A grande mentira de Ronaldo

14 nov 2019, 09:53
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O mundo seria um sítio muito mais recomendável se as pessoas tivessem um coração bom e uma cabeça viva. Infelizmente não têm nem um nem outra.

As pessoas têm maus sentimentos. Angústias. Inseguranças. Invejas e ganâncias. Ciúmes.

Adoram cometer embustes, praticar fraudes e dizer falsidades. As pessoas são naturalmente impostoras, intrujonas e caluniosas. Basta olhar para as coisas que um ser humano é capaz de escrever no recato do anonimato concedido por um perfil falso e um teclado do computador.

Verdadeiras injúrias.

As piores declarações são as clandestinas. Declarações que não comprometem quem as faz, que se baseiam em provas incapazes de serem apresentadas em tribunal e que fazem corar as testemunhas.

Nos últimos tempos, por exemplo, tornou-se comum dizer que o talento de Cristiano Ronaldo foi trabalhado no ginásio. Um pouco para confrontar o jogo mais físico do português com o jogo mais artístico de Lionel Messi. Que se diz, em oposição, ter sido trabalhado nas ruas.

Ou seja, Ronaldo é fruto do trabalho obstinado e Messi é fruto do talento inato, diz-se por aí.

Ora em três palavras, que são o ponto onde eu queria chegar desde o início, nada mais falso.

Falso, falso, falso.

É verdadeiramente impossível um ginásio, por muito bom que seja, fabricar um jogador como Cristiano Ronaldo. Pode eventualmente potenciar certas capacidades. Mas não as cria.

O que Ronaldo faz num relvado de futebol é em noventa por cento talento. A velocidade que atinge é inata, a relação com o espaço é inata, a capacidade de finalizar em espaços curtos é inata.

Pode em tudo isso haver uma pequena percentagem que tenha sido intensificada pela dedicação do português ao trabalho, mas é apenas isso: uma pequena percentagem.

Tudo o resto é naturalmente o resultado de um homem que nasceu para jogar futebol: um homem com um talento especial para se relacionar com a bola, com o bailado próprio do futebol e com a técnica delicada, elegante e cortês da finalização.

A carreira de Ronaldo está cheia de instantes de pura classe, golos do mais fino recorte técnico. Estou a lembrar-me, por exemplo, do golo da época passada ao Manchester United: um tratado de velocidade, perceção do tempo e talento de finalização. Um golaço num remate de primeira.

E isso, meus caros, nenhum de nós seria capaz de adquirir nem que passasse uma eternidade no ginásio. Nem sequer se vivesse entre o relvado mais bonito e o melhor ginásio do mundo.

Mas lá está, no anonimato de um ecrã as pessoas são capazes de dizer as maiores barbaridades. Sobretudo quando são movidas a inveja e ciúme.

O talento de Ronaldo não nasceu em nenhum outro lado que não a barriga da Dona Dolores. Por isso não me venham com mentiras: com enormes e muito gordas mentiras.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, diretor executivo do Maisfutebol, que escreve aqui às quartas-feiras de quinze em quinze dias

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