‘Bebés do confinamento’ apresentam mais dificuldades de desenvolvimento - mas gatinham mais cedo

15 out 2022, 17:00
Bebé (Pexels)

Estudo irlandês comparou bebés que nasceram em plena pandemia, sobretudo durante os confinamentos, com aqueles que nasceram em anos anteriores

Os bebés que nasceram em 2020 - primeiro ano de pandemia e marcado por confinamentos e restrições sociais - apresentam alguns atrasos no desenvolvimento linguístico e social quando comparados com os bebés que nasceram em anos anteriores.

A conclusão é de um estudo irlandês publicado na revista médica Archives of Disease in Childhood, que analisou, aos 12 meses de vida, 309 ‘bebés do confinamento’, nascidos entre março e maio de 2020, e comparou-os com 1.629 nascidos entre 2008 e 2011. 

Ao todo, foram comparados dez marcos de desenvolvimento, todos eles descritos pelos pais em questionários: gatinhar, dar um passo para o lado junto a móveis, ficar sozinho, pegar em objetos minúsculos com o polegar e o dedo indicador (como uma pinça), colocar um objeto em cima de outro (como se faz, por exemplo, com legos), comer com as mãos, conhecer o seu próprio nome, ter e dizer uma palavra definida e significativa, apontar para objetos e acenar ‘adeus’.

Entre as principais diferenças, destacadas no estudo pela negativa, apesar de não serem muito significativas, está o facto de os bebés que nasceram no primeiro ano de pandemia serem menos propensos a falar do que os que nasceram nos anos anteriores (77%, em comparação com 89%, quando foi avaliada a capacidade de dizer uma palavra definida e significativa, como acontece assim que começam a falar), a apontar para pessoas ou objetos (84%, face a 93%) ou a acenar numa despedida (88% em comparação com 94,5%).

Para Susan Byrne, uma das autoras do estudo, o confinamento privou também os bebés do contacto social. “Ao completarem 12 meses, um em cada quatro bebés não conhecia outra criança da sua idade”, lamenta, citada pelo The Guardian.

No entanto, os ‘bebés do confinamento’ mostraram-se mais ágeis e precoces na hora de gatinhar (97,5% em comparação com 91% dos bebés pré-pandemia).

O estudo reconhece que “o isolamento social associado à pandemia pode ter impactado nas habilidades de comunicação social em bebés nascidos durante a pandemia”, mas defende que tal não tem de ser uma 'sentença', até porque “os bebés são resilientes e curiosos por natureza, e espera-se que, com o ressurgimento da sociedade e o aumento dos círculos sociais, as suas habilidades de comunicação social melhorem”.

Apesar de este estudo se ter focado em bebés, esta não é a primeira vez, nestes dois anos, que se avalia o impacto da pandemia nos mais novos

O estudo 'O impacto potencial da pandemia de covid-19 no crescimento e desenvolvimento infantil: uma revisão sistemática', publicado no Jornal de Pediatria do Brasil, dá conta de que “diversos fatores relacionados com a pandemia são reconhecidos como experiências adversas na infância e interferem negativamente na construção e estruturação da arquitetura cerebral da criança”. Entre os fatores está o stress dos pais face ao vírus, o encerramento das escolas, as dificuldades em gerir a vida familiar em tempos de pandemia e uma “maior exposição a vulnerabilidades pré-existentes (como violência doméstica, uso de drogas e doença mental em familiares)”.

A nível de aprendizagem também se notou uma diferença em Portugal. Tal como a CNN Portugal já tinha noticiado, educadores de infância e professores têm dificuldade em entender os alunos e os terapeutas da fala confirmam que a procura pela terapia aumentou, uma vez que as crianças têm apresentado dificuldades de leitura e fala.

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