Lembra-se do Tamagotchi do Benfica?

1 mar 2023, 09:36

Chamava-se Seo Jung-Won, era um extremo da Coreia do Sul e os adeptos do Benfica resolveram dar-lhe a alcunha de «Tamagotchi». Porquê, se não era sequer japonês? Bem, era asiático e nos anos noventa isso bastava. O jogador não ficou na Luz, mas a memória da alcunha perdura até hoje. O Maisfutebol foi ver o que lhe aconteceu e descobriu que construiu uma excelente carreira.

«Máquina do tempo» é uma rubrica do Maisfutebol que viaja ao passado, através do arquivo da TVI, para recuperar histórias curiosas ou marcantes dos últimos 30 anos do futebol português.

Em julho de 1997 o Benfica arrancava para uma nova temporada cheio de entusiasmo.

A equipa então orientada por Manuel José tinha investido mais de dois milhões de contos, o que na época era uma verdadeira fortuna, para garantir reforços como Paulo Nunes, Gamarra, Nuno Gomes, Erwin Sanchez, Scott Minto, Ovchinnikov, Paulo Madeira e Gaston Taument.

A meio da época ainda chegaram Poborsky, Brian Dean e Kandaurov.

Ora por isso a expetativa era enorme e os primeiros treinos da temporada no Estádio da Luz contaram com milhares de adeptos a acompanhar tudo de sorriso nos lábios.

No dia da apresentação, a 17 de julho, por exemplo, os três mil adeptos presentes no campo de treinos da Luz tiveram mais uma surpresa: chamava-se Seo Jung-Won, era um extremo esquerdo e vinha da Coreia do Sul. Para surpresa de toda a gente, surgiu a treinar com o plantel.

Para a história ficou-lhe a alcunha de Tamagotchi.

Nesta altura convém lembrar que Portugal nessa altura tinha sido atingido pela febre dos tamagotchis. Eram, no essencial, animais de estimação virtuais, que vinham dentro de um ovo digital, muito arcaico para o que existe agora, que obrigava os donos a tratar deles como se fossem de facto animais: era preciso dar-lhes de comer, dar-lhes banho, levá-los ao médico, apagar-lhes a luz para dormir, enfim, todas as necessidades que um animal real também tem.

O objetivo era educar as crianças para a necessidade de serem responsáveis com os animais. Por isso se o animal virtual não fosse bem tratado, acabava por morrer. Pelo contrário, se os cuidados não falhassem o animal pode viver até vinte e cinco anos.

Ora a criação de origem japonesa espalhou-se entre as pessoas, não só em Portugal, mas um pouco por tudo o mundo, e aqueles pequenos aparelhos coloridos tornaram-se uma moda. O gadget pegou. Pegou tanto, aliás, que toda a gente achou genial quando a alcunha foi atribuída a Seo Jung-Won.

Mas quem era afinal Seo Jung-Won?

Era um extremo rapidíssimo, que dava nas vistas por, dizem, conseguir correr cem metros em pouco mais de onze segundos. Começou a jogar na universidade e brilhou no LG Cheetahs (hoje FC Seoul), mas foi obrigado a interromper a carreira por dois anos para cumprir o serviço militar.

No regresso, quis tentar o futebol europeu e esteve à experiência na Alemanha e nos Países Baixos. Não ficou e por isso surgiu em julho no Benfica, que ficou impressionado com a velocidade do jogador. Realizou quatro jogos particular, fez um golo e não ficou na Luz.

Continuou a tentar a sua sorte e acabou por assinar com o Estrasburgo, de França, onde esteve uma época e meia. Voltou depois à Coreia do Sul e, antes de terminar a carreira, ainda passou pelo futebol austríaco durante quatro anos, um deles no RB Salzburgo.

Considerado na altura uma das maiores estrelas do futebol sul coreano, jogou 38 vezes pela seleção. Esteve nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 92, e nos Mundiais dos Estados Unidos, em 94, e de França, em 98. Logo que acabou a carreira, tornou-se adjunto da seleção.

Na última década afirmou-se como treinador de destaque no futebol asiático, primeiro nos coreanos do Suwon Bluewings (no qual conquistou dois vice-campeonatos e uma Taça da Coreia), e nos dois anos mais recentes no Chengdu Rongcheng, da Superliga Chinesa.

Em Portugal, sobretudo nas gerações mais velhas, Seo Jung-Won ainda traz saudades de sorriso no canto dos lábios. E não é propriamente pelo futebol, claro.

Relacionados

Benfica

Mais Benfica

Patrocinados