Rio de Janeiro quer transferir para prisões federais criminosos que ordenaram retaliação

Agência Lusa , AM
29 out, 06:34
Cristo Redentor

Membros do grupo criminoso brasileiro Comando Vermelho bloquearam na terça-feira várias e importantes vias no Rio de Janeiro

O governador do Rio de Janeiro pediu na terça-feira a transferência para prisões federais de 10 líderes do grupo criminoso Comando Vermelho que terão ordenado represálias pela megaoperação policial na cidade.

"Eu recebi agora das polícias Civil e Penal um relatório das 10 maiores lideranças que estão de dentro das nossas cadeias ajudando a provocar todo esse terror”, disse o governador Cláudio Castro numa mensagem nas redes sociais.

“Tomei a decisão, acreditando que política de segurança pública se faz com diálogo e integração, de pedir ao governo federal 10 vagas para transferência imediata desses 10 criminosos de maior periculosidade", frisou.

O governador disse ainda que esta megaoperação, “a maior da história”, representou “um dia importante para o Rio de Janeiro” e que as polícias estão na rua para garantir que a população consiga regressar a casa.

Membros do grupo criminoso brasileiro Comando Vermelho bloquearam na terça-feira várias e importantes vias no Rio de Janeiro, paralisando parcialmente a cidade em represália por uma megaoperação policial que deixou 64 mortos e 81 detidos.

Pelo menos 50 autocarros de transporte público foram roubados e utilizados pelos narcotraficantes para bloquear ruas e avenidas, segundo a RioÔnibus, empresa responsável pelo serviço.

Com ruas e avenidas bloqueadas por autocarros e barreiras, algumas carreiras de autocarros alteradas para evitar zonas com tiroteios e longas filas nas estações de comboio suburbano e de metro, os cariocas tiveram dificuldades para regressar a casa ao final da tarde.

Um grupo chegou mesmo a bloquear por alguns minutos, com um camião, a principal via de acesso ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro, o que provocou atrasos entre os passageiros, embora sem levar ao encerramento do terminal.

Os bloqueios foram ordenados pelo Comando Vermelho depois de cerca de 2.500 polícias terem ocupado, desde a madrugada, as comunidades que compõem os complexos de favelas da Penha e do Alemão, numa operação destinada a prender os líderes da organização.

Entretanto, o Governo Federal esteve reunido - sem a presença do Presidente Lula da Silva que se encontra a regressar da Malásia - e comunicou a disponibilidade de vagas em presídios federais para receber os presos.

"Além disso, solicitou a realização de uma reunião de emergência na capital fluminense, com participação dele e do ministro Ricardo Lewandowski, nesta quarta-feira", lê-se no comunicado da Casa Civil.

Segundo o último balanço, na operação morreram 64 pessoas, incluindo quatro polícias, e foram detidos 81 alegados membros da organização criminosa, à qual foram apreendidos 93 espingardas e “enormes” quantidades de droga.

Esta já é a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro.

O Comando Vermelho dedica-se principalmente ao tráfico de drogas e de armas, e o seu centro de operações situa-se no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da cidade, embora tenha presença em grande parte do país, especialmente na região da Amazónia.

A organização nasceu na década de 1980, quando a ditadura militar concentrou nas mesmas prisões delinquentes comuns e membros de grupos de guerrilha com formação política e até militar.

Organizações não-governamentais e o próprio Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) já vieram criticar a brutalidade da operação.

“Estamos horrorizados com a operação policial em curso nas favelas do Rio de Janeiro, que, segundo relatos, já resultou na morte de mais de 60 pessoas, incluindo quatro agentes da polícia”, escreveu o ACNUDH, na sua conta oficial da plataforma X.

Cerca de 30 organizações de defesa dos direitos humanos assinaram um comunicado afirmando que a segurança no Rio de Janeiro “não se conquista com sangue” e que a operação, além de expor “o fracasso e a violência estrutural da política de segurança”, coloca a cidade “num estado de terror”.

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