Lula da Silva: "Defendemos uma decisão política negociada para o conflito" na Ucrânia

CNN Portugal , MJC
22 abr 2023, 13:11

Após o encontro com Marcelo Rebelo de Sousa, Lula da Silva esclareceu as dúvidas sobre a posição do Brasil em relação à guerra na Ucrânia: "Faz que tempo que nós condenámos a Rússia pela ocupação e por ferir a integridade territorial da Ucrânia", mas "é melhor encontrar uma saída em torno de uma mesa, do que continuar a tentar encontrar uma solução no campo de batalha"

"Ao mesmo tempo que defendemos a integridade territoral da Ucrânia,  defendemos uma decisão política negociada para o conflito. Precisamos criar ugentemente um grupo de países que tente sentar-se à mesa, tanto com a Ucrânia como com a Rússia para encontrar a paz", defendeu o presidente brasileiro, Lula da Silva, na conferência de imprensa após o encontro com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. 

"Faz tempo que nós condenámos a Rússia pela ocupação e por ferir a integridade territorial da Ucrânia, isso logo nos primeiros dias, e temos voto na ONU fazendo críticas à ocupação. Entretanto, nós não somos favoráveis à guerra, queremos a paz. O Brasil está tentando, já há alguns dias, encontrar um jeito de estabelecer a paz entre a Rússia e a Ucrânia. O Brasil não quer participar na guerra, quer encontrar um gruipo de pessoas que se disponha a gastar um pouco do seu tempo conversando com todas as pessoas que pregam pela paz a fazer a paz", afirmou Lula da Silva. "Tenho a certeza que será infinitamente melhor para o mundo se a gente encontrar uma forma de fazer paz. Acredito nisso. Nasci na minha vida política negociando, negociando situaçõe smuito difícieis para o mundo sindical. E sempre acreditei que era possível encontrar uma solução. E acho que nesta guerra da Rússia e da Ucrânia é possível encontrar uma solução, mas é possível que os dois países confiem na interlocução, que pode ser de fora, mas que pode ajudar a construir o fim dessa guerra."

"É melhor encontrar uma saída em torno de uma mesa, do que continuar a tentar encontrar uma solução no campo de batalha", concluiu o líder brasileiro. "Se você não fala de paz, você contribui para a guerra."

Esta foi a resposta de Lula às palavras de Marcelo que, na sua intervenção, tinha lembrando as várias alianças multilaterais entre também. no palco europeu, "desde logo na Ucrânia, invadida pela Federação Russa, paz que supõe, nos termos da resolução da ONU, assinada por Portugal e pelo Brasil, a disponibilidade para a retirada imediata da Rússia do território ucraniano", lembrou o presidente português.

"Eu nunca igualei os dois países porque sei o que é invasão e sei o que é integridade territorial e todos nós achamos que a Rússia errou, mas agora é preciso parar a guerra." Para isso é preciso pôr os dois países à mesa, disse. Lula da Silva afirmou que compreende o papel da Europa, sobretudo pela proximidade geográfica com a Ucrânia: "Mas quero que as pessoas compreendam o papel do Brasil", disse, recordando que, em 2022, disse ao presidente Bush que a "sua" guerra não era a do Iraque: "A minha guerra era contra a fome no Brasil. E conseguimos vencer a guerra. Agora há 33 milhões de pessoas com fome outra vez no Brasil e a minha guerra outra vez é combater a fome, e paralelamente é tentar construir um jeito de o mundo viver em paz porque a guerra não constrói absolutamente nada, a guerra só destrói."

O presidente brasileiro assegurou ainda que só tenciona visitar a Rússia nem a Ucrânia quando houver "efetivamente um clima de construção de paz".

O diálogo entre Portugal e Brasil tem de ser "mais ousado, mais desaforado"

Dirigindo-se ao seu "querido amigo presidente Marcelo, Lula da Silva sublinhou a importância da parceria entre Portugal e Brasil: "Muitas vezes nós pecamos porque conversamos pouco", diz o presidente brasileiro. A amizade entre os dois países é tão antiga e tão segura que, às vezes, os responsáveis políticos pensam que já não é preciso conversar: "Mas precisamos", sublinhou Lula. "O papel de um presidente da República é abrir a porta, mas quem tem competência para fazer negócios são os empresários". Por isso, é importante "juntar os empresários em todas as nossas reuniões, para gerar emprego, gerar crescimento económico e melhorar as condições do nosso povo".

"Penso que Portugal e Brasil têm um potencial extraordinário para dobrar o nosso fluxo de comércio no exterior", mas, para isso é preciso que  o diálogo "seja mais ousado, mais desaforado, que tanto os nossos empresários quanto os nossos ministros conversem mais, discutam mais, projetem perspetivas de futuro, no financiamento de nossas indústria e na produção de nosso produtos", disse. 

Tanto Lula quanto Marcelo sublinharam a importância de retomar o diálogo entre os dois países, que tinha sido interrompido com a presidência de Jair Bolsonaro. Esta é a sexta vez que Lula da Silva visita Portugal, mas esta visita é especial por "marcar o relançamento da nosso diálogo bilateral", disse, sublinhando que pretende "discutir iniciativas para ampliar as nossas relações económicas e comerciais e para dinamizar atividades culturais e de cooperação educacional".

O presidente português saudou o Brasil por estar "a regressar a um maior papel no palco mundial", "não se fechando sobre si mesmo". E sublinhou os muitos acordos e parcerias, entre outros, ao nível da CPLP, da União Europeia e do Mercosul. "É tempo do futuro", disse Marcelo. "De olhar para a frente, de alargar mais e mais horizontes. Que a acolhida calorosa que vos damos seja do tamanho desse mundo de afetos de 200 anos."

A amizade entre os dois países foi também o ponto de partida da intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa ao dar as boas vindas a Lula da Silva e à sua comitiva: "Sejam bem-vindos a esta pátria-irmã que já acolheu Lula da Silda seis vezes, assim reatando uma tradição de outros tempos entre os nossos dois povos", disse Marcelo, lembrando as palavras de um outro presidente, Cavaco Silva, quando recebeu Lula da Silva e disse que ele era "uma das grandes figuras do nosso tempo e um grande amigo de Portugal", afirmando ainda que "o seu percurso é o da coragem perante as adversidades".

"Sejam bem-vindo a esta pátria que dando deve a centenas de milhares de cidadãos brasileiros", disse Marcelo referindo-se aos quase 300 mil imigrantes brasileiros em Portugal. Lula da Silva concordou: "Se é verdade que em 1500 os portugueses descobriram o Brasil, neste século XXI os brasileiros descobriram Portugal", dissem sublinhando que "não são só pobres, temos muita gente rica, classe média alta e profissionais liberais têm casa e trabalho em Portugal", sublinhou.

No final da sua intervenção, Lula da Silva fez ainda referência à urgência de o português ser reconhecido como língua oficial na ONU.

Encontros com Marcelo e Costa no primeiro dia da visita oficial

Marcelo recebeu esta manhã o seu homólogo brasileiro no primeiro dia de agenda pública de Lula da Silva em Portugal, com honras militares na Praça do Império. Depois o presidente brasileiro depôs uma coroa de flores no túmulo de Luís de Camões, no Mosteiro dos Jerónimos.

À tarde, o chefe de Estado e de Governo do Brasil seguirá para o Centro Cultural de Belém onde irá presidir, em conjunto com o primeiro-ministro português, António Costa, a uma cimeira entre os dois países após um interregno de sete anos, com pelo menos 13 acordos bilaterais para assinar.

Os dois chefes de Governo irão assinar "pelo menos 13 documentos, incluindo cooperação entre as agências espaciais do Brasil e de Portugal, entre as agências de cinema dos dois países para produção audiovisual, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com diversos ministérios de Portugal e para equivalência de estudos nos níveis fundamental e médio, entre outros”, indicou o Governo brasileiro.

“A viagem faz parte do relançamento das relações diplomáticas do Brasil com seus principais parceiros, como já foi o caso da visita à China, há 10 dias, e aos Estados Unidos, Argentina e Uruguai nesse início de governo”, indicou a presidência brasileira, em comunicado.

Acompanham a comitiva do Presidente brasileiro, os ministros das Relações Exteriores, Defesa, Educação, Cultura, Saúde, Igualdade Racial, Direitos Humanos, Ciência, Tecnologia e Inovação, além do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República.

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