Uma favela, 25 mortos, "horas de horror": o que se sabe sobre o sucedido em Vila Cruzeiro, a segunda operação mais mortífera no Rio de Janeiro

25 mai 2022, 17:19

Uma das equipas policiais que preparava a operação para desmantelar um perigoso grupo criminoso no Rio de Janeiro foi descoberta às primeiras horas do dia. Seguiram-se confrontos pelas ruas de Vila Cruzeiro. Para muitos, só terminou numa zona de mato, onde acabaram alvejados

Quantos morreram?

O último balanço aponta para 25 mortes na sequência da operação de captura de traficantes de droga em Vila Cruzeiro, uma das favelas do Rio de Janeiro. Das 28 pessoas que deram entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, 23 morreram. Ao balanço junta-se uma moradora morta em casa por uma bala perdida e um menor que deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento do Alemão já sem vida. Segundo as autoridades, mais de metade dos mortos eram “suspeitos”.

Qual era objetivo?

Polícia Militar do Rio de Janeiro, Polícia Federação e Polícia Rodoviária Federal: Todas juntas numa operação que durou mais de 12 horas. O objetivo era desmantelar o Comando Vermelho, uma fação que as autoridades dizem ser “responsável por mais de 80% dos confrontos armados” no Estado do Rio de Janeiro e com ordens para “cometer homicídios noutras regiões” do país. As autoridades queriam apanhar em flagrante um comboio de traficantes que se dirigia para a Rocinha, na zona sul da cidade. Mas o plano havia de cair por terra quando, pelas 4h00, uma das equipas à paisana foi descoberta e atacada à entrada da comunidade. Seguiram-se horas de confronto na comunidade, até chegar a uma zona de mato, que liga Vila Cruzeiro ao Complexo do Alemão, onde a maioria foi baleada.

Quão mortífera foi esta operação?

Com os dados atuais, esta é a segunda operação mais letal. Segundo a imprensa brasileira, fica apenas atrás daquela que foi realizada na favela do Jacarezinho em maio do ano passado, onde morreram 28 pessoas. ‘O Globo’ dá indicação de que nos últimos 15 anos as ações policiais mais intensas somam 72 mortos. Vila Cruzeiro foi uma das favelas do Rio de Janeiro ocupadas no final de 2010 pelo exército brasileiro numa grande operação para expulsar o tráfico de droga. Contudo, os grupos têm vindo a recuperar o controlo da região.

O que foi apreendido?

As autoridades falam num “arsenal de guerra” apreendido, incluindo pistolas, granadas e espingardas que chegaram ao Brasil vindas da Europa de Leste através do tráfico internacional de armas. À lista de apreensões juntam-se motas e carros, incluindo veículos de luxo da marca Porsche.

Algum morador foi atingido?

A comunicação social brasileira dá conta de que Gabrielle Ferreira da Cunha, 41 anos, foi atingida por uma bala perdida. A morte foi confirmada pelas autoridades policiais, mesmo que a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro tenha descartado a entrada desta mulher no hospital. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, também lamentou esta “vítima inocente”. Gabrielle Ferreira da Cunha foi baleada já fora da zona da intervenção policial.

O que mais disse Bolsonaro?

O presidente brasileiro elogiou no Twitter a operação na favela da zona norte do Rio de Janeiro. “Parabéns aos guerreiros do BOPE [Batalhão de Operações Especiais] e da PMERJ [Polícia Militar] que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de fação criminosa”, escreveu. Bolsonaro concretizou ainda que a operação estava a ser preparada “há meses”.

Haverá investigação?

O elevado número de mortes levou o Ministério Público Federal a requerer “com urgência aos superintendentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal informações sobre o efetivo dos agentes que participaram da operação conjunta”, bem como um relatório final da operação no prazo de 10 dias. O Ministério Público Federal abriu um inquérito para apurar as circunstâncias das mortes em Vila Cruzeiro. Também a Human Rights Watch apelou a uma investigação “imediata e completa”, denunciando que os habitantes da favela “passaram horas de horror”.

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