Velas, flores, orações. Velório de crianças assassinadas em escola do Brasil marcado por lágrimas e consternação

Agência Lusa , CF
6 abr 2023, 19:45
Velório das crianças mortas em ataque em creche no Brasil (ANDERSON COELHO/AFP via Getty Images)

Familiares e próximos das vítimas reuniram-se no centro da cidade no cemitério de São José para os três primeiros enterros

O velório das quatro crianças assassinadas na cidade brasileira de Blumenau, no sul do país, num ataque a uma escola infantil na quarta-feira está a ser marcado pelo clima de consternação em toda a povoação.

Dezenas de enlutados se reuniram na creche de Blumenau para rezar, depositar flores para as vítimas — de 5 a 7 anos — e chorar a sua morte. Pelo menos quatro outras crianças ficaram feridas no ataque, o segundo numa escola brasileira em dez dias, pressionando o Governo para encontrar soluções para conter este tipo de atentados.

Funcionários da escola infantil Cantinho do Bom Pastor, onde as quatro crianças foram mortas, e até moradores de bairros distantes levaram velas e fizeram orações em frente ao portão principal da unidade de ensino.

Na manhã desta quinta-feira, familiares e próximos das vítimas reuniram-se no centro da cidade no cemitério de São José para os três primeiros enterros. Os pais ficavam sentados em silêncio a maior parte do tempo, ao lado dos pequenos caixões.

Todas as quatro vítimas eram filhas únicas, sem irmãos, disse o prefeito Mário Hildebrandt aos repórteres na sequencia do atentado.

Ataques em escolas não são caso inédito no Brasil

O caso chocou o Brasil, país com um histórico de violência contra negros e pobres, que tem seguido os passos dos Estados Unidos, tornando-se um país em que os atentados injustificados e violentos dentro de escolas aumentaram nos últimos anos. Segundo um levantamento dos ‘media’ locais, nos últimos 22 anos ocorreram 24 casos de ataques a escolas no país.

Uma das sobreviventes, a professora Simone Aparecida Camargo, relatou o desespero que experimentou e o que fez para salvar outros alunos depois de o homicida, um homem de 25 anos, ter saltado o muro e sem razão aparente começou a atacar com um pequeno machado às crianças que estavam no local, matando quatro delas e causando ferimentos em outras quatro.

A “minha parceira de sala chegou correndo dizendo 'fecha a porta, fecha a janela porque um cara assaltou o posto'. Pensamos que era um assalto porque ele invadiu a escola, só que fechei os bebés no banheiro, depois vieram na porta dizendo que ele 'veio matando', ele foi no parque para matar", disse a professora à NSC TV.

“No parquinho, a turma estava toda no parque fazendo uma roda de conversa” e o homicida “tinha mais do que uma arma”, acrescentou. As autoridades ainda não forneceram um motivo para o ataque.

Em poucas horas, o Governo federal procurou formular uma estratégia para combater o problema.

O ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, reuniu-se com representantes de associações estudantis e disse a repórteres em Brasília que estava destinando 150 milhões de reais (27,1 milhões de euros) do fundo de segurança pública do país para reforçar a ronda policial nas escolas.

Dino explicou que o dinheiro pagará tanto pelo policiamento reforçado quanto pela expansão de uma equipa com sede em Brasília que será montada para monitorar comunidades da deep web, lugares na internet onde o discurso de ódio e a violência são glorificados e incentivados.

Na quinta-feira, o ministro também anunciou a abertura de uma investigação sobre a atuação de grupos nazis e neonazis no país, após este ataque a escola de Blumenau e um episódio semelhante ocorreu há dez dias em São Paulo.

Neste outro caso ocorrido na maior cidade do Brasil, um jovem de 13 anos, aparentemente adepto de ideologia neonazi e inspirado por discursos de ódio, matou com uma professora, feriu outras três professoras e um aluno num ataque em que usou como arma uma faca.

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