opinião
Comentadora CNN

Bolsonaro e o encontro com a realidade

31 mar 2023, 08:09

Retorno ao Brasil é um acerto de contas com a justiça e um teste para capacidade política do ex-presidente

Depois de um longo período de férias e sem grandes agendas no exterior, Bolsonaro voltou ao solo brasileiro. O medo de ser preso falou mais alto do que a boa vida (na ótica dele) de passear por supermercados e inaugurar hamburguerias de apoiadores nos Estados Unidos.

No Brasil, um dos primeiros compromissos já está agendado na próxima semana: ser ouvido pela Polícia Federal no caso das jóias milionárias recebidas pela ditadura da América Saudita. O caso é mais uma mancha na tentativa de se mostrar como um político anticorrupção, imagem que conseguiu sustentar em 2018 e um fator decisivo para a eleição como presidente, mas que só cola entre a seita bolsonarista. 

Aliás, a volta de Bolsonaro é um teste da sua capacidade política. É pouco provável que apenas o seu batido discurso conservador consiga atrair mais eleitores do que aqueles que ainda se mantêm fiéis. É um desafio ainda maior depois de ser derrotado nas eleições, especialmente pelas ações desastrosas durante a pandemia de Covid-19.

Por ser uma pessoa com discurso instável, é difícil prever como vai agir. Algumas vezes disse que faria uma “oposição saudável”. Hoje, antes da viagem, afirmou que não era preciso fazer oposição. As declarações parecem de uma pessoa perdida, sem saber o que fazer.

Afinal, é a primeira vez em 30 anos que Bolsonaro não possui um mandato. A volta dele ao Brasil é um encontro com uma realidade desconhecida, como alguém que ainda está vivendo as fases de um luto - e com medo do que vem por aí, como o medo de ser preso e de ficar inelegível.

Com o risco de não poder ser eleito novamente nem para vereador, o ex-presidente vai ter que reencontrar seu lugar na política ou em como repassar seu capital político adiante (e duvido muito que o machismo deixe que Michele Bolsonaro seja a sucessora). As próximas semanas e possíveis viagens pelo país vão ser um indicativo da sua habilidade política, em um cenário muito diferente do que quando foi eleito.

Além das visitas pelo Brasil, como pretende fazer, Bolsonaro também foi convidado pelo partido de extrema-direita para visitar Portugal em maio. Ele planeja uma “tour” pela Europa, para se encontrar com amigos de extrema-direita, que não devem achar o político tão inteligente assim, mas que não descartam sua mobilização, principalmente em Portugal, onde vivem milhares de brasileiros.

Com um futuro político incerto, por enquanto, Bolsonaro é apenas um político derrotado que não sabe jogar o jogo democrático, como a viagem antes da posse do novo governo mostrou. Há quem defenda que deve ser esquecido. Eu não concordo - nem as milhares de famílias que perderam seus entes queridos na pandemia, nem todos aqueles ofendidos sucessivamente pelas suas palavras e ações durante o governo.

Se a justiça não for implacável, a história será. 
 

* Amanda Lima escreve a sua opinião em Português do Brasil

Brasil

Mais Brasil

Patrocinados