Mariana Mortágua não se vai recandidatar à liderança do Bloco de Esquerda

CNN Portugal , MJC
25 out, 13:32

A coordenadora do partido admite que, "após o colapso da maioria do PS", não conseguiu "gerar um novo impulso político e eleitoral"

Mariana Mortágua anunciou este sábado que não se irá recandidatar ao cargo de coordenadora do partido. Numa longa mensagem aos militantes do partido, assume que “não foi cumprido” o objetivo de, após o “colapso da maioria absoluta do PS e com o reforço da direita e da extrema-direita”, “encontrar outros caminhos“.

A deputada considera que esse falhanço aconteceu “não apenas porque continuou a redução do espaço eleitoral do Bloco, mas também porque a renovação que então fizemos não se revelou suficiente para relançar a nossa intervenção social”.

O facto de ter havido, nestes dois anos e meio, "a precipitação de sucessivas campanhas eleitorais tirou espaço e tempo à reflexão interna e prejudicou uma transformação efetiva do funcionamento do Bloco”.

"A direção por mim encabeçada foi incapaz de inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral. Bem sabemos das empenhadas campanhas de ódio dos nossos adversários, mas o certo é que não conseguimos neutralizá-las", admite.

Mariana Mortágua acredita "que o Bloco beneficiará de ter, na coordenação e no parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas que hoje tenho para dar voz ao partido”. Agora, “caberá a cada uma das moções presentes à próxima Convenção apresentar as suas alternativas de direção”

O  partido terá uma convenção nacional no final de novembro.

A carta de Mariana Mortágua na íntegra:

"Camarada,

Há dois anos e meio, quando decidi candidatar-me à coordenação do Bloco de Esquerda, conhecia as difíceis condições políticas da esquerda e do nosso partido. Depois do colapso da maioria absoluta do PS e com o reforço da direita e da extrema-direita era preciso encontrar outros caminhos.

Considero que esse objetivo não foi cumprido. Não apenas porque continuou a redução do espaço eleitoral do Bloco, mas também porque a renovação que então fizemos não se revelou suficiente para relançar a nossa intervenção social.

A política, como a vida, somos nós e as nossas circunstâncias. Nestes dois anos e meio, a precipitação de sucessivas campanhas eleitorais tirou espaço e tempo à nossa reflexão interna e prejudicou uma transformação efetiva do funcionamento do Bloco. A direção por mim encabeçada foi incapaz de inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral. Bem sabemos das empenhadas campanhas de ódio dos nossos adversários, mas o certo é que não conseguimos neutralizá-las.

Face a este balanço e agora que termino o mandato que me foi conferido na última Convenção, comunico-vos que decidi não me candidatar a um novo mandato de coordenadora do Bloco de Esquerda. Tomo esta decisão com a tranquilidade que me deu o constante apoio de todos os meus camaradas ao longo de todo este tempo. Faço-o por acreditar que o Bloco beneficiará de ter, na coordenação e no parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas que hoje tenho para dar voz ao partido. Caberá a cada uma das moções presentes à próxima Convenção apresentar as suas alternativas de direção. A pluralidade reforça-nos.

A esquerda em geral - e o Bloco em particular - atravessa um período difícil e não é só no nosso país. No Bloco, temos orgulho em juntar diferentes gerações, experiências e sensibilidades que são parte essencial da luta popular em Portugal, nos combates do trabalho, da casa, contra as guerras e pela autodeterminação dos povos do mundo.

Estes são os tempos que nos toca viver e o Bloco tem a história, as ideias, a coerência e a militância para os enfrentar e para surpreender mais uma vez quem se assanha para nos atacar. Não temos medo e venceremos os novos fascistas e toda a opressão com a força da ideia socialista. Serei parte desse caminho, como sou há quase vinte anos. Confio neste partido, na gente que o faz. Conta comigo."
 

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