Desde 2018, a Boeing enfrenta uma série de incidentes e acidentes envolvendo as suas aeronaves, com investigações a apontar falhas técnicas e de produção. Recorde alguns dos casos que abalam a empresa americana
A empresa de aviação norte-americana Boeing voltou a estar notícias pelos piores motivos, depois de um Boeing 787-8 da companhia aérea Air India com 242 pessoas a bordo, incluindo sete com nacionalidade portuguesa, ter-se despenhado numa zona residencial na Índia. Ainda não se sabe o que causou este acidente, mas, desde 2018, a reputação da icónica fabricante aeronáutica tem vindo a sofrer com uma série de incidentes de segurança.
Estes acontecimentos têm dificultado significativamente os resultados da empresa e culminaram no afastamento de dois presidentes executivos da empresa.
Recorde aqui alguns dos principais incidentes que envolveram a empresa nos últimos anos.
2018 - Lion Air 610
Os problemas da Boeing começaram a 29 de outubro de 2018, quando um novíssimo Boeing 737 Max 8 (este modelo tinha sido lançado apenas um ano antes) caiu 13 minutos depois de descolar do aeroporto de Jacarta e matou todos os 181 passageiros e 8 tripulantes que seguiam a bordo.
A investigação revelou que a causa do acidente foi uma falha no sistema de MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System) responsável pela estabilização do aparelho. No relatório final, as causas são apontadas a um conjunto de fatores, incluindo problemas na formação dos pilotos e na manutenção. O acidente, que foi o primeiro de uma série de acidentes a envolver este modelo, colocou em causa a reputação da nova aeronave da marca e mergulhou a empresa numa crise.
2019 - Ethiopian Airlines 302
Menos de cinco meses depois, no dia 10 de março de 2019, outro Boeing 737 Max 8 volta a cair. Desta vez, o acidente envolveu um voo da Ethiopian Airlines que seguia com destino ao Quénia. À semelhança do acidente que envolveu a Lion Air, o acidente aconteceu apenas seis minutos depois do avião descolar da pista, tirando a vida às 157 pessoas que seguiam a bordo - aumentado o número de vítimas deste modelo para 346.
A investigação conduzida pelas autoridades da Etiópia apresentou a mesma causa: o sistema MCAS, que foi ativado devido a um sensor ter captado dados incorretos de ângulo de ataque, o que forçou o Boeing 737 Max 8 a mergulhar a pique. No entanto, o documento menciona também problemas na formação dos pilotos, que não souberam responder de forma adequada, desligando este mecanismo.
Este episódio gerou uma crise sem precedentes na história da empresa, levando à demissão do presidente executivo, Dennis Muilenburg. O 737 Max foi suspenso globalmente durante 20 meses, com as investigações a apontar falhas na certificação e omissões por parte da fabricante americana junto do regulador do mesmo país.
2022 - China Eastern Airlines 5735
Depois de dois anos sem registar incidentes com vítimas mortais, um voo da China Eastern Airlines de Kunming para Guangzhou mergulhou quase na vertical em direção ao solo, tendo morrido todas as 132 pessoas que seguiam a bordo. Desta vez, o avião em causa não era o 737 Max, mas sim um Boeing 737-800. Até à data, a China ainda não publicou os resultados da investigação, apesar de a caixa-negra do avião ter revelado movimentos anormais nos controlos momentos antes da queda.
2024 - Alaska Airlines 1282
Em janeiro 2024, regressam os incidentes a envolver o Boeing 737 Max. Minutos depois de um voo da Alaska Airlines ter descolado do aeroporto de Portland, nos Estados Unidos da América, um componente da porta de uma saída de emergência explodiu a 16 mil pés de altitude, levando à descompressão descontrolada da aeronave. O incidente obrigou a uma aterragem de emergência. Todas as 177 pessoas que seguiam a bordo sobreviveram, apesar de três terem sofrido ferimentos ligeiros.
Este foi o primeiro destes incidentes a acontecer em solo americano e foi alvo de um forte escrutínio por parte do regulador, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, que descobriu que o avião foi entregue à operadora sem quatro parafusos essenciais para fixar a peça que explodiu em pleno voo. A Administração Federal de Aviação suspendeu temporariamente os Boeings 727 Max 9 para inspeção, tendo sido encontrados problemas em 33 das 89 aeronaves inspecionadas.
2024 - United Airlines
Em março, nova dor de cabeça para a Boeing. Um Boeing 777-200 perdeu uma roda do trem de aterragem durante a descolagem no Aeroporto Internacional de São Francisco, nos Estados Unidos, danificando vários carros que estavam no parque de estacionamento dos funcionários. Apesar de tudo, o piloto conseguiu aterrar com segurança no aeroporto de Los Angeles e não houve registo de vítimas.
Em julho, a mesma companhia aérea viu outro avião, desta vez um Boeing 757-200 que viajava de Los Angeles para Denver, perder uma roda do trem de aterragem em plena descolagem. Não houve nenhum ferido e o avião conseguiu completar o trajeto planeado, no entanto, intensificou as críticas contra a manutenção e o fabrico dos aviões da Boeing.
2024 - Latam Airlines 800
Durante um voo de Sydney, Austrália, para Auckland, na Nova Zelândia, um Boeing 787 da Latam Airlines sofreu uma perda abrupta de altitude, projetando vários passageiros contra o teto do avião. Ao todo, 50 pessoas ficaram feridas e 13 tiveram mesmo de ser hospitalizadas. Apesar disso, a aeronave conseguiu aterrar com segurança.
A investigação lançada pelas autoridades neozelandesas ainda está a investigar as causas do incidente, analisando a caixa-negra para determinar a causa do incidente. Várias hipóteses levantadas apontam para uma possível falha técnica ou um problema no assento do piloto, que poderá ter feito um movimento não intencional.
2024 - Air Senegal HC 301
Em maio de 2024, um voo da Air Senegal derrapou durante a descolagem no Aeroporto Internacional Blaise-Diagne, em Dacar, Senegal, causando 11 feridos, quatro deles graves. O avião saiu da pista e o incidente levou ao encerramento temporário do aeroporto. Em causa esteve um Boeing 737, o que levantou ainda mais questões acerca da empresa, que estava envolvida num escândalo depois de um antigo funcionário do fabricante aeronáutico ter vindo a público afirmar que vários aviões da Boeing saem das fábricas com sérios problemas de qualidade.
2024 - Jeju Air 2216
Mas foi em dezembro que a Boeing teve o incidente mais mortal desde 2019, quando um Boeing 737-8AS caiu durante a aterragem em Muan, na Coreia do Sul, matando 179 pessoas. O avião colidiu com uma barreira no final da pista e foi consumido pelas chamas. Apenas duas pessoas sobreviveram. A investigação ainda decorre, mas, devido a uma enorme pressão, as autoridades coreanas suspenderam temporariamente alguns Boeings 737 no país.