Sociólogo tornou-se o rosto de um escândalo de denúncias de assédio sexual no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Um grupo de mulheres investigadoras acusam-no de ter sugerido relações sexuais em troca de benefícios académicos. Boaventura de Sousa Santos nega tudo
É a primeira grande entrevista ao Boaventura de Sousa Santos desde que foi acusado por um grupo de mulheres por assédio sexual e moral. Nela, o sociólogo nega todas as acusações de assédio sexual e moral de que foi alvo, mas admite ter tido comportamentos no passado que hoje seriam considerados impróprios. “Cometi erros, mas não foram desse tipo”, resume.
“Qualquer homem da minha idade que diga que, nos anos 1960 ou 1970, não fez um piropo ou um galanteio a uma mulher, ou é mentiroso ou hipócrita. E qualquer mulher desta idade, que também naquela época, recebeu um piropo ou um galanteio e nunca gostou é mentirosa ou hipócrita”, afirma. E dá exemplos: “estás bonita, bem vestida, uma coisa desse tipo”. Questionado se o alvo desses piropos eram alunos, diz não se lembrar.
Um grupo de mulheres denunciou contactos impróprios e sugestões de sexo em troca de benefícios académicos. O caso levou a uma investigação no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Foi constituída uma comissão independente que concluiu que há indícios de abuso de poder e assédio na instituição.
“Nunca tive contacto, nenhuma dessas pessoas pode invocar ter tido contacto físico ou íntimo comigo. Falam de assédio sexual porque o assédio sexual é o que vende”, reage.
“A minha reputação é internacional. Se me queriam afastar, tinham de o fazer com estrondo”, admite.
Nesta entrevista à CNN Portugal, o sociólogo avança ainda que as mulheres que o denunciam foram privilegiadas, sobretudo porque participaram em projetos financiados pela União europeia, “ganharam muito dinheiro”, mas não produziram os textos com que se comprometeram na investigação científica.
Boaventura acredita que está a ser alvo de uma campanha difamatória. “Estou profundamente magoado. Algumas delas nem conheço. Das 13 trabalhei com quatro ou cinco. Apesar desta mágoa toda, acho que não consigo odiar”, afirmou à CNN Entrevista.
Boaventura de Sousa Santos é reconhecido internacionalmente na academia. Também por isso o escândalo tornou-se notícia no mundo inteiro. O sociólogo nega tudo: “Não digo que haja conluio, mas houve um conjunto de interesses externos e internos. Sou um pensador incómodo, um intelectual crítico, incómodo. Seria um alvo fácil para atacar”.
Questionado sobre os alegados toques em áreas genitais, Boaventura de Sousa Santos mantém: “É absolutamente ridículo. Tenho lógica de proximidade com todas as pessoas. Nós latinos não somos calvinistas, a gente abraça-se. Essa atitude de proximidade e convívio sempre existiu. Fazia jantares com os meus estudantes, sempre no domínio público”.
Boaventura de Sousa Santos insiste que nunca prometeu vantagens e garante que nunca teve um comportamento com mulheres que pudesse ter sido encarado como indesejado: “Não, nunca manifestaram isso. Pelo contrário”.
O caso está em tribunal, com uma queixa apresentada pela defesa de Boaventura de Sousa Santos. Também existe um inquérito a decorrer na Procuradoria-Geral da República.
“Tenho azar com o sistema. Desde dezembro que o processo está parado. Ponha-se no meu lugar. Qual é o efeito útil de uma sentença daqui a um ano? Este processo era para durar três meses”, lamenta.
Boaventura de Sousa Santos tem 84 anos.