"Os objetivos de Moscovo são claros - ajudar a eleger mais candidatos pró-Rússia para o Parlamento Europeu e reforçar uma certa narrativa pró-Rússia". Suspeito é um assessor de um eurodeputado de extrema-direita
O Ministério Público belga fez saber esta quarta-feira que as autoridades realizaram buscas na residência de um funcionário do Parlamento Europeu e no seu escritório no mesmo edifício, em Bruxelas. Em causa está uma suspeita de interferência russa.
Os procuradores responsáveis pela investigação explicaram através de um comunicado que o escritório do suspeito, em Estrasburgo - onde está localizada a sede do Parlamento da UE - também foi alvo de uma ação, em parceria com o Eurojust e as autoridades francesas.
Estas buscas acontecem a menos de duas semanas das eleições europeias, que se vão realizar entre 6 a 9 de junho. A investigação já tinha sido anunciada no mês passado pelo primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, que disse que os serviços secretos do país tinham confirmado a existência de uma rede que tentava interferir no apoio à Ucrânia.
No comunicado, os procuradores escrevem: “As buscas fazem parte de um caso de interferência, corrupção passiva e ligação a uma organização criminosa e estão relacionadas com indícios de interferência russa, através da qual membros do Parlamento Europeu foram abordados e pagos para promover a propaganda russa através do site de notícias Voz da Europa”. Acrescentava ainda que acreditavam que o funcionário desempenhou “um papel significativo nisso”.
A imprensa belga avança que o alvo das buscas foi Guillaume Pradoura, o antigo assessor de Maximilian Krah, o até há pouco tempo cabeça de lista da Alternativa para a Alemanha (AfD) que teve de se demitir depois de polémicas declarações sobre as SS.
Atualmente, Pradoura estava ao serviço de Marcel de Graaff, eurodeputado do partido neerlandês de extrema-direita Fórum para a Democracia.
Guillaume Pradoura e Maximilian Krah ainda não reagiram ao caso, mas Marcel de Graaff utilizou a rede social X para confirmar que está a par das buscas, mas dizer também que o seu assessor "pareceu não estar a par".
"As autoridades não me contactaram a mim ou a ele. Para mim é uma surpresa total", acrescentou.
Vandaag vernam ik via de media dat de woning en kantoor van mijn medewerker dhr. Pradoura zijn doorzocht.
— Marcel de Graaff🇳🇱 (@MJRLdeGraaff) May 29, 2024
Ik heb mijn medewerker gesproken en die bleek daar niet van op de hoogte.
De autoriteiten hebben geen contact met mij noch met hem opgenomen. Voor mij komt dit alles als…
Em resposta à CNN Portugal, o Parlamento Europeu não comenta "investigações em curso", mas diz que "quando e se tal lhe for solicitado, o Parlamento Europeu coopera plenamente com as autoridades policiais e judiciais, a fim de contribuir para o funcionamento da justiça. Neste contexto, foi facultado o acesso a um gabinete".
"Quanto ao resto, é necessário contactar as autoridades belgas", adianta a mesma fonte oficial.
A União Europeia proibiu este mês a "Voz da Europa" e três outros meios de comunicação russos de transmitir no bloco dos 27 países. Alegou que todos eles estavam sob controlo do Kremlin e tinham como alvo “partidos políticos europeus, especialmente durante períodos eleitorais”. Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, a UE já tinha avançado para a suspensão do "Russia Today" e do "Sputnik".
Segundo o que o primeiro-ministro belga afirmou quando abordou o tema, a investigação revelou que membros do Parlamento Europeu tinham sido abordados com ofertas de dinheiro para promoverem propaganda russa: “De acordo com o nosso serviço secreto, os objetivos de Moscovo são claros - ajudar a eleger mais candidatos pró-Rússia para o Parlamento Europeu e reforçar uma certa narrativa pró-Rússia”, afirmou há cerca de um mês.