Um homem desmaiou numa piscina. Os filhos salvaram-no com técnicas de reanimação que aprenderam nos filmes

5 jul 2022, 19:45
Brad e os filhos gémeos, Bridon and Christian (Foto: Brad Hassig)

Brad Hassig estava sozinho em casa com os filhos gémeos, de 10 anos, e um amigo, de 11. Os três rapazes conseguiram socorrer e reanimar o homem sem a ajuda de adultos, e provaram que o conhecimento cinéfilo pode - literalmente - salvar vidas

Brad Hassig e os filhos gémeos desfrutavam do calor de junho na piscina da família, no luxuoso subúrbio de Mountain Brook, no Alabama, Estados Unidos. Naquela terça-feira, a mãe e a filha mais velha não estavam em casa; Brad era o único adulto, vigiando os dois filhos de dez anos e um vizinho de 11, Sam Ebert, entre mergulhos.

Mergulhos e não só: o homem de 46 anos praticava habitualmente exercícios de respiração debaixo de água, que consistiam em submergir e suster a respiração durante cerca de um minuto. Tratava-se de um ritual "relaxante", que nunca antes tinha trazido complicações. "Simplesmente gosto da sensação de paz em estar debaixo de água", contextualiza Brad, citado pelo The Washington Post

Porém, na tarde de 14 de junho, Brad não voltou a subir à superfície. É incerto quanto tempo terá passado até os filhos repararem que o ritual do pai estava a demorar mais tempo do que o habitual. Quando se aperceberam, não hesitaram em agir - e a celeridade e eficácia dos procedimentos de socorro poderão ter salvado a vida ao pai de três filhos.

Christian, de apenas 10 anos, colocou de imediato os óculos de natação e deparou-se com uma imagem aterradora: o pai, inconsciente, deitado de lado no fundo da piscina. 

"Consegui ver que a cara dele estava a ficar azul. Foi muito assustador", recorda o menino, que se apressou a voltar à superfície e alertar os outros dois rapazes. "O papá não está bem!", gritou. A partir daí, "estávamos apenas focados em salvar a vida do pai." 

Salvo por técnicas aprendidas nos filmes  

Mover o corpo inanimado de um homem adulto, com cerca de 84 quilos, e procurar ajuda poderá parecer uma tarefa hercúlea para três rapazes pequenos. No entanto, o trabalho de equipa foi imediato e eficaz. Puxaram o homem pelos ombros e conseguiram apoiá-lo nas escadas da piscina, em conjunto, antes de se repartirem em tarefas. Um dos gémeos correu em direção à rua a pedir socorro, depois de constatar que o telemóvel do pai estava bloqueado, enquanto o outro, Bridon, tentava reanimá-lo com técnicas de reanimação cardiopulmonar.

O menino nunca tinha tido semelhante responsabilidade, e confessa ter-se sentido "sobrecarregado e em pânico" com a pressão de salvar a vida do pai. Subitamente (e oportunamente), lembrou-se dos serões a ver filmes com o irmão Christian. Dois, em particular: "Hook", de Steven Spielberg, e "The Sandlot", de David Mickey Evans. Ambos os filmes incluíam cenas que demonstravam técnicas de reanimação, como compressões peitorais e respiração boca-a-boca. O menino inclinou a cabeça do pai para trás e, revivendo o que tinha aprendido com a sétima arte, tentou imitar cada gesto das personagens. 

"Simplesmente sabia que precisava de fazer isto", diz Bridon. E, tal como nos filmes que recordou, também este episódio assustador teve um final feliz. Pouco depois de ter começado a fazer respiração boca-a-boca, o pai acordou a tossir sangue, espuma e água. "Foi provavelmente o momento mais emotivo da minha vida", acrescenta. 

Sam Ebert e os gémeos Bridon e Christian. (Foto: Brad Hassig)

Entretanto, o irmão Christian tinha parado um carro na rua e pedido ao condutor que chamasse uma ambulância. Quando as sirenes começaram a ressoar pela vizinhança, um vizinho cardiologista acorreu ao quintal e prestou cuidados adicionais a Brad, recém-acordado mas ainda atordoado. "Era puro caos", descreve o norte-americano. "Havia pessoas em todo o lado." 

Foi transportado de ambulância até ao Centro Médico de Grandview e diagnosticado com três complicações de saúde causadas pelo tempo prolongado sem oxigénio: hipóxia, um edema pulmonar e falta de ar. As boas notícias? Todas estas condições eram temporárias, despoletadas pela queda repentina da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco, e não pareciam estar associadas a nenhum problema de saúde subjacente.

A lição aprendida

Brad Hassig teve alta 24 horas após ter sido admitido, mas continua a recuperar - mental, emocional e fisicamente - do que aconteceu naquela tarde. Confessa, porém, sentir-se "péssimo" pela experiência que, ainda que involuntariamente, proporcionou aos filhos e ao amigo. 

"Os meus rapazes são heróis pelo que fizeram", elogia, emocionado. "Os meus rapazes de 10 anos e o seu amigo de 11 anos, sem qualquer tipo de treino, não hesitaram." 

Semanas após o incidente, ainda experiencia sentimentos contraditórios de terror e intrepidez. Garante que nunca mais fará exercícios de respiração debaixo de água, mas sente-se no dever de retribuir a coragem dos filhos com coragem redobrada. "Tenho de mostrar aos meus rapazes que se deve ser corajoso, confrontar os medos, e seguir em frente", explica. Com este propósito, regressou à piscina cerca de uma semana após o incidente que poderia ter culminado na sua morte. Assim que mergulhou, os meninos apressaram-se a acompanhar o pai e, pouco a pouco, voltaram a sentir-se "confiantes" dentro de água. "Ainda bem que o fiz", sorri. 

Para além dos três meninos, Brad demonstra gratidão para com os vizinhos que o têm acarinhado com "refeições, preces e cartões a desejar as melhoras".

"É uma lição de humildade ter sido salvo pelos meus filhos, mas depois seguem-se amigos, vizinhos e toda a comunidade. Ver que as pessoas se preocupam tem sido incrível."

Agora, pretende reciprocar o apoio recebido. Com o verão oficialmente inaugurado e as temperaturas elevadas a ditar o regresso às praias e piscinas, Brad prepara um curso de reanimação cardiorrespiratória em que toda a comunidade será bem-vinda - crianças e adultos. O seu grande objetivo é "conseguir, potencialmente, salvar outra vida" e divulgar as técnicas que determinaram a sua sobrevivência. 

Os rapazes reforçam a importância deste conhecimento e mostram-se entusiasmados em partilhar a sua história. "É muito importante, porque nunca se sabe se nos vai acontecer a nós", explica um dos gémeos, Christian. "Ajuda saber o que fazer." 

E, neste caso, ajudou também conhecer um vasto repertório de filmes dos anos 90. 

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