É consensual, Bruno
Haverá quem não o veja com a clareza dos observadores do fenómeno e até dos adeptos do Benfica, que na noite desta terça-feira deixaram bem vincado, por incontáveis vezes, o que pensam do futebol praticado pela equipa de Bruno Lage.
Haverá também quem veja o futebol do Benfica de uma perspetiva resultadista, como que a adiar a urgência premente de se ver mais do que o pouco visto até agora. Afinal de contas, as águias começaram a época com a conquista da Supertaça, o apuramento obrigatório para a Champions e três vitórias no campeonato, antes do tropeção na Luz com o Santa Clara.
Nesta terça-feira, na receção ao Qarabag, tudo parecia correr de feição ao Benfica. Dedic regressou de lesão, Sudakov foi titular e ao fim de 16 minutos os encarnados já venciam por 2-0 um conjunto azeri que é, não obstante a vitória incrível arrancada na Luz por 3-2 – o que diz mais sobre o Benfica do que se si própria –, indiscutivelmente um dos mais fracos entre os 36 presentes na Liga dos Campeões.
Sudakov, com uma assistência e meia para, apaixonava as bancadas com detalhes de um dez à antiga, Enzo enchia o meio-campo e o jogo parecia arrumado.
Só que as notícias de uma cura instantânea, quiçá milagrosa, da equipa de Bruno Lage eram manifestamente exageradas. Porque ela, também quase instantaneamente, mas não inexplicavelmente, mudou e para muito pior.
O golo do algarvio Leandro Andrade à meia-hora permitiu ao Qarabag acreditar que podia ainda levar algo mais desta noite e instalou o pânico na Luz. Os erros acumularam-se – António Silva que o diga (!) – e os assobios multiplicaram-se a cada passe falhado, desatenção ou reação tardia.
Ao intervalo, a vantagem do Benfica era mínima, assim como era mínima a qualidade do futebol praticado pelo conjunto encarnado, que só por manifesta fortuna não viu o Qarabag empatar ou, até, virar o resultado.
O técnico das águias tinha a oportunidade de retificar durante aqueles 15 minutos no balneário, mas não dependia tudo dele, até porque o que se vira no relvado não fora apenas o reflexo de ideias erráticas transmitidas por um treinador. Eram também erros não forçados aos quais nenhum treinador consegue resistir.
A tempestade que já se formava na Luz passou a perfeita na etapa complementar. Numa jogada em que António Silva ficou a observar, Duran fez o 2-2 aos 49 minutos.
Só muito a espaços se via na Luz clareza de ideias para desmontar a estrutura do Qarabag, cada vez mais confortável a jogar numa Luz que se virava sobretudo contra um treinador que só ao minuto 70 decidiu mudar o que há muito estava mal.
Mas não mudou para melhor. Apesar de entrega e mais velocidade, Prestianni e Ivanovic não conseguiram o que, no fim de contas, se pretendia deles: o resgate de uma vitória. Henrique Araújo e Leandro Barreiro também não.
Por isso foi em choque, mas não propriamente com surpresa, que a Luz recebeu o golpe fatal do Qarabag, quando aos 86 minutos Kaschuk assinou a reviravolta em mais uma jogada de profundo desnorte alheio, assim como foi inexplicável que o suplente João Rego, que se preparava para entrar e vira o 2-3 da linha do meio-campo, tivesse sido novamente chamado para o banco.
Consumou-se, no fundo, uma tragédia anunciada em mais uma noite de qualidade futebolística preocupante.
E, com isto, Bruno Lage tem de estar preocupado. Até porque ficou bem claro, pelos gritos de demissão, assobios e lenços brancos, que há consenso entre os adeptos do Benfica sobre o que pretendem para o imediato.