Analistas alertaram que o impacto da iminente guerra comercial no crescimento da zona euro superará em larga escala qualquer potencial ameaça de inflação
O Banco Central Europeu (BCE) prepara-se para cortar as taxas de juro dos empréstimos já na próxima semana e também em junho, avança o Financial Times (FT). Economistas e investidores ouvidos pelo jornal apontam a ameaça de recessão - na sequência das tarifas norte-americanas - como razão para este corte, que poderá acontecer ainda num terceiro momento durante o ano.
Em cima da mesa poderá estar um corte de um quarto de ponto nas taxas de juro já a 17 de abril, aquando da próxima reunião do BCE, tal como já tinha avançado a Bloomberg na semana passada.
Frederik Ducrozet, da Pictet Wealth Management, considera este corte de abril e um eventual em junho como “uma decisão óbvia” face à queda na procura que a guerra comercial aberta por Donald Trump poderá causar, embora já esteja a trazer algumas consequências, como a queda pelo terceiro dia consecutivo do mercados de ações globais.
O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) já tinha alertado que as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos aumentarão a inflação a curto prazo, porque as empresas aumentarão os preços, mas apressou-se a pedir prudência nas decisões sobre as taxas de juro perante o perigo iminente para a estabilidade económica mundial devido à política tarifária norte-americana.
Analistas entrevistados pelo FT alertaram que o impacto da iminente guerra comercial no crescimento da zona euro superará em larga escala qualquer potencial ameaça de inflação, embora “a desaceleração na economia real, a queda nos preços da energia e o euro mais forte possam ajudar a acelerar a desinflação na Europa”, explica Gilles Moëc, economista-chefe do grupo Axa Investment Managers.
Já Mahmood Pradhan, da Amundi Asset Management, defende que “o crescimento tornou-se, de repente, o principal problema em todo o mundo, incluindo na Europa”, o que vai fazer com que aumentem “as preocupações com a inflação”. Como consequência, é necessária uma maior “flexibilização da política na Europa”, que tem de abandonar as expectativas mais “duras” até agora tidas sobre os cortes nas taxas de juro.