Novo treinador fala das suas motivações, diz o que mudou desde a primeira passagem pelo clube e destaca também a «ética» do contrato que assinou
Apresentação de José Mourinho, no Seixal, como novo treinador do Benfica, em substituição de Bruno Lage. Primeiro treino está marcado para as 16h00:
Houve alguma angústia sair do Benfica da forma como saiu há 25 anos? Hoje é um dia especial também por isso?
«Tento bloquear esses sentimentos e acho que é importante que o consiga fazer. São duas fases completamente diferentes, não só da minha carreira, mas também da minha vida como homem. É um início de uma carreira e hoje estou num momento de grande maturidade em que objetivamente digo: se alguém está à espera que acabe a carreira daqui a três ou quatro anos, está completamente enganado. Sou eu que vou decidir quando vou acabar. Vou acabar quando sentir que não tenho a mesma paixão que tenho hoje. O presidente sabe que é verdade, eu queria vir ontem à noite, queria estar aqui a trabalhar, queria estar com os analistas, com os assistentes, mas só foi possível vir hoje por volta do meio-dia.»
«Queria dizer que só vou acabar quando sentir que alguma coisa mudou. Hoje o que estou a sentir é que tenho mais fome do que tinha há 25 anos no início da minha carreira. Estou numa fase diferente. Se calhar hoje, as coisas não teriam sido como foram há 25 anos. Hoje penso muito mais nos outros. Quem ama o clube, os jogadores, que dirige o clube, há uma série de coisas em que eu venho muito depois. Eu sou o último da fila, estou aqui para servir. Aquele momento foi completamente diferente ao nível da maturidade que me levou a tomar determinadas decisões. Estou superfeliz por estar aqui, é uma enorme responsabilidade, mas sinto-me mais vivo do que nunca. É pena que o jogo seja daqui a dois dias, porque tenho pouco tempo para trabalhar, mas ao mesmo tempo é bom porque estou desejoso que isso aconteça. Tenho paixão por isto e isto é muita coisa. Quero muito. Sinto-me com motivação para fazer coisas boas e fazer coisas boas aqui, principalmente a nível nacional, é ganhar títulos.»
Já treinou os melhores clubes do mundo. Porque é que diz este é o principal desafio e o que o mais o responsabiliza? Assinou dois anos de contrato, até 2027, mas com opção de não continuar depois desta temporada?
«Acho que o contrato tem uma grande ética por detrás. Eu só o assinei, não o elaborei, foi elaborado pela direção do Benfica, pelo presidente e pelos meus representantes. Obviamente que só assino aquilo que me agrada e com o qual concordo, mas acho que tem um conceito ético tremendo. Acho que tem da parte do clube um respeito enorme pelas eleições, tem um respeito enorme pelos outros ilustres consórcios que vão concorrer à presidência do cube e acho que isso é de louvar. A mim, sensibilizou-me o contrato ser direcionado a essa ética. Obviamente que no dia seguinte às eleições eu serei o treinador do Benfica, mas o contrato dá uma ampla liberdade que me deixa satisfeito. Quero trabalhar no Benfica, mas também quero que as pessoas confiem em mim e estejam no mesmo barco do que eu. O meu desejo é cumprir os dois anos de contrato com o Benfica. Cumpri-los com êxito. Que o êxito permita que o clube depois ou antes do final do contrato queira renovar comigo. O meu objetivo é ser bem-sucedido e, no Benfica, ter êxito, a nível nacional, é ganhar títulos.»
Passados 25 anos, que vontade é que tem para regressar a Portugal aos 62 anos?
«Aquilo que não mudou em absoluto é que estou doido para ganhar o próximo jogo. Há 25 anos estava doido para ganhar o jogo, há 20 anos estava doido para ganhar o jogo, há dez anos…há cinco meses estava doido, quando joguei contra o Benfica, há um mês atrás, estava doido para ganhar a Benfica. Agora estou doido para ganhar ao Desportivo das Aves. Esse sou eu, essa é a minha essência. Aquilo que está diferente, obviamente que há muito mais maturidade, praticamente tudo no futebol passa a ser deja vu. É muito difícil que aconteça alguma coisa no futebol, que eu não me tivesse deparado já na minha carreira. Venho para um clube que tem uma estrutura humana e profissional de altíssimo nível. As pessoas que vão estar comigo são ótimas, são a minha gente no primeiro dia. No segundo dia, já não são a minha gente, no segundo dia são todos os outros. Trabalhar num clube evoluído como é o Benfica, ao nível técnico e humano, é obviamente fantástico para mim.»