Jorge Jesus teve um problema adicional na vizinhança: Rúben Amorim, pelo contraste. Era o treinador certo para o Benfica, mas esse deixaram-no voar…
Acabou!
O regresso de Jorge Jesus ao Benfica redundou num enorme fracasso.
Jesus fora a carta que Luís Filipe Vieira havia lançado para a mesa para ganhar o jogo da reeleição.
O ex-presidente dos ‘encarnados’ lançou mão de uma relação muito próxima (chamam-lhe amizade) e explorou até ao tutano o efeito do trabalho realizado por Jorge Jesus na liderança do Flamengo.
Jesus chegou a Lisboa de peito feito. Com o ego em alta. Inchado de orgulho e de conquistas no Rio de Janeiro. O seu discurso de (re)apresentação foi retumbante: era ganhar, jogar o triplo e unir a nação benfiquista.
Não ganhou, nunca jogou o triplo e desuniu ainda mais a já fraturada nação benfiquista. Talvez tenha unido ainda mais a fação mais radical contra a sua presença na Luz e perdido alguns ‘votos’ entre os apoiantes, porque perante o investimento também era legítimo esperar mais do seu desempenho.
A questão da união ou da desunião resultou determinante e foram elas que tiveram um peso inelutável neste desfecho.
Jesus acreditou que conseguia impor as suas ideias, métodos e forma de estar junto dos jogadores e do ‘aparelho’, mas essa ‘imposição’, isto é, a projecção da “autoridade com brutalidade” — o verdadeiro calcanhar de Aquiles do treinador — acabou por ser a sua guilhotina.
Há uma lei inexorável que Jesus desprezou, com toda a sua experiência: não há nenhum treinador que resista se não tiver o apoio dos jogadores.
A quebra de confiança foi decisiva: Jesus já não tinha a confiança de ninguém e o próprio Jesus já não confiava em ninguém. E, aqui, a responsabilidade é geral.
Jorge Jesus só funciona se tiver apoio máximo de toda a gente: do presidente, de cada um dos dirigentes (que ele genericamente despreza), da equipa técnica (com a qual chega a ser implacável), de cada um dos jogadores (se não houver veneração fica mais difícil), do tratador da relva e da águia Vitória (activa ou passiva).
Jorge Jesus acreditou que Rui Costa iria ser a sua rede. Não foi: por uma razão. Porque Rui Costa quer sobreviver. Rui Costa está numa fase em que faz crer que é capaz de liderar ou não.
Jesus rebentou, mas é preciso ter a noção de que há muitos culpados nesta incrível telenovela. O que se consentiu (os ‘cafezinhos’ do Flamengo), o que não se fez e as ilações a tirar de toda esta representação.
Um clube tão grande com um grande problema de governação. Esta é a verdade. Jesus constituiu-se num problema, mas o Benfica tem um enorme problema pela frente: redefinir o seu centro de poder e introduzir um treinador que ‘pense Benfica’ além de ‘pensar futebol’. Com uma ‘paixão racional’, com uma comunicação justa e equilibrada, com vontade de agregar e compreender o fenómeno global.
Jesus teve um problema adicional: o contraste estabelecido por Rúben Amorim, no Sporting. Rúben Amorim era o treinador certo para o Benfica, mas esse deixaram-no voar…