De Portugal para o Mundo: goleadores aos 40

1 mai 2023, 09:04
Goleadores aos 40

Cardozo tem sido recorrentemente notícia pelos golos que marca e outros feitos no futebol do Paraguai, mas há mais como ele. Hernán Barcos, por exemplo, está em grande no Alianza Lima e já se discute se é o melhor estrangeiro da história do clube. Já Lisandro Lopez continua, aos 40 anos, a jogar na Primeira Divisão da Argentina e a ser herói. Impressionante, não é? Mas há mais nomes que quarentões, ou perto disso, que passaram por Portugal e ainda dão que falar. Venha daí nesta viagem.

Os feitos de Óscar Cardozo não são propriamente uma novidade para os portugueses.

O antigo avançado do Benfica fez há cerca de um mês um póquer em 45 minutos, com a camisola do Libertad, o que para quem o conhece até não seria nada surpreendente. Não fosse dar-se o caso, porém, de o paraguaio estar quase a celebrar 40 anos de vida.

Em maio Cardozo completa quatro décadas e a verdade é que continua aí para as curvas. No ano de 2023, o avançado já soma 14 jogos, ao longo dos quais fez dez golos e três assistências.

Fantástico, não é?

Cardozo, recorde-se, brilhou no Benfica durante sete temporadas. Jogou um total de 293 jogos, mundo, marcou 172 golos, ganhou dois títulos de campeão e uma Taça de Portugal.

Abandonou o Estádio da Luz com 31 anos e toda a gente pensava que para cumprir as últimas temporadas antes de pendurar as chuteiras, mas a verdade é que Cardozo descobriu uma segunda juventude.

Cumpriu duas épocas na Turquia e uma na Grécia, ao serviço de Trabzonspor e Olympiakos, fez um total de 100 jogos e marcou 30 golos, para aos 34 anos regressar ao Paraguai natal.

Desde então, com a camisola do Libertad, jogou mais sete temporadas, foi o melhor marcador do Paraguai em 2018, apurou o clube para a terceira eliminatória da Libertadores com um golaço de 40 metros e tornou-se o maior goleador da história do futebol paraguaio.

A história de sucesso de Óscar Cardozo não é, porém, um caso inédito.

O mundo, e sobretudo a América do Sul, destacam nesta altura outros jogadores com passagem pelo futebol português e que aos 40 anos, ou perto disso, insistem em reanimar a veia goleadora.

Um dos casos que tem mais dado que falar é do Hernan Barcos: o avançado que passou pelo Sporting está em grande no Peru. Ligeiramente mais a sul, na Argentina, Lisandro Lopez continua a fazer o que mostrou no FC Porto que era a sua especialidade. Golos, pois claro.

Mas por partes.

Contratado por Bruno de Carvalho em janeiro de 2016, para substituir Fredy Montero, que acabara de ser vendido aos chineses do Tiajin Teda, o argentino teve uma passagem curta por Alvalade: cumpriu apenas meia temporada, realizou oito jogos (nenhum como titular) e não fez nenhum golo. Saiu em agosto para o Velez Sarsfield e não deixou saudades.

Barcos, que antes disso brilhara sobretudo no futebol brasileiro, ao serviço de Palmeiras e Grémio, andou depois feito saltimbanco, da Argentina para o Equador, do Equador para o Brasil, do Brasil para a Colômbia, passou até pelo Bangladesh, mas sempre com pouco sucesso.

Até que aos 37 anos chegou ao Peru e assinou pelo Alianza Lima. Em três temporadas fez 81 jogos, 33 golos e 15 assistências, tornou-se líder da equipa e foi fundamental para a conquista de dois títulos de campeão. O Alianza está, aliás, a lutar pelo terceiro título consecutivo e Barcos continua a ser fundamental para isso: em quatro meses já festejou quatro golos.

Por isso a discussão nesta altura no Peru é se Hernán Barcos não é já o melhor estrangeiro da história do clube. Ele que também conta nesta altura com 39 anos.

Outro nome que continua aí para as curvas é o de Lisandro Lopez.

O argentino que jogou quatro temporadas no FC Porto, durante as quais foi sempre campeão, ainda mexe aos 40 anos. Nesta altura representa o Sarmiento de Junín, que disputa a primeira divisão da Argentina. Cumpre aliás a segunda época no clube.

Lisandro, de resto, tem o hábito de ser herói por onde passa. No FC Porto foi, ao lado de Lucho González, um dos líderes da equipa tetracampeã com Jesualdo Ferreira. Foi depois transferido para o Lyon onde marcou 82 golos durante quatro anos e voltou ao Racing Avellaneda, clube no qual se tinha formado e onde é um ídolo: foram 78 golos em nove longas temporadas.

Quando o corpo se calhar já pedia descanso, Lisandro Lopez assinou pelo Sarmiento, de Junín, o que lhe permitiu ficar a 30 quilómetros da Rafael Obligado natal e mais perto da família. As quatro décadas de vida já pensam nas pernas, Lisandro Lopez divide a titularidade com o banco em partes iguais, mas já soma 49 jogos, nove golos e uma assistência em ano e meio.

Nestes quatro meses de 2023 são apenas dois golos, é verdade, mas o ano ainda vai curto.

Cardozo, Hernán Barcos e Lisandro Lopez são os três casos mais destacados de quarentões (ou perto disso) que estão a dar que falar depois de sair de Portugal. Mas há mais. Por isso o Maisfutebol recorda outros nomes que continuam por aí a jogar... e a marcar.

Belluschi voltou a ser feliz no modesto Estudiantes de Rio Cuarto

Outro argentino que passou pelo FC Porto e ainda mexe é Fernando Belluschi. Tem 39 anos e joga no Estudiantes de Rio Cuarto, na Segunda Divisão argentina.

O médio, que vai completar quatro décadas de vida ainda este ano, jogou dois anos e meio no Dragão e integrou a equipa do FC Porto que ganhou tudo com André Villas-Boas.

Depois passou por Itália, Turquia e México, voltou à Argentina com 33 anos e ganhou uma nova vida. Durante seis temporadas jogou no San Lorenzo, no Lanus e no Newell’s Old Boys, foi eleito o jogador argentino do ano em 2016 e conquistou uma Supercopa da Argentina.

Há ano e meio, e após um período de menor utilização no Lanus, assinou pelo Estudiantes de Rio Cuarto. Até agora fez 33 partidas, apontou três golos e garante que voltou a ser feliz.

Bergessio (sim esse, Benfica) ainda faz golos na Segunda Divisão argentina

Definitivamente os argentinos parecem ter uma longevidade muito admirável. Gonzalo Bergessio, que passou durante meia temporada pelo Benfica, vai cumprir 39 anos e ainda faz golos no futebol argentino. Mais concretamente no Tristán Suárez, da Segunda Divisão.

O avançado que não foi feliz em Portugal (nove jogos, zero golos) acabou por reencontrar a veia goleadora em Itália, ao serviço do Catania: em três temporadas apontou 37 golos.

Os dias gloriosos, porém, só chegaram mais tarde.

Com 34 anos assinou pelo Nacional de Montevideu, do Uruguai, clube no qual marcou 91 golos ao longo de quatro temporadas e conquistou oito troféus. Entre eles dois títulos de campeão, mais um Torneio Clausura e um Torneio Abertura.

Em 2020, aliás, foi eleito o melhor avançado, melhor estrangeiro e melhor jogador do futebol uruguaio, para além de ter sido o melhor marcador do campeonato.

Os 37 anos já pesavam em Bergessio, porém, e por isso o avançado opta em janeiro de 2022 por regressar ao clube onde tudo começou, e pelo qual o seu coração batia mais forte: o Platense. Um regresso infeliz: uma lesão deixou-o fora dos relvados alguns meses e acabou por fazer apenas quatro golos. Por isso no início deste ano assinou pelo Tristán Suárez, da Segunda Divisão, ao serviço do qual já leva onze jogos e quatro golos.

Tanque Silva: lembras-te, Beira Mar?

O nome de Santiago Silva pode não ser imediato para toda a gente, mas se falarmos de Tanque Silva os adeptos que seguem mais de perto o futebol já perceberão quem é.

O avançado uruguaio é um dos casos mais curiosos que passaram pelo futebol português. Em 2004-05 jogou no Beira Mar, esteve em 33 partidas, marcou oito golo e efetuou uma assistência, que não serviram de nada: a formação de Aveiro ficou no último lugar e desceu à Liga. Já Tanque Silva, apesar de alguns bons sinais, não convenceu ninguém a contratá-lo.

Mesmo já tendo passado por Corinthians e Energie Cottbus, do futebol alemão, não chamou a atenção, pelo que voltou à América do Sul, desta vez para se estrear no futebol argentino.

Na terra de Maradona, Messi e Mario Kempes, o ponta de lança ganhou uma nova vida. Sobretudo ao serviço do Banfield, do Vélez Sarsfield e do Boca Juniors. Foi duas vezes campeão, ganhou uma Taça da Argentina e foi duas vezes o melhor marcador do campeonato.

Pelo caminho ultrapassou até Enzo Francescoli como maior goleador uruguaio da história do futebol argentino. O que diz muito do sucesso de Tanque Silva por aqueles lados.

Apesar de ter ficado um ano e meio sem jogar, após apresentar níveis demasiado altos de testosterona num exame antidoping, níveis esses que atribuiu a um tratamento para ser pai, voltou aos relvados na Primeira Divisão argentina já com 42 anos, ao serviço do Aldovisi.

Desde janeiro representa o El Palo, de Espanha, no qual continua a fazer golos: soma nesta altura dois, que ajudam a equipa a estar em lugar de subida à II Liga espanhola.

Matheus continua a ser decisivo aos 40 anos

Matheus é um daqueles nomes que os adeptos do Sp. Braga seguramente não esquecerão. O brasileiro, exímio jogador com o pé esquerdo, foi um nome absolutamente fundamental na primeira participação da história bracarense na Liga dos Campeões.

Antes de mais fez dois golos ao Sevilha, na última pré-eliminatória, um dos quais valeu o triunfo em casa e o apuramento. Já na fase de grupos da competição, marcou na vitória sobre o Partizan, mas sobretudo fez os dois golos do triunfo histórico em casa sobre o Arsenal.

Ele que tinha sido comprado com 22 anos ao Marco, da II Liga, e se tornou um jogador importante no crescimento do clube. Só não esteve na final da Liga Europa de Dublin, frente ao FC Porto, porque a meio da temporada tinha sido vendido ao Dnipro.

Na Ucrânia continuou a dar que falar e foi até sondado para se naturalizar e jogar pela seleção ucraniana. Recusou e após seis temporadas, saiu para a China, onde jogou mais sete épocas.

Aos 40 anos podia pensar-se que estava na altura de pendurar as botas, mas Matheus tinha o sonho de acabar na terra natal. Em janeiro assinou por isso pelo Itabaina, que disputa a primeira divisão sergipana: soma doze jogos e três golos, que ajudam a equipa a liderar o campeonato.

Sapunaru descobriu uma rara veia goleadora

Decididamente os anos não pesam em Sapunaru: o lateral acabou de completar 39 primaveras e continua em grande nível no futebol romeno. Ao serviço do seu Rapid Bucareste, Sapunaru já leva esta temporada 36 jogos e... três golos. Mais duas assistências.

Para um lateral de 39 anos, é ou não verdadeiramente admirável?

O antigo jogador do FC Porto, que o clube azul e branco contratou precisamente ao Rapid Bucareste, viveu de resto o melhor ano no Dragão com André Villas-Boas: nessa época fez 41 jogos e ganhou tudo o que havia para ganhar.

Depois de sair do FC Porto, jogou em Espanha, Turquia e Roménia, apresentando-se aos 39 anos ainda em boa forma. Ele que em quatro épocas no Dragão marcou apenas três golos: tantos quanto leva já este ano. No entanto em 2017 já tinha mostrado jeito para marcar: nessa altura, com a camisola do Astra Giurgiu, Sapunaru acabou a temporada com dez golos.

A idade, portanto, parece ter-lhe trazido a pontaria certa.

Márcio Mossoró até marca ao lado do filho

Márcio Mossoró é outro exemplo de um brasileiro talentoso que ajudou a fazer crescer o Sp. Braga. Após receber o selo de qualidade do Internacional de Porto Alegre, foi contratado pelo Marítimo em 2007. Um ano na Madeira foi suficiente para convencer António Salvador.

Mudou-se então para Braga, com 25 anos, e ao longo de cinco temporadas tornou-se destaque ao lado de jogadores como Alan, Lima, Vandinho, Hugo Viana, Custódio, Ruben Amorim e, sim, Matheus, claro. Em cinco épocas marcou 23 golos e realizou 28 assistências.

Lapidar, portanto.

Andou depois pela Turquia, onde foi uma vez campeão, duas vezes vice-campeão e uma vez finalista da Taça, até que no ano passado regressou ao Brasil. Para cumprir um sonho antigo: jogar no clube da cidade onde nasceu. Assinou então pelo Pontiguar de Mossoró, clube no qual esta temporada já teve a oportunidade rara de jogar ao lado do filho Nikolas, de 16 anos.

Pelo caminho soma 21 jogos e três golos. Ele que em julho festeja 40 anos.

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