Críticos de Catarina Martins dizem que não retirar consequências dos resultados do Bloco é "arrogância política inadmissível"

Agência Lusa , CE
28 abr 2022, 12:47
Catarina Martins admite "mau resultado" e reconhece "derrota" do Bloco

Os subscritores do texto criticam a linha política "incoerente e ziguezagueante" e apontam o "afunilamento do discurso nas alianças com o PS" como o factor que "isolou e fragilizou" o partido

Críticos da atual direção do BE consideram que não retirar consequências dos maus resultados eleitorais do partido é uma “arrogância política inadmissível”, condenando a linha política “incoerente e ziguezagueante” e a recusa em antecipar a Convenção Nacional.

Estas são algumas das ideias de uma das propostas globais alternativas àquela que foi apresentada pela Comissão Política do BE e que será discutida na Conferência Nacional do partido, que se vai realizar no sábado, em Lisboa, para discutir o rumo estratégico do partido depois da pesada derrota nas últimas legislativas.

O histórico Mário Tomé e os ex-deputados Pedro Soares e Carlos Matias estão entre os subscritores deste texto crítico da liderança de Catarina Martins, subscrito por vários membros do movimento Convergência, entre outros, uma proposta intitulada “Unir o Bloco para mudar de rumo e recomeçar de novo”, uma alusão ao manifesto fundador do BE então batizado “Começar de novo”.

Mário Tomé, Pedro Soares e Carlos Matias

Neste texto é feita uma análise crítica do “ciclo de perda de influência política” do BE, que culminou nas eleições legislativas de 30 de janeiro e na qual os bloquistas ficaram reduzidos a cinco deputados e tiveram o pior resultado em 20 anos.

“Não retirar consequências dos resultados eleitorais obtidos configura uma atitude de arrogância política inadmissível num partido de esquerda que pretende responder à vontade popular”, condena, considerando essencial “retirar conclusões do ciclo de derrotas” e “ter uma atitude autocrítica que será popularmente valorizada”.

Para estes bloquistas, um BE “mobilizado na afirmação do seu programa e claro na definição das suas linhas vermelhas não significa qualquer atitude isolacionista”, defendendo que aquilo que “isolou e fragilizou a resistência à bipolarização foi o afunilamento do discurso nas alianças com o PS”.

De acordo com estes subscritores, “há um traço comum” neste ciclo, ou seja, “a linha política de permanente apelo a uma aliança com o PS com diluição das bandeiras que foram essenciais na afirmação do Bloco”, considerando que o voto contra o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) foi “um passo insuficiente, uma vez que toda a linha política era incoerente e ziguezagueante face à insistência no essencial da orientação que punha no centro da ação do BE um acordo para apoio à governação PS”.

“Para as legislativas antecipadas, o Bloco precisava de se ter preparado e ter sido, há muito, claro e frontal no seu projeto de sociedade, programa e política de alianças, com uma linha coerente com o chumbo dos orçamentos do Estado, em vez de se ter deixado diluir num ‘geringoncismo’ serôdio”, condena.

Estes bloquistas recordam que “todos os objetivos eleitorais apontados pelo Bloco não foram alcançados” já que o partido deixou de ser a terceira força política, não conseguiu impedir uma maioria absoluta do PS nem derrotar a extrema-direita.

“A derrota eleitoral expôs a falência de uma linha política que propiciou a via de António Costa para capitalizar os louros da ‘geringonça’, alimentar a chantagem para secar a esquerda e conquistar a maioria absoluta que perseguia desde 2018”, lamentam.

Para os críticos, estes maus resultados não se resolvem “com a demissão deste ou daquela dirigente”, diagnosticando um problema “mais profundo” que se prende “com a própria linha política que determinou a forma de comunicação e com a centralidade dada à ansiedade de concretizar um acordo com o PS”.

“Estes fatores trouxeram a esquerda até esta nova derrota e não podem deixar de ser avaliados com profundidade, humildade e coragem, para uma necessária e inadiável mudança de rumo. Compete à Convenção Nacional fazê-lo, constituindo uma grave entorse à democracia interna poder considerar que uma Convenção é substituível por uma Conferência sem representação democrática e proporcional das propostas e sem capacidade deliberativa”, aponta.

Na opinião destes bloquistas, "torna-se insensato e temeroso considerar negativa a realização da maior reunião pública do Bloco, o órgão máximo da democracia bloquista".

Há cerca de um mês, mais de 100 aderentes do BE – lista onde se podiam encontrar vários dos subscritores desta proposta à Conferência Nacional - pediram à Comissão Política a convocação da XIII Convenção Nacional até junho, antecipando assim um ano a reunião magna bloquista, para “definir democraticamente a orientação política do Bloco para os próximos dois anos”, uma proposta que foi chumbada por aquele órgão.

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