O caso Bruno Paixão visto por outros árbitros: "Quem tiver de ser punido que assim o seja"

15 fev 2022, 22:29

Jorge Faustino, Marco Ferreira e José Leirós, todos ex-árbitros, explicaram à CNN Portugal quais os principais perigos da polémica que liga o ex-colega de profissão Bruno Paixão ao Benfica

Ministério Público (MP) e Polícia Judiciária (PJ) acreditam que Bruno Paixão terá recebido milhares de euros provenientes da empresa "saco azul" do Benfica, por serviços de consultoria fictícios que poderão ser na realidade uma forma encapotada de o clube subornar um árbitro.

A CNN Portugal quis saber como esta nova suspeita de corrupção desportiva está a afetar o universo da arbitragem nacional e contactou vários antigos árbitros portugueses. Das entrevistas, foi notório que o traço comum entre elas se prende com a preocupação por mais uma polémica em torno da arbitragem, a expectativa acerca do desfecho do julgamento e a solidariedade para com o ex-colega de profissão Bruno Paixão que vê o nome ligado a uma polémica, apesar de ainda não ter sido julgado em sede de tribunal.

Julgamentos em praça pública não”, antes de responder a qualquer questão, Jorge Faustino é claro: “Para já, vou ter de aguardar, não temos qualquer informação que as suspeitas sejam verdade".

“A minha opinião está alinhada com todos os outros casos: investigue-se. Sejam 8 mil euros, mil, ou cem, investigue-se e quem tiver de ser punido que assim o seja, estejamos nós a falar de árbitros, dirigentes, clubes ou jogadores”, refere Jorge Faustino.

Faustino acredita que, neste momento, é imperativo aguardar pelo julgamento e "esperar que quem for culpado seja punido e quem for inocente seja ilibado”. Mas, enaltece que quase todos os envolvidos neste megaprocesso, nominado "Porta-aviões", tinham o peso social acrescido dada a exposição mediática que tinham. “Por sermos agentes desportivos e termos uma presença pública temos uma responsabilidade extra”, evidencia.

“A minha principal mensagem é que no fim do julgamento fique claro para a população em geral quem foram os suspeitos que acabaram por ser considerados culpados e os que acabaram por ser ilibados. Isso tem de ficar claro”, apela Jorge Faustino.

O ex-árbitro alerta ainda que para que a arbitragem nacional não saia manchada é fulcral que "as consequências fiquem muito claras: quem for ilibado sai publicamente ilibado, quem for culpado sai publicamente culpado", alertando ainda que será importante que "ninguém escape à justiça por erros processuais". 

Quanto às consequências para o Benfica, no caso das suspeitas se virem a confirmar, o antigo juiz escusou-se a comentar por falta de dados concretos sobre os crimes e regime legal da própria Liga, considerando apenas que a sanção deve ser acatada seja ela qual for: “Se a pena for descer de divisão é, se for uma multa é e se for erradicação também o será”.

“Não posso estar a apontar o dedo a um ex-colega", Marco Ferreira

Para Marco Ferreira, "este é mais um caso que podia ter sido evitado, se não houvesse tanta polémica no futebol". O antigo juiz, que fez parte do leque de árbitros juntamente com Bruno Paixão entre as épocas 2007/08 e 2014/15, considera que todo o barulho que se levantou em torno deste caso "até um tribunal se pronunciar não é nada".

O ex-árbitro confessa, conhecendo a pessoa em causa, não acredita que "Bruno Paixão tenha errado de forma a beneficiar ou prejudica uma equipa", acrescentando esse facto "será algo que vai ser muito difícil de provar, como já vimos no caso apito dourado”.

“Tudo o que tenha a ver com falsidade desportiva deve ser investigado e os culpados punidos. Preocupa-me o seio da arbitragem. Estas são situações que não devem acontecer e, a confirmarem-se, as pessoas envolvidas devem ser punidas”, diz Marco Ferreira.

Ainda assim, Marco Ferreira lembra que aqui a questão se prende com a intencionalidade por trás de um erro numa decisão tomada dentro das quatro linhas. “Não posso estar a apontar o dedo a um ex-colega que errou, porque também errei", explica o antigo juiz. Para o ex-árbitro "o que tem de se perceber é se o erro foi premeditado ou não”.

Quanto à reação de Bruno Paixão, que disse à TVI/CNN Portugal que tudo não passou de "uma mera coincidência", Marco Ferreira responde que tratando-se mesmo de uma "coincidência" esta deveria "ter sido evitada na altura".

"Não me cabe a mim fazer juízos de valor, mas, para além de tudo isto, é imperativo que quando o processo acabar não prevaleçam dúvidas: ou é inocente ou é culpado”, reitera também Marco Ferreira.

"Já bastam os erros no relvado a que assistimos”, José Leirós

"Fiquei surpreendido", José Leirós não esconde que "não esperava ver tal notícia" na comunicação social. O ex-árbitro confessa que "fica preocupado" com o surgimento de polémicas extra-jogo, numa altura, assistimos a vários "erros no relvado".

Leirós diz que vai "ficar na expectativa" e "esperar que nada venha a acontecer". "Espero, sinceramente, que tudo isto se esclareça rapidamente", afirma o antigo juiz, lembrando ainda que era benéfico que este caso não se arraste na justiça, uma vez que "já está a afetar o Bruno Paixão e a própria arbitragem portuguesa”.

“Conforme os jogadores falham, os árbitros também falham”, refere José Leirós.

Quanto ao que pode acontecer ao Benfica, José Leirós diz "que não está preocupado": “Os clubes são os clubes, os árbitros são os árbitros. Preocupa-me a arbitragem, não os clubes”.

Contactado pela CNN Portugal, o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), Luís Gonçalves, recusou comentar o caso “para já”, por entender que todo o processo ainda se encontra numa fase demasiado precoce, em que não existem culpados ou inocentes, mas sim apenas suspeitos.

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