O que podia ser pior do que não ganhar ao Santa Clara? Isto é pior
A resposta antes de tudo: fəlakət. É assim que se escreve desastre na língua do Azerbaijão.
Era o jogo que tinha mesmo de ser ganho. Dos oito que o Benfica tem para disputar nesta fase de liga da Liga dos Campeões, a receção ao Qarabag era, de longe, a partida mais fácil.
O problema é que mesmo perante uma equipa que só está a jogar a sua segunda fase de grupos da liga milionária, o Benfica foi totalmente incapaz de se superiorizar. Pelo contrário, até.
E é mesmo assim, já que não falamos de um jogo de azar em que o Benfica tenha massacrado e só por algum azar não tenha vencido. Nada disso. O Qarabag não só escandalizou com o empate, como escandalizou ainda mais com uma vitória em pleno Estádio da Luz, na primeira vez que a equipa do Azerbaijão vence um jogo numa fase tão adiantada da Liga dos Campeões.
Os encarnados até tiveram tudo a seu favor, já que aos 16 minutos ganhavam por 2-0 e pareciam poder caminhar facilmente para um resultado avolumado. Senão desse para isso, pelo menos para uma vitória tranquila e para encaixar três pontos teoricamente fáceis, mas sempre necessários.
Só que à meia hora de jogo tudo mudou. O Benfica já não estava a ser deslumbrante a ganhar, e um cruzamento para a área seguido de um ressalto acabou por dificultar tudo. Grande golo do Qarabag, que respondia com um golo à desvantagem inicial vincada por Enzo Barrenechea e Vangelis Pavlidis.
Puxamos só a fita atrás para dar conta de que Sudakov é mesmo o que se pedia. Um criativo decisivo para colocar os dois colegas na cara do golo. Ou dos golos, no caso, que foram dois.
O ucraniano chegado a peso de ouro vem melhorar substancialmente o futebol do Benfica. Não porque já tenha um grande entrosamento com a equipa - afinal até se suspeita que não saiba o nome de alguns colegas -, mas um jogador bom é sempre um jogador bom.
E um jogador bom é um jogador bom em Fátima, em Varna ou em Qarabag. É o caso de Leandro Andrade, que passou por aquelas três cidades até chegar esta terça-feira a Lisboa. Não é tudo isso, não, mas o rapaz que nasceu em Tavira há 25 anos foi uma das figuras da partida.
Em Portugal jogou no Olhanense e no Fátima. Agora anda, meio que desconhecido, a fazer golos na Champions por uma equipa do Azerbaijão. Um belo golo, diga-se de passagem.
Anda ele e anda um outro rapaz chamado Camilo Durán, que por pouco mais de 200 mil euros trocou o sol de Portimão pelo exotismo de Baku, cidade onde o Qarabag, vindo de uma região disputada entre Azerbaijão e Arménia, tem a sua sede atualmente.
Foi o colombiano que consumou o escândalo, marcando um 2-2 que ninguém ia acreditar. E pensar que este jovem de 23 anos andou aí pelo Estrela da Amadora ou pelo Lusitânia dos Açores, antes de chegar ao Portimonense, onde marcou cinco golos na época passada e onde ainda jogou três partidas este ano, a última das quais há menos de um mês.
Apesar do escândalo, o golo marcado aos 49 minutos deixava mais do que espaço para se emendarem as coisas.
Nada mais errado.
O Benfica nunca se encontrou, nem de perto, nem de longe, e ainda permitiu um 2-3 impensável. O Qarabag vence no Estádio da Luz, que até petrificou com esse golo inusitado.
Se alguém pensasse que não dava para ser pior do que não ganhar ao Santa Clara reduzido a 10, esse alguém terá de repensar. Isto é pior.
O que se segue para Bruno Lage? O que se segue para Rui Costa? O que se segue para o Benfica?