Negociador britânico do Brexit pede demissão por "crescente desilusão" com governo de Boris Johnson

Beatriz Céu , com Lusa
18 dez 2021, 22:35
David Frost

David Frost pediu a demissão com efeitos imediatos

O negociador britânico do Brexit, David Frost, anunciou este sábado que renunciou ao cargo com efeitos imediatos, justificando a decisão com preocupações relacionadas com a "direção" do primeiro-ministro Boris Johnson.

A notícia foi avançada horas antes pela imprensa britânica, que dava conta do pedido de demissão de Frost na sequência de uma "crescente desilusão" do negociador com o executivo britânico.

"É desapontante que este plano se tenha tornado público esta noite e, nestas circunstâncias, penso que o mais correto é pedir a demissão com efeitos imediatos", disse Frost numa carta dirigida a Boris Johnson, divulgada por Downing Street.

De acordo com o mesmo jornal britânico, Frost, que representou o Reino Unido nas negociações com a União Europeia (UE) em torno do Brexit, pediu a demissão há uma semana, mas foi persuadido a manter-se no cargo até janeiro. 

Na mesma carta, o negociador manifestou preocupações com o rumo da economia britânica. "Espero que avancemos o mais rápido possível até onde precisamos de chegar: uma economia empreendedora, levemente regulamentada, com baixos impostos e na vanguarda da ciência moderna e da mudança económica", disse, citado pela imprensa britânica.

"Espero que possamos voltar ao que éramos em breve e não cairmos na tentação de implementar o tipo de medidas coercivas que temos visto noutros locais", acrescentou.

Em resposta, Boris Johnson disse que Frost deveria estar "imensamente orgulhoso do seu serviço histórico pelo Governo e pelo país".

Negociador discordava do "Plano B" do Governo para a gestão da pandemia

Frost é considerado uma figura-chave nas negociações com a UE, mas decidiu afastar-se do executivo por discordar com o chamado "Plano B", que determinou a introdução de passes sanitários para entrada em discotecas e grandes eventos, a obrigatoriedade de vacinas para profissionais de saúde e o uso de máscaras em espaços públicos fechados.

A imprensa britânica classifica a saída de David Frost como mais um golpe para o chefe do executivo britânico, que tem vindo a ser alvo de várias críticas pela liderança do país, numa altura em que se vê envolvido em diversas polémicas relacionadas com a gestão da pandemia, além de alegadas festas de Natal no ano passado, quando as regras proibiam encontros sociais, e do financiamento impróprio das obras de remodelação da residência oficial do primeiro-ministro.

O descontentamento interno no partido ficou exposto quando 100 deputados votaram no Parlamento contra a introdução na Inglaterra dos passes sanitários para tentar travar a covid-19.

Na quinta-feira, os Conservadores perderam uma eleição parlamentar em North Shropshire, no oeste da Inglaterra, conquistada pelos liberais democratas, levando vários deputados ‘tories’ a ameaçar com uma moção de censura interna para derrubar Johnson.

David Frost foi nomeado em julho de 2019 para negociador da Saída do Reino Unido da União Europeia e depois continuou a chefiar as negociações para a relação pós-Brexit, que resultaram num acordo de comércio livre que entrou em vigor a 1 de janeiro.

Frost era presidente-executivo da Associação de Produtores de Whisky antes de ser convidado para assessor de Boris Johnson quando este era ministro dos Negócios Estrangeiros. Como não é um político eleito, foi nomeado para Câmara dos Lordes, o que permitiu a entrada para o Executivo.

Nas suas funções, além de presidir aos órgãos conjuntos de fiscalização dos termos dos acordos alcançados, coordena também as relações do Governo britânico com as instituições de Bruxelas e dos 27 Estados-membros do bloco.

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