Guerra na Ucrânia: Chamam-lhe a "bomba arco-íris" e pode transformar toda a tecnologia em sucata em poucas horas

CNN Portugal , JGR
17 dez 2022, 12:28
Rússia testa RS-28 Sarmat. Arma pode dar uma volta e meia à terra antes de cair

Dos computadores aos telemóveis, passando pelos sistemas de aquecimento, distribuição de água, postos de combustível e até semáforos. Pouco escaparia à radiação eletromagnética desta arma

Tem capacidade para tornar toda a tecnologia em sucata, destruir por completo as redes de comunicação, e tudo sem matar uma única pessoa. Especialistas militares apelidaram-na de “bomba arco-íris” e há quem tema que esta arma que faz parte do arsenal russo possa vir a ser utilizada.

Quando pensamos em bombas atómicas, recordamo-nos imediatamente das imagens do “cogumelo nuclear” que se forma logo a seguir à detonação de um destes explosivos. Foi assim em Hiroshima, em Nagasaki e em todos os testes em que esta tecnologia foi utilizada. Mas os cientistas sabem que uma bomba atómica não precisa de atingir uma cidade ou um alvo militar para imobilizar um potencial inimigo.

O nome técnico é Pulso Eletromagnético Nuclear (NEMP, em inglês) e consiste em explodir uma arma nuclear entre 20 a 600 quilómetros de altitude, criando uma explosão de radiação eletromagnética capaz de danificar permanentemente todos os equipamentos eletrónicos. Esta explosão pode criar uma experiência visual semelhante à aurora boreal, o que lhe valeu a alcunha de “bomba arco-íris”.

Um ataque desta dimensão contra a Ucrânia dificilmente ficaria contido neste país. Acabaria por atingir ou afetar sistemas eletrónicos de outros países europeus, o que levantaria a questão sobre se poderia ser considerado um ataque contra países da NATO.

Na verdade, tudo pararia de funcionar. Dos computadores aos telemóveis, passando pelos sistemas de aquecimento, distribuição de água, postos de combustível e até semáforos. Pouco escaparia. Os curto-circuitos causados poderiam também resultar em pequenas explosões e incêndios.

À partida, os efeitos desta explosão não afetam o organismo do ser humano. Embora com a magnitude suficiente e com uma longa exposição é possível causarem efeitos secundários, como danos no sistema nervoso, queimaduras internas, danos cerebrais ou até mesmo mutações cerebrais.

"Um NEMP provocaria curto-circuitos em todos os sistemas elétricos e eletrónicos que não estivessem blindados dentro da região afetada. As redes elétricas e os sistemas de comunicação entrariam em colapso. Tudo pararia de funcionar" explica Roger Pardo-Maurer, ex-subsecretário adjunto de Defesa dos Estados Unidos, em declarações ao jornal EL MUNDO.

É por este motivo que as principais potências nucleares, como os Estados Unidos da América, não digitalizaram os seus silos nucleares. A tecnologia utilizada nestes sistemas mantém-se analógica e é feita através de uma vasta rede de cabos subterrâneos, para evitar a interferência eletromagnética das armas nucleares, garantindo assim que conseguem funcionar, mesmo em caso de ataque.

A possibilidade de uma arma nuclear ser utilizada desta forma tem sido debatida cada vez mais pelos especialistas. A utilização de uma arma nuclear tática por parte da Rússia é um cenário cada vez mais remoto, uma vez que teria pouca utilidade prática para atingir os objetivos russos no terreno, devido ao facto de as tropas ucranianas estarem bastante dispersas.

Além disso, é sabido que tanto a União Soviética como a Rússia investiram muito mais no estudo do NEMP do que os seus rivais ocidentais. Durante a crise dos mísseis em Cuba, 1962, a Rússia decidiu explodir uma bomba atómica 20 vezes mais potente do que a utilizada em Hiroshima a 290 quilómetros de altura. O objetivo era enviar um alerta para os norte-americanos, mas o resultado foi diferente do que o esperado, com os soviéticos a destruírem uma central elétrica e centenas de quilómetros de linhas telefónica.

Um ano mais tarde, Washington e Moscovo acordavam proibir os testes com esta tecnologia. Agora, depois de vários anos e reversão de acordos entre a Casa Branca e o Kremlin e as constantes ameaças de uso de armas nucleares por parte de Vladimir Putin, muitos acreditam que vamos voltar a ouvir falar desta tecnologia com maior frequência.

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