Negócios com o Ministério da Economia e o Banco Central de Angola valeram mais de 20 milhões de euros durante os últimos anos de José Eduardo dos Santos
A Boston Consulting Group (BCG) admitiu ter pagado vários milhões de euros em subornos para conseguir contratos em Angola.
Um esquema que permitiu um lucro de 12,5 milhões de euros conseguidos com contratos acordados com o Ministério da Economia de Angola e com o banco central.
A consultora transferiu o dinheiro para contas offshore controladas por intermediários ligados a responsáveis angolanos e ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder.
A notícia surge depois de uma investigação que foi tornada pública esta quarta-feira pelo Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos.
Os subornos foram pagos, de acordo com as autoridades norte-americanas, através do escritório da BCG em Lisboa entre os anos de 2011 e 2017.
Embora o caso viole a lei norte-americana, o DoJ confirmou que não vai acusar a BCG, já que foi a consultora a dar conta do caso, tendo mesmo despedido funcionários e cooperado no inquérito.
“Certos funcionários da BCG em Portugal tomaram medidas para ocultar a natureza do trabalho para a BCG quando surgiram questões internas, nomeadamente através da retroatividade de contratos e da falsificação do alegado produto de trabalho”, refere o documento da justiça norte-americana.
"Entre 2011 e 2017, alguns colaboradores da BCG pagaram indevidamente a um terceiro para assegurar negócios. Após a descoberta deste facto, a BCG comunicou imediatamente o assunto ao DoJ. A BCG retirou os funcionários da empresa e, desde então, fechou o escritório em Luanda, Angola. A BCG também continuou a reforçar significativamente a sua função de conformidade, os controlos internos e a formação", refere a consultora em comunicado.
O DoJ refere que a BCG pagou a um agente externo com laços às autoridades angolanas entre 20% a 35% do valor dos contratos que conseguiu.
O período dos contratos coincide com os últimos anos de José Eduardo dos Santos no poder, sendo que o ex-presidente angolano renunciou ao mandato precisamente em 2017, depois de 38 anos no poder.
Ao todo, a BCG conseguiu 11 contratos com o Ministério da Economia de Angola e um com o Banco Nacional de Angola, alcançando receitas de mais de 20 milhões de euros durante esse período.
Como parte da assunção de culpa no caso, a consultora vai devolver os mais de 12 milhões de euros ganhos em lucro com essas operações. Foram ainda despedidos todos os funcionários e encerrado o escritório em Luanda.