Timofte aos 89, aquele dia em nome de Eusébio, o 1-2 às escuras, o 11 de Bento a Nené: Benfica-FC Porto, regresso ao passado II

6 abr 2023, 15:00
Benfica vs FC Porto (REUTERS)

Esta sexta-feira há clássico. Até lá recordamos clássicos de outro tempo. Neste caso: clássicos que decidiram o título

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Matar a dúvida ou ganhar alento - é isso que move Benfica e FC Porto para o jogo desta sexta-feira: para o Benfica é fechar de vez a questão do título, para o FC Porto é ter uma esperança final de que sete pontos de distância são sete pontos possíveis de recuperar. A história recente mostra que o FC Porto até vence mais na Luz do que o Benfica o faz neste clássico - e nos últimos 12 anos foram quatro as vitórias do FC Porto que decidiram ou encaminharam o título. Na primeira dessa série, em 2010/11, e na última, em 2021/22, as vitórias valeram mesmo o campeonato em pleno Estádio da Luz.

Estas são histórias de quando o clássico mudou ou confirmou o rumo do campeonato.

1935/36: ponto por ponto

A vitória ainda valia dois pontos mas o campeonato decidiu-se por um. A primeira divisão portuguesa estava na fase embrionária, eram apenas oito equipas (lembra-se do Carcavelinhos?) a disputar a liga, que ia apenas na segunda edição.

O Benfica venceu o FC Porto por 5-1 num jogo em que os 22 jogadores que entraram em campo eram portugueses, algo bem diferente do que acontece neste século. No banco estavam dois húngaros, Lippo Hertzka pelo Benfica e Ferenc Magyar pelo FC Porto.

1980/81: tantas glórias

Novamente a cair para o Benfica, a época de 1980/81 terminou com os dois rivais separados por dois pontos. À 23.ª jornada surgiria o jogo decisivo, com o Benfica a receber e a vencer o FC Porto por 1-0 com um golo marcado por João Alves.

Nos encarnados apareciam nomes como Bento, Chalana ou Humberto Coelho, enquanto o FC Porto tinha a despontar parte da equipa que venceria anos mais tarde a Taça dos Campeões Europeus.

Onze do Benfica no clássico de 1980/81

 

Onze do FC Porto no clássico de 1980/81

1991/92: embalar para o título

Ainda se lembra de Timofte? Em Portugal marcou um total de 80 golos, 36 deles no FC Porto (jogou depois no Boavista). Numa tarde de sonho fez um golo ao Benfica, a 22 de março de 1992, mesmo em cima da hora (89 minutos). Os dragões chegavam à Luz com mais cinco pontos, num daqueles Clássicos que podiam relançar tudo ou fechar o campeonato. Fechou. Os rivais ficariam separados por dez pontos, tendo sido na Luz que o título ganhou embalo definitivo. Ainda se lembra do jogo? Recorde aqui (uma pista, há Yuran no Benfica, ele que depois iria para o FC Porto, e a histórica duplca Domingos/Kostadinov).

2002/03: dragão dourado

O FC Porto conquistou em 2003 tudo o que podia, incluindo a mítica Taça UEFA de Sevilha, contra o Celtic de Glasgow. Era a primeira época inteira de José Mourinho e a diferença para os rivais fez-se notar desde logo.

Após três anos sem ganhar o título, o FC Porto embalou definitivamente para a reconqusita com uma vitória na Luz. Um caso muito parecido ao desta época: os azuis e brancos tinha mais dez pontos e procuravam aumentar a vantagem, o que conseguiram graças a uma vitória com um golo de Deco.

No fim do jogo José Mourinho veio, ao seu estilo, ironizar com o que se disse e escreveu antes da partida. Disse o treinador que a comunicação social tinha conseguido fazer de tudo para colocar o Benfica ao nível do FC Porto, parabenizando a Luz por ter enchido como se de um jogo do título se tratasse. E tratou-se, como se viu mais tarde.

2010/11: as luzes

Se perguntarmos a um portista, sobretudo aos mais jovens, qual o jogo que recordam no Estádio da Luz, dificilmente a resposta será outra que não a partida de 3 de abril de 2011. Já não era José Mourinho mas o seu discípulo, André Vilas Boas. Uma época em tudo parecida à de 2002/03, com o FC Porto a conquistar praticamente todos os troféus que disputou, incluindo a Liga Europa (só não conquistou a Taça da Liga). Mas a vitória na Luz foi ainda mais especial. É que o 2-1 daquele dia valeu, em pleno relvado do rival, o título de campeão nacional. O Benfica decidiu desligar as luzes e ligar a rega do estádio, mas isso só ajudou ainda mais à festa portista, que quebrava a vitória do ano anterior da equipa então liderada por Jorge Jesus. Para a memória dessa partida, além das imagens da festa, fica o erro do guarda-redes do Benfica, Roberto, que teve uma época para esquecer, nomeadamente contra o FC Porto.

A festa do FC Porto após vencer o título no Estádio da Luz (Patrícia de Melo Moreira/Getty Images)

2013/14: em memória de Eusébio

Estávamos apenas em janeiro, ainda se jogava a primeira volta, mas para quem viu, ficou uma clara sensação no ar. No dia 5 de janeiro o Rei Eusébio morria e exatamente uma semana depois o Benfica renascia.

Num Estádio da Luz lotado, com toda a emoção à mistura, sentiu-se que a vitória por 2-0 embalou o Benfica para um título que tinha mesmo de ganhar: colocar fim ao ciclo vitorioso do FC Porto (que vinha de um tricampeonato) e ter algo para dar ao King.

Foi o início de uma inversão de ciclo. Até então com um FC Porto hegemónico, o Benfica - primeiro com Jorge Jesus e depois com Rui Vitória - lançou-se para um tetracampeonato. Em 2017/18 entrava na luta pelo penta, mas ao Dragão chegava Sérgio Conceição. Mesmo sem reforços de peso, e baseado na recuperação de atletas até então preteridos, o técnico azul e branco elevou o nível competitivo do dragão e colocou a equipa de regresso à luta pelo título.

2017/18: o fim do penta

No dia 15 de abril de 2018, à 30.ª jornada, a Luz recebia o FC Porto para tentar matar o campeonato. O Benfica tinha mais dois pontos e podia fechar ali a busca pelo penta. Mas Sérgio Conceição e os seus jogadores, nomeadamente Héctor Herrera, tinham uma ideia diferente.

Num jogo cinzento e quase sempre mal jogado, o mexicano foi mais esclarecido que todos os outros e atirou, já aos 90 minutos, para o golo que deixaria o FC Porto na frente do campeonato, de onde já não saiu.

Nota: este texto baseia-se em campeonatos em que Benfica e FC Porto foram sempre os dois primeiros, não entrando assim jogos como o da última época, em que os dragões se sagraram campeões no Estádio da Luz mas o Benfica não ficou nos dois primeiros lugares

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