"Já nos conhecem mas ainda não viram nada": Mariana Mortágua, o 1.º discurso do 1.º dia enquanto líder

28 mai 2023, 14:59

Nova coordenadora do Bloco de Esquerda recordou a "resistência" do pai, deu "razão" à irmã e promete nunca se calar nem encolher "perante a intimidação" de que diz ser alvo. Acusa Costa de enfraquecer a esquerda e de tirar esperança ao país

"Já nos conhecem mas ainda não viram nada da força que sabemos criar, reinventar e unir." Foi com este "recado" aos adversários que Mariana Mortágua recebeu o testemunho de Catarina Martins na liderança do Bloco de Esquerda.

Mariana Mortágua ainda não tinha subida ao púlpito da XIII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda (BE), que decorre em Lisboa, e os militantes já a a aplaudiam de pé. Mesmo aqueles que momentos antes erguerem a credencial para votar na moção E, a dos seus opositores.

Já lá em cima, a nova coordenadora do Bloco viu "uma sala a abarrotar de força" que lhe dá "razões para sentir toda a esperança do mundo". Dirigindo depois o olhar para a irmã, que a ouvia da mesa nacional, Mariana recordou que foi Joana Mortágua quem a "convenceu" que no Bloco encontraria gente como ela, "que acha que a vida vale a pena quando lutamos por aquilo em que acreditamos".

"Herdámos do nosso pai uma memória de resistência contra a ditadura", declarou, seguindo-se uma onda de aplausos e uma ovação dos bloquistas, mesmo dos críticos internos.

E a irmã, que "nunca tem razão", "desta vez teve", reconhece Mariana. "Percebi como o Bloco comprova que se consegue o mais difícil. Dizia-se que era impossível juntar tanta esquerda numa nova força com tanto impacto popular e superar a maldição do sectarismo e da divisão. Que era impossível ganhar o referendo do aborto. Que era impossível obrigar o PS a desistir do congelamento das pensões e fazer um acordo em 2015 para afastar Passos Coelho. Diziam que era impossível, mas vencemos todas essas provas e, em cada uma, Portugal ficou um país melhor."

Elogiando a "força imparável" de Catarina Martins ao longo dos seus 11 anos à frente dos bloquistas, a nova coordenadora promete continuar a não vergar perante "perseguições da extrema-direita e de um magnata da comunicação social". "Que essa gente sem escrúpulos saiba que este partido não se cala perante o abuso e não se encolhe perante a intimidação."

Mais do que não se calar e não se encolher, promete "combater a direita", impedindo que tenha "maioria para impor o seu programa ao país". "Portugal não será o país onde se espancam imigrantes nas fronteiras e se multiplicam Odemiras. Portugal não será um país sem serviços públicos de saúde e de educação, como propôs o Chega no seu programa. Portugal não será um país sem salário mínimo nacional, sem escolaridade obrigatória até ao 12º ano ou um país em que cada universitário se endivida para poder estudar, como querem os liberais".

Mariana Mortágua prometeu aos militantes que as 13 convenções e "esta sala cheia são só o começo do Bloco de Esquerda (António Cotrim/Lusa)

Mas, para isso, é preciso "recuperar a força da esquerda", e é isso que Mariana Mortágua se compromete a fazer num novo cenário de crise política: "Se por desistência, por conveniência ou por jogada de um ou de outro dos protagonistas desta maioria absoluta uma nova crise política se conjugar, cá estaremos, camaradas, para que a recuperação da força da esquerda permita impor um programa que devolva a este país o que a voragem da maioria absoluta tirou: dignidade e esperança".

Apesar de haver "quem lhe dê mau nome", a coordenadora insiste em chamar ao projeto do Bloco "socialismo", entendendo ser essa a definição de "liberdade e democracia". "Chamem-lhe ecologia, responsabilidade, cuidado, igualdade, amizade. Chamem-lhe paixão."

No final, Mariana recebeu uma ovação em peso, colorida com as bandeiras do Bloco de Esquerda, vermelhas e roxas, e os tons do arco-íris da bandeira LGBTQI+. Afinal, era uma "sala a abarrotar de força" e foi ao som de Maré Alta, de Sérgio Godinho, que acederam ao pedido de José Gusmão, da mesa nacional da convenção, para desmontar a sala, arrumando as cadeiras e as mesas.

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