O mandato de Boris Johnson definiu-se por escândalos. Aqui estão alguns deles

CNN , Ivana Kottasová e Tara Subramaniam
7 jul 2022, 21:00
Boris Johnson demite-se (GettyImages)

O governo de Johnson foi assolado por uma série de escândalos, desde acusações ao seu desrespeito pela lei e denúncias de festas ilegais durante o confinamento em Downing Street, a alegações de comportamentos impróprios e de abusos por parte dos legisladores conservadores.

Segue-se um apanhado de alguns dos escândalos mais marcantes do seu governo.

Extensão ilegal do Parlamento

Os críticos de Boris várias vezes o acusaram de desrespeitar procedimentos do governo e infletir regras quando lhe convém, tal como quando decidiu pedir à rainha que adiasse (ou fechasse) o Parlamento durante cinco semanas no auge de uma crise política sobre Brexit.

A monarca assinou o pedido em conformidade com o seu dever de se manter afastada da política e de agir apenas sob o aconselhamento de ministros.

Mas quando o Supremo Tribunal considerou a extensão ilegal, colocou-se uma questão em relação às intenções da rainha, se teria infringido a lei ou não. A decisão levou a acusações de que o governo de Boris Johnson enganou deliberadamente a monarca como parte da sua estratégia para assegurar o Brexit.

Segundo o Sunday Times, Johnson foi obrigado a pedir desculpa pessoalmente por colocar a rainha nesta situação constrangedora.

No entanto, o pedido de extensão fracassado foi apenas um exemplo do desrespeito de Boris Johnson pelas regras e normas parlamentares.

Johnson apoiou Priti Patel, a ministra do Interior, depois de uma investigação sobre as alegações de que ela intimidava funcionários. Descobriu-se que a Patel violava o Código Ministerial e não “tratava os seus funcionários públicos com consideração e respeito”, e tinha praticado “uma forma de comportamento que pode ser descrita como intimidação”.

O consultor de ética de Boris Johnson, Alex Allen, demitiu-se devido a esta situação.

A remodelação do apartamento

Um dos primeiros escândalos que Boris Johnson defrontou foi uma acusação de corrupção após mensagens do WhatsApp terem revelado que ele tinha pedido fundos a um doador do Partido Conservador para remodelar a sua residência em Downing Street. Os noticiários britânicos relataram que o trabalho custou cerca de £200.000 (235.000€).

As doações e empréstimos políticos são rigorosamente controlados no Reino Unido, registando-se empréstimos de mais de £7.500 (8.812€) e revelados ao público pela comissão quatro vezes por ano.

Por sua vez, Johnson não relatou as doações e, como resultado, o Partido Conservador foi multado no valor de 20,908€ pela Comissão Eleitoral em dezembro do ano passado.

O escândalo de lobbying de Owen Paterson

No ano passado, Johnson tentou forçar os deputados conservadores a votar a favor da anulação da suspensão de um colega deputado conservador.

Owen Paterson, um influente deputado conservador e ex-ministro do gabinete, tinha enfrentado uma suspensão de 30 dias depois de ter sido acusado de uma violação grave das regras de lobbying (uma tentativa de influência).

Na sequência de uma reação adversa, Boris Johnson voltou atrás na sua palavra e Paterson acabou por se demitir.

Consequentemente, na subsequente eleição bi-eleitoral em dezembro, os Democratas Liberais ficaram com o lugar de Paterson, que os Conservadores tinham ocupado durante quase 200 anos.

“Partygate”

Após uma fuga de imagens em janeiro deste ano, Johnson enfrentou meses e meses de revelações nocivas de festas realizadas durante o confinamento em Downing Street, a residência e sede oficial do governo britânico.

Um relatório publicado em maio pela funcionária pública Sue Gray criticou uma cultura de quebra de regras, e revelou novas fotografias de Boris Johnson em duas festas diferentes.

Entre estas festas: uma noite de bebedeira intensa na véspera do funeral do Príncipe Filipe, uma altura em que as regras do confinamento e de socialização eram tão rigorosas que a Rainha teve de sentar-se sozinha para se despedir do seu marido de quase 74 anos.

Gray escreveu que “a liderança sénior no centro” da administração de Johnson “deve assumir a responsabilidade” por uma cultura que permitiu que estas festas se realizassem.

Boris Johnson foi multado pela Polícia Metropolitana de Londres por participar numa festa dentro das instalações do governo, o que fez dele o primeiro primeiro-ministro britânico na história a ter infringido a lei no cargo. Sunak, que se demitiu na terça-feira, também foi multado por ter estado presente no mesmo evento.

A forma como Johnson lidou com o escândalo foi particularmente mal orientada. Primeiro, Downing Street negou que houve quaisquer festas, de seguida afirmou que não sabiam da existência destas e depois afirmaram que ele esteve presente em ambas, pois achavam que se tratava de eventos relacionados com o trabalho.

Alegações de má conduta por parte de Pincher

A renúncia coletiva de demissões desta semana foi desencadeada por revelações de que Johnson nomeou Chris Pincher para o seu governo, apesar de saber de alegações precedentes de má conduta sexual.

Pincher, chefe de Bancada Adjunto dos Conservadores, demitiu-se na semana passada após alegações de que tinha apalpado duas pessoas durante um jantar privado. Pincher não admitiu diretamente as acusações, mas disse a Johnson numa carta que “ontem à noite bebi demais”, e “envergonhei-me a mim e a outras pessoas”.

No meio de uma onda de revelações acerca da sua conduta precedente, Downing Street deparou-se com dificuldades para explicar porque é que Pincher estava no governo, negando que Boris Johnson soubesse algo concreto sobre as acusações.

Na terça-feira, verificou-se que tinha sido apresentada uma queixa contra Pincher no Ministério dos Negócios Estrangeiros há cerca de três anos e que Johnson foi informado sobre o que aconteceu. Downing Street disse então que Boris se tinha esquecido.

Johnson reconheceu que “foi um erro" nomear Pincher para o seu governo na terça-feira, mas o estrago já estava feito.

A vaga de demissões do governo começou poucos minutos depois de ele ter pedido desculpa pela decisão, com o Chanceler Rishi Sunak e o Secretário da Saúde Sajid Javid a entregarem as suas demissões. Durante as 24 horas seguintes, dezenas de pessoas seguiram os seus passos, levando o Partido Conservador a estender-lhe o tapete para a demissão.

Rob Picheta e Luke McGee, da CNN, contribuíram para esta reportagem

Europa

Mais Europa

Patrocinados