Ganham o mesmo há anos e fartaram-se disso: porque os bombeiros foram lançar petardos e tochas para a porta do Governo

3 dez 2024, 18:03

Carreira dos bombeiros sapadores não é revista há mais de 20 anos

"Estamos dispostos a tudo pela nossa carreira". Centenas de bombeiros sapadores saíram à rua sem anúncio prévio esta terça-feira, num dia em que estava previsto que os sindicatos voltassem a sentar-se à mesa com o Governo, e rodearam o Campus XXI, em Lisboa, onde agora se concentram todos os serviços ministeriais. A reunião acabou por ser suspensa pelo Executivo, intensificando os protestos dos profissionais. Mas o que pedem afinal?

Os bombeiros sapadores exigem a valorização da carreira, que não é revista há mais de 20 anos. Tal inclui as seguintes reivindicações:

  • Um aumento salarial não inferior a 200 euros;
  • Um subsídio de risco igualado ao das forças de segurança;
  • Redução da idade da reforma.

No que toca ao primeiro ponto, o do aumento salarial, um bombeiro sapador que ingresse na carreira pode contar com um vencimento de cerca de 1.075 euros, ao que acresce o subsídio de insalubridade e o subsídio de turno.

De acordo com os últimos dados disponíveis da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, cada bombeiro auferiu em média um salário de 1.228 euros brutos no mês de abril. Somados os subsídios e outros serviços, o ganho médio foi de 1.900 euros brutos. Contudo, a falta de revisão da carreira faz com que estes valores não sejam atualizados há vários anos.

A segunda reivindicação refere-se à criação de um subsídio de risco para os bombeiros sapadores, cujo valor exigem que seja equiparado ao das forças de segurança. Durante as negociações, o Governo propôs aos bombeiros sapadores um subsídio de risco com um valor mensal de 37,5 euros, que mereceu dos profissionais duras críticas. É, segundo apontaram, "ridículo" e "completamente ofensivo".

Apesar de esta ser uma profissão de risco, os bombeiros têm apenas direito a um subsídio de insalubridade pouco significativo.

Já quanto ao terceiro ponto, os bombeiros sapadores pedem que seja salvaguardada a redução da idade da reforma, que se encontra neste momento nos 60 anos.

Para além destes pontos, os bombeiros criticam a redução de alguns postos na carreira vertical pelo Governo, bem como o tratamento da profissão como parte da função pública. Denunciam sobretudo as 35 horas de trabalho semanal, que é muitas vezes excedido no caso dos bombeiros sem que lhes sejam pagas horas extraordinárias.

Esta terça-feira, bombeiros sapadores de todo o país furaram o cordão policial montado junto ao local onde iria decorrer a reunião com o Governo, fizeram explodir vários petardos, ajoelharam-se, cantaram o hino e usaram adjetivos como "aldrabões" e "corruptos" para se referirem à classe política. Num protesto não comunicado antecipadamente, ergueram ainda tarjas onde se podiam ler frases como "Está a arder? Passem a chamar os políticos" e "Enquanto salvamos vidas, o Governo brinca com as nossas".

Perante este cenário, o Executivo decidiu cancelar a ronda negocial. "O Governo suspende de imediato reunião negocial com representantes dos sapadores por não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação. Não estão garantidas, até ao momento, as condições de segurança. As negociações podem ser retomadas se e quando forem assegurados o respeito pelo diálogo e tranquilidade no exercício do direito de manifestação", disse uma fonte oficial do Governo à CNN Portugal.

Depois de a reunião ter sido suspensa, o representante do sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa, António Pascoal, admitiu que "houve um avanço, no entanto, não satisfaz". "Vamos novamente lá para dentro e vamos continuar a negociação com o Governo. Não vamos ceder", garantiu. Mais tarde, os bombeiros acusaram o Executivo de usar a alegada falta de segurança do protesto “como pretexto” para romper as negociações e “diabolizar os bombeiros”.

Relacionados

Governo

Mais Governo

Mais Lidas

Patrocinados