Três perguntas a Paulo Rosa

Economista sénior do Banco Carregosa
15 dez 2022, 07:00

O Banco Central Europeu (BCE) deverá voltar hoje a subir taxas de juro, mas a um ritmo inferior às duas últimas subidas realizadas. O economista Paulo Rosa avalia o que deverá acontecer na reunião de hoje e aponta qual deverá ser o futuro da política monetária da zona euro no futuro.

1. Até que nível espera que o BCE suba as principais taxas de juro de referência?

As taxas de juro que aparecem nos estudos e que são utilizadas pelo mercado são maioritariamente as taxas dos depósitos do BCE, atualmente nos 1,50%. É esperado que o BCE suba todas as suas três taxas diretoras (depósitos, de referência para os leilões e de liquidez) em 50 pontos base, sendo que uma alta de 50 pontos base leva a taxa de depósitos para os 2%.

É esperado pelo mercado um aumento de 50 pontos base na reunião desta quinta-feira, corroborado por uma probabilidade de 83,6%, mas subsiste ainda uma possibilidade de 75 pontos, mas cuja probabilidade é de apenas 16,4%. Esta subida de 50 pontos base fixará a taxa de juro dos depósitos do BCE em 2%.

Está prevista também atualmente pelo mercado uma subida de igual dimensão de 50 pontos na primeira reunião de 2023, a 2 de fevereiro, seguida de aumento de 25 pontos base na segundo reunião em 2023 do BCE a 16 de março, fixando-se nessa altura a taxa de juro dos depósitos do BCE nos 2,75%, muito perto da sua taxa terminal esperada atualmente, que o mercado antecipa essa mesma taxa terminal para os juros na Zona Euro à volta dos 2,8%.

(Ou seja, atualmente a taxa de juro dos depósitos do BCE é de 1,5%. Um aumento de 50 pontos base no dia 15 de dezembro impulsionará essa taxa para 2%. Uma alta de mais 50 pontos a 2 de fevereiro levará a taxa até aos 2,5%, culminando nos 2,75% a 16 de março com um aumento de 25 pontos.)

2. Após atingir esse teto máximo, o que é expectável? Que as taxas permaneçam nesse nível durante um período de tempo longo ou que, perante sinais de desaceleração da inflação, voltem a descer?

O PIB da Zona Euro relativo ao quarto trimestre será divulgado no próximo dia 31 de janeiro e até lá serão ainda apresentados vários dados importantes referentes à atividade económica na área euro, bem como os dados relativos à evolução da inflação. Se os números do PIB da Zona no quarto trimestre confirmarem uma contração económica e a inflação sinalizar uma visível desaceleração, a taxa de juro terminal do BCE deverá cair substancialmente. Todavia, a um mês e meio de distância, e perante a incerteza que ainda persiste e continuará em 2023, é muito difícil para o BCE e para os analistas estimarem o andamento das taxas de juro para o próximo ano, sendo que a postura do BCE alterar-se-á sempre de acordo com a evolução dos dados macroeconómicos.

Ainda assim, poderemos confirmar que nos últimos tempos as dificuldades nas cadeias de abastecimento têm diminuído consideravelmente, os preços da energia têm descido, a atividade económica tem enfraquecido e a propensão ao consumo está cada vez mais fragilizada, sendo de esperar que esta tendência continue e corrobore uma melhoria dos números da inflação tanto do lado da oferta como do lado da procura, refletida numa previsível queda no índice de preços no consumidor. Se este cenário se materializar em 2023, então o BCE poderá mais cedo do que o esperado reverter a sua atual postura monetária restritiva.        

3. É expectável voltarmos a ter num futuro próximo taxas de juro próximas de zero?

Taxas de juro novamente próximas de zero é um cenário atualmente muito pouco expectável, mas tudo dependerá da evolução da inflação nos próximos anos. Desde que as cadeias de abastecimento funcionem sem problemas, os preços dos combustíveis fósseis sejam baixos, bem como se assista a uma desaceleração dos preços das matérias-primas, dos produtos agrícolas e dos metais industriais, é normal nas economias avançadas, com aparelhos produtivos estruturados e excesso de capacidade produtiva instalada, que a produção, responda cabalmente às encomendas e à procura dos consumidores. Todavia, a guerra na Ucrânia e a política “covid zero” na China teimam em dificultar as cadeias de abastecimento globais, sendo um dos principais entraves ao abrandamento da inflação. 

No entanto, a atual desaceleração da economia da Zona Euro e uma potencial recessão em 2023, associada a um cenário de abrandamento de intensidade da guerra na Ucrânia, de tal modo que não colocasse em causa as cadeias de abastecimento e o preço das matérias-primas, e a China regressasse em força ao comércio internacional, o nível de inflação poderia abrandar substancialmente, e consequentemente, as taxas de juro.

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