Belenenses-Benfica, 0-7 (crónica)

Rafael Vaz , Estádio Nacional, Oeiras
27 nov 2021, 22:22
Belenenses-Benfica

Futebol sem talento, futebol com vergonha

Futebol com talento não temos, mas futebol com vergonha, esse, sim.

Se não viu os 46 minutos da partida que tivemos esta noite no Jamor, não veja. Se viu, não reveja.

O Benfica goleou esta noite o Belenenses, com apenas nove jogadores disponíveis, por 7-0, em jogo da 12.ª jornada da Liga e num dos momentos mais negros do passado recente do futebol português – esse lugar tão estranho.

Jogo, não. Meio-jogo. Os jogadores do Belenenses recolheram aos balneários ao intervalo e demoraram a regressar ao relvado. Lá voltaram, mas assim que Manuel Mota, o árbitro, reiniciou o jogo, João Monteiro atirou a bola para longe e deitou-se no chão. Nessa altura, dos nove atletas azuis que haviam começado a partida, só restavam sete, e com seis a festa já não se faz. Durou 46 minutos mais um triste episódio do futebol português.

Como se cozinhou o inenarrável

Mas vamos ao contexto.

A contas com um surto de covid-19, os azuis têm pelo menos 17 elementos da estrutura infetados – mais de metade de jogadores –, entre os quais o treinador Filipe Cândido. A juntar a isso, há também atletas em isolamento.

A nuvem sobre a não realização do jogo começou a pairar ao final do dia de sexta-feira e adensou-se na manhã deste sábado, quando o presidente da SAD do Belenenses, Rui Pedro Soares, revelou aos jornalistas que não tinha pedido o adiamento do jogo e que, por isso, essa decisão estava nas mãos das autoridades de saúde.

E como o futebol português é fértil em situações surreais, cozinhou-se assim o inenarrável.

A realização da partida foi um segredo bem guardado até praticamente à hora do apito inicial, altura em que nove jogadores vestidos de azul subiram ao relvado do Jamor para o aquecimento, já os pupilos de Jorge Jesus aqueciam há alguns minutos.

Desses nove, quatro só haviam jogado pelos sub-23 e dois eram guarda-redes. Coube a João Monteiro descalçar as luvas e atuar como jogador de campo.  Com nove peças disponíveis, o técnico Filipe Cândido montou um 5x3x0 em campo. O 5x3x0 da vergonha, com nove peças de coragem.

45 minutos de profissionalismo encarnado

O Benfica, esse, fez o seu papel: encarou a partida com o máximo profissionalismo possível e fez o que lhe competia nos 45 minutos em que a bola rolou. Depois de Barcelona, Jesus mudou três peças no onze: saíram Gilberto, Everton e Yaremchuk, entraram Lazaro, Darwin e Seferovic.

E foram estes dois últimos em maior destaque: o uruguaio marcou três golos, o suíço dois. Weigl também fez o gosto ao pé, depois do autogolo inaugural de Kau que desbloqueou o marcador… aos 26 segundos. Como se a situação azul já não fosse má.

As facilidades encarnadas duraram 45 minutos. No reatamento para a segunda parte, Diogo Calila e António Montez ficaram nos balneários. Manuel Mota reiniciou o jogo, João Monteiro deitou-se no chão e mostrou-se incapaz de continuar. Com seis jogadores, a bola já não podia rolar, naturalmente.

Mas isso é o que menos importa nesta noite.

Num Liga que se diz ter «Futebol com Talento» – o lema tantas vezes repetido pelo organismo presidido por Pedro Proença –, e que é, na teoria, a sexta melhor da Europa, não há outra palavra que não vergonha para classificar tudo o que passou esta noite no Jamor. Um campeonato que se diz dos melhores, mas no qual se vivem momentos de terceiro mundo.

Uma palavra final para os nove jogadores do Belenenses que foram a campo e que se mostraram, naturalmente, incapazes de suster a qualidade e o profissionalismo dos homens do Benfica. Foram os únicos a ganhar esta noite.

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