Camionistas brasileiros bloqueiam mais de 230 estradas à espera que Bolsonaro quebre o silêncio

Agência Lusa , NM
1 nov 2022, 00:38
Camionistas em protesto no Brasil

Número de vias interditas tem vindo a multiplicar-se desde que a declaração da eleição de Lula da Silva foi efetuada

Camionistas apoiantes de Jair Bolsonaro, em protesto pelo resultado das eleições, mantiveram mais de 230 estradas bloqueadas um pouco por todo o país, enquanto esperam por um pronunciamento de Jair Bolsonaro, em silêncio há mais de 24 horas.

Bloqueios e interdições de estradas em pelo menos 20 dos 27 estados do país, que não eram mais de uma dúzia na noite de domingo após a declaração da eleição de Lula da Silva, tinham subido para cerca de 70 ao meio-dia de segunda-feira e mais do triplo até ao final do dia, de acordo com estatísticas da Polícia Rodoviária Federal.

A Esplanada dos Ministérios em Brasília, espaço que concentra as sedes dos três poderes do Brasil, encontra-se encerrada de forma a impedir a invasão de camionistas apoiantes de Jair Bolsonaro, que estão em protesto pelo resultado das eleições.

Os manifestantes, que bloquearam as estradas com os seus camiões ou queimaram pneus, protestaram contra a vitória eleitoral de Lula da Silva e alguns apelam a uma "intervenção" das forças armadas a favor de Bolsonaro.

O Ministério Público do Brasil exigiu informações à Polícia Rodoviária Federal sobre as medidas tomadas para desobstruir as estradas e advertiu que poderia abrir investigações por omissão contra os agentes da agência que se recusassem a desbloquear as estradas.

Este mesmo ramo da polícia já tinha sido acusado pela campanha de Lula da Silva de no domingo de ter promovido operações stop, principalmente no interior da região do Nordeste (um bastião de votos de Lula da Silva), de forma a impedir eleitores de votar.

A Procuradoria-Geral da República, numa declaração dirigida ao diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques (apoiante confesso de Jair Bolsonaro) exigiu que, no prazo de 24 horas, detalhasse as medidas que tomou para assegurar a livre circulação nas estradas, indicasse onde detetou bloqueios e enumerasse as ações tomadas em cada um destes pontos de manifestação.

Entretanto a Justiça Federal do Rio Janeiro determinou que a Polícia Rodoviária Federal liberte as via bloqueadas no estado por parte dos camionistas  que não aceitam a vitória de Lula da Silva.

A Polícia Rodoviária, que é responsável por assegurar a livre circulação nas estradas, não tomou até agora qualquer medida para remover os camiões bloqueados e alega que está à espera que a Procuradoria-Geral do Governo peça aos tribunais uma ordem para remover os manifestantes.

Em vídeos partilhados nas redes sociais é possível ouvir agentes policiais a garantir aos manifestantes que não estão ali para parar os protestos.

Este protesto, inorgânico e sem líder, já foi condenado por proeminentes apoiantes de Bolsonaro ligados ao agronegócio e à industria de transportes, como a Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA).

“Fazemos um apelo para que as rodovias sejam liberadas para cargas vivas, ração, ambulâncias e outros produtos de primeira necessidade e/ou perecíveis”, indicou, em comunicado, a FPA.

Entre as estradas bloqueadas com os próprios camiões ou com pneus queimados encontrava-se a Via Dutra, a estrada que liga o Rio de Janeiro a São Paulo, que é a estrada com maior volume de tráfego no Brasil.

A presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, responsabilizou o chefe de Estado brasileiro e disse que Bolsonaro está a orientar "o caos no país".

"Mandando empresários do transporte e gente do agronegócio trancar rodovias, com objetivo político de questionar eleição e ele poder agir pela Lei e Ordem. A preocupação com o povo e a economia do país é zero. É tudo pelo poder. Vergonhoso", escreveu no Twitter.

O chefe de Estado e candidato derrotado, Jair Bolsonaro ainda não telefonou a Lula da Silva para o felicitar, nem fez qualquer declaração pública desde que o resultado das eleições de domingo foi anunciado.

Bolsonaro esteve esta segunda-feira reunido no Palácio do Planalto com vários ministros do seu Governo, mas até agora ainda não lançou qualquer informação sobre quando falará sobre as eleições presidenciais.

Com 100% dos votos contados, Luiz Inácio Lula da Silva ganhou as eleições presidenciais de domingo por uma margem estreita, recebendo 50,9% dos votos, contra 49,1% para Jair Bolsonaro, que procurava um novo mandato de quatro anos.

Lula da Silva assumirá novamente a presidência do Brasil em 01 de janeiro de 2023 para um terceiro mandato, após ter governado o país entre 2003 e 2010.

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