“Há indícios de que lhes fizeram alguma maldade ”, diz Bolsonaro sobre jornalista e ativista desaparecidos na Amazónia

CNN Portugal , HCL
13 jun 2022, 21:56

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse acreditar que o desaparecido jornalista britânico Dom Phillips e ao perito indígena brasileiro Bruno Pereira possam não ter sobrevivido e sugere que existiu um crime

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro afirmou esta segunda-feira que “há indícios de que fizeram alguma maldade” ao jornalista britânico Dom Phillips e o ativista brasileiro Bruno Pereira, que estão desaparecidos na Amazónia desde o dia 5 de junho. Durante uma entrevista à rádio CBN, do estado brasileiro do Recife, o presidente afirmou que “os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles, porque já foram encontradas vísceras humanas a boiar no rio”.

De acordo com Bolsonaro, os vestígios mortais foram levados para a capital, Brasília, para que especialistas em análise ao ADN possam-nos analisar. “Pelo tempo, já estamos indo para o nono dia [de desaparecimento], vai ser difícil encontrá-los com vida. Peço a Deus, mas os indícios levam ao contrário no momento”, acrescentou Jair Bolsonaro.

Contudo, a polícia federal negou mais tarde as alegações de que tinham sido encontrados dois corpos. Os activistas indígenas envolvidos no esforço de busca também disseram não ter informações sobre tal descoberta, mas acreditam que os restos mortais dos homens serão encontrados em breve numa área de floresta inundada, onde as suas equipas de busca encontraram alguns dos pertences dos homens no sábado.

As declarações de Bolsonaro foram também acompanhadas de críticas a Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal que na sexta-feira apelou ao governo que adote “todas as providências necessárias” para a procura de Dom e de Bruno, pedindo também a Bolsonaro que, no prazo de cinco dias, apresente um relatório contendo todas as providências adotadas e informações obtidas sobre o desaparecimento.

O presidente brasileiro afirmou que “é dispensável o senhor Barroso dar uma de dono da verdade e dar cinco dias para o presidente explicar ou achar esses dois que desapareceram”. “Eu não tenho o número exato aqui. Mas [queria] dizer para o senhor Barroso que são dezenas de milhares de pessoas que desaparecem no ano no Brasil. Ele se preocupou apenas com esses dois”, acrescentou Bolsonaro. 

Artigos pessoais pertencentes aos dois homens desaparecidos foram encontrados numa área de floresta inundada no sábado, graças a uma pequena mas determinada equipa de busca indígena que passou os últimos sete dias na linha da frente dos esforços de busca.

Enquanto o presidente brasileiro falava, centenas de manifestantes indígenas marcharam pela Atalaia do Norte, a cidade ribeirinha de onde Phillips e Pereira partiram no que deveria ter sido uma viagem de quatro dias de reportagem.

Transportando lanças, usando trajes tradicionais e cantando nas suas línguas nativas, os manifestantes indígenas avançaram pelas ruas para exigir justiça e denunciar o ataque histórico ao meio ambiente e às terras indígenas do Brasil que se tem desenrolado desde que Bolsonaro tomou o poder em 2019. "Bolsonaro não é bom - mas se Deus quiser será derrotado nas eleições de Outubro", disse Kura Kanamari, um líder do povo Kanamari do território indígena do Vale do Javari.

Giuseppe Leoni, um padre italiano que trabalha na Amazónia há mais de 50 anos, insistiu que os dois homens não tinham perdido as suas vidas em vão. Ao jornal The Guardian, Leoni disse que a sua dedicação em ajudar as comunidades indígenas brasileiras a defender as suas florestas e a contar as suas histórias ao mundo inspiraria as gerações futuras de defensores do ambiente e dos índios. "Eles são uma semente que foi lançada ao mundo e que dará o exemplo de vida", disse.

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