Avião de papel feito por engenheiros da Boeing bate recorde mundial de distância

CNN , Taylor Nicioli
22 abr 2023, 13:00
Após quase 500 horas de dobragem de origami e estudo de aerodinâmica, o desenho final do avião em papel foi posto à prova. Dominic Alberico

É um pássaro... É um avião... É um avião de papel!

O recorde mundial para o voo mais distante de um avião de papel foi batido por três engenheiros aeroespaciais com um voo de 88 metros, quase o comprimento de um campo de futebol americano.

Bateram o recorde anterior de 77 metros, alcançado em abril de 2022 por um trio na Coreia do Sul.

"É um momento de muito orgulho para a família e os amigos", disse Dillon Ruble, engenheiro de sistemas da Boeing e agora detentor do recorde mundial de lançamento de aviões de papel. "É uma boa ligação ao setor aeroespacial e ao pensamentos de acordo com a conceção e criação de protótipos."

Nathan Erickson (à esquerda), Dillon Ruble e Garrett Jensen são engenheiros aeroespaciais. Dominic Alberico

Ruble trabalhou com Garrett Jensen, engenheiro mecânico da Boeing, e com o engenheiro aeroespacial Nathaniel Erickson. O trio formou-se recentemente, tendo estudado engenharia aeroespacial e engenharia mecânica na Universidade de Ciência e Tecnologia do Missouri, nos Estados Unidos.

A proeza exigiu meses de esforço, com a equipa a dedicar quase 500 horas ao estudo de origami e aerodinâmica para criar e testar vários protótipos. Os engenheiros colocaram o projeto final à prova em 2 de dezembro de 2022, em Crown Point, Indiana, onde o recorde foi alcançado no terceiro lançamento de Dillon Ruble.

"Esperamos que este recorde se mantenha por bastante tempo - 88 metros é surreal", disse Jensen, em comunicado. "São 4,2 a 4,6 metros acima do lançamento mais distante que já fizemos. Foi preciso muito planeamento e muita habilidade para bater o recorde anterior."

Física do avião de papel

A equipa tinha decidido que a sua melhor hipótese de bater o recorde mundial seria com um desenho de avião que se centrasse na velocidade e minimizasse o arrasto, de modo a que pudesse voar uma grande distância num curto espaço de tempo.

Inspirando-se em vários aviões hipersónicos, que podem voar cinco vezes mais rápido do que a velocidade do som (Mach 5), especificamente o X-43A da NASA, a equipa criou um projeto vencedor - mais tarde denominado "Mach 5".

"Os aviões em escala real e de papel têm grandes diferenças na sua complexidade, mas ambos operam com base nos mesmos princípios fundamentais", explicou Ruble. "Algumas das mesmas metodologias de design podem ser aplicadas a ambos. Um desses métodos foi o nosso processo de tentativa e erro. Por exemplo, teorizámos sobre uma dobra que poderíamos mudar, dobrar, atirar, e comparar a distância com iterações anteriores para determinar se a mudança era benéfica."

Ruble (na frente, à esquerda) e Erickson dobram os seus aviões de papel. Garrett Jensen

Para encontrar a melhor técnica para lançar o avião de papel, a equipa efetuou várias simulações e analisou vídeos em câmara lenta dos seus lançamentos anteriores.

"Descobrimos que o ângulo ideal é de cerca de 40 graus acima do solo. Uma vez que se está a apontar tão alto, atira-se o mais forte possível. Isso dá-nos a nossa melhor distância", indicou Jensen. "Foram necessárias simulações para descobrir isto. Não pensei que conseguíssemos obter dados úteis de uma simulação num avião de papel. Acontece que podíamos."

Até mesmo o papel, o A4 (ligeiramente mais comprido do que o papel de carta tradicional), a equipa decidiu que seria o melhor para manipular e dobrar. Com estas escolhas de design meticulosamente ponderadas, e uma atenção cuidadosa às numerosas regras e diretrizes estabelecidas pela equipa do Guinness World Record, os três estavam prontos para quebrar um recorde.

No voo recordista, o avião esteve no ar durante cerca de seis segundos. O recorde de duração de voo para um avião de papel é de 29,2 segundos.

"Os objetivos de conceção para um recorde de tempo no ar seriam muito diferentes da versão de baixo arrastamento que construímos para o recorde de distância mais longa", esclareceu Ruble. "Aumentar a envergadura das asas e diminuir a proporção seriam os primeiros passos na produção desse tipo de avião."

Avião de papel à parte, Ruble sublinhou que este método tedioso de testes é uma prova da importância de uma prototipagem rigorosa no mundo real.

De entusiastas do origami a engenheiros aeroespaciais

Ruble e Jensen começaram as suas carreiras de engenharia de aviões de papel quando andavam na escola, participando em eventos de aviões de papel realizados na Boeing. Ruble contou que gostava de dar vida ao papel e do trabalho árduo para encontrar formas de melhorar os seus desenhos. Ambos eram também fãs de origami quando eram crianças.

A equipa recordista espera que a sua conquista inspire outros jovens e aspirantes a engenheiros aeroespaciais a perseguir os seus sonhos.

Para aqueles que também querem criar um desenho de aviões de papel que bata recordes, a proeza não é impossível, mas pode levar algum tempo (e habilidade).

"O Mach 5 voa melhor a alta velocidade relativa, mas para atingir esta condição a aeronave deve ser lançada de uma forma específica", observou Ruble. "Esta técnica, para além da complexidade do avião, significa que apenas os entusiastas mais experientes teriam sucesso com o projeto."

"No entanto, ao começar com designs disponíveis publicamente, qualquer um pode aperfeiçoar as suas habilidades para atirar aviões de papel mais longe e mais alto do que todos os seus amigos", acrescentou.

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