos. Este cenário, em um evento de congraçamento popular, gerou compreensível comoção e revolta, caracterizando a operação como profundamente negativa. É crucial ressaltar, contudo, que no complexo e violento ambiente de confrontos urbanos do Rio de Janeiro, a ação criminosa de atirar contra a população durante operações policiais é uma sórdida tática comum utilizada por criminosos. Mais importante ainda: nenhuma perícia confirmou até agora que as vítimas foram atingidas especificamente por disparos efetuados por armas dos policiais do BOPE.

Diante da intensa repercussão midiática, o Secretário da Polícia Militar alegou que o BOPE "não respeitou protocolos" – normas da antiga Secretaria de Segurança, muitas delas consideradas defasadas frente à letalidade do cenário do crime carioca. A decisão imediata de afastar dois oficiais de alta patente – o Coronel Batista e o Coronel Aristeu, reconhecido por muitos como um dos melhores "caveiras" em atividade, ambos com anos de dedicação e vasta experiência –, revela uma busca apressada por uma "resposta rápida" à opinião pública.

Normalmente, o afastamento de comandantes com tal trajetória sólida deveria ser o desfecho de uma apuração rigorosa e transparente que demonstrasse cabalmente a responsabilidade individual. Contudo, a urgência em "silenciar a opinião pública através de exonerações" parece ter atropelado o devido processo. A máxima "o comandante do navio afunda com o barco", quando aplicada sem a devida investigação, torna-se uma justificativa infeliz, que desconsidera a história e o profissionalismo de combatentes em nome de um custo político.

É aqui que a honra e a coragem moral dos Coronéis Batista e Aristeu se evidenciam. Ao aceitarem as exonerações sem um clamor público por defesa individual imediata, eles fizeram jus a uma conhecida máxima das operações especiais: "FORÇA & HONRA!". Assumiram a responsabilidade inerente ao comando, uma postura de lealdade à instituição, mesmo diante de uma decisão que, para muitos, foi essencialmente política. Essa atitude contrasta de forma contundente com a decisão do Comandante-Geral da Polícia Militar, que preferiu adotar uma via política, abdicando de uma apuração mais aprofundada em nome da gestão de crises e da imagem imediata.

A verdadeira honra militar não reside em sacrifícios sumários para aplacar a insatisfação popular, mas na integridade de um processo que apure responsabilidades com justiça, permitindo que os profissionais que atuam na linha de frente tenham segurança jurídica para cumprir suas missões sem o temor de serem descartados por demandas políticas imediatas. A coragem moral de um comandante se manifesta não apenas no campo de batalha, mas também na capacidade de resistir à pressão e exigir uma investigação profunda antes de tomar decisões drásticas que possam desmoralizar toda uma corporação.

É fundamental que, se demonstrada a responsabilidade, haja a punição adequada. Mas o caminho para essa conclusão deve ser a apuração rigorosa e imparcial, e não a mera conveniência política. Afastar comandantes experientes sem a devida transparência na investigação não fortalece a segurança pública; ao contrário, pode minar a moral da tropa e criar um precedente perigoso, onde o custo político de uma operação é pago com a carreira de homens dedicados, sem a garantia de um processo justo e transparente.

 

Colunistas

Mais Colunistas
IOL Footer MIN