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Bruno de Carvalho, do Sporting ao Big Brother - o transgressor

5 jan 2022, 18:06

Bruno de Carvalho precisava de uma coisa Big. E eis como se percebe melhor a sua flutuação como presidente do Sporting. Será agora o presidente… do Big Brother

Bruno de Carvalho é um homem de palco.

E não é preciso que lho arranjem. Ele constrói o palco. Não precisa de um estrado encerado ou de uma superfície de mármore escovado. Basta-lhe uma tábua, um tijolo ou um bloco de cimento. Se lhe puserem iluminação, ele agradece e até esboça um sorriso, mas o que ele gosta mesmo é de representar.

Na verdade, nem precisa de ter os pés bem assentes na terra. Bruno de Carvalho adora flutuar, às vezes como Peter Pan, embrenhado num mundo mágico e infantil, outras vezes como Superman, concentrado em salvar esse seu mundo mágico das garras da imbecilidade. E ainda, nessa flutuação permanente, como mero cidadão de carne e osso, mais enquadrado com os códigos da civilização e dos seus miasmas, o papel que menos gosta de representar, sentindo-se aliás nas vestes esse evidente desconforto.

Percebe-se agora e cada vez melhor a sua flutuação como presidente do Sporting.

Começou bem, a romper com os cânones correspondentes a vícios demasiado enraizados no futebol português e chegou a parecer uma lufada de ar fresco. Um jovem com ideias jovens, arrojadas, com coragem para denunciar e afrontar um sistema caduco, demasiado comprometido em ações e comportamentos a indiciar algo de extremamente tenebroso na forma de chegar às vitórias, ao sucesso e aos milhões.

Isso não lhe chegou. Nem mesmo, como se conclui, quando se tornou excessivo.

O palco é para o espectáculo, seja na tal superfície de madeira, no tal tijolo e na tal pedra escovada, ou seja na tribuna, sobre a relva ou nas bancadas com os adeptos, de preferência com os mais radicais.

O homem, para Bruno de Carvalho, é demasiado estúpido. Ele tem de estar, desejavelmente com alegria, um degrau acima desta fauna humana disléxica e atrasada mental.

E rapidamente quis converter-se naquilo que é ou pressupõe ser — o homem-espectáculo. De fato e gravata ou de fato de treino, verde-alface.

Quem o vê de verde-alface, em poses de gosto duvidoso mas sempre discutíveis consoante os olhares, tem a tendência de ficar estupefacto. E a primeira pergunta que surge imediatamente, naquela constante mutação entre o racional e o etéreo, e ainda numa (para muitos empolgante) versão racional-etérea mas provocadora, é qualquer coisa do tipo: como é que este homem foi presidente do Sporting?!!!

Friamente, e portanto apenas com a visão de quem olha para o espectáculo no sentido de passar um bom bocado sem pensar nas agruras da vida, Bruno de Carvalho é uma contradição ambulante, um homem de uma arrogância  descabelada, que acha saber tudo e se coloca sempre numa posição de superioridade inteligética em relação a todos, como se fosse um ser especial, que é capaz de se afirmar simultaneamente como anjo e diabo, um ator em permanente representação, instável, de humores demasiado oscilantes, piadético e com mania que tem piada.

Esta tendência metamorfósica e camaleónica deriva da necessidade de estar em palco. É muito mais do que necessidade. É dependência. E, nessa compulsividade, não interessa se é a presidir um clube com a dimensão e a respeitabilidade do Sporting Clube de Portugal ou mesmo o Chinquilho Futebol Clube. Pode ser na pista de dança ou como DJ, a abanar o capacete, não interessa, um dia destes será a tentar manter o equilíbrio no trapézio com uma Coca-Cola na cabeça ou a correr nu na A1.

Por isso, no Sporting ele queria estar no banco, tinha um certo horror à tribuna porque tem pouca tolerância para o salamaleque (e para o croquete), isso até pode revelar alguma saudável quebra de comportamentos hipócritas, muito enraizados nos hábitos das pessoas em sociedade. Mas depois é capaz de desmentir o que acabou de dizer, fazer de santo e logo a seguir espetar as garras e fazer um hino à hipocrisia.

No Sporting, ele queria ser jogador, treinador, presidente, diretor desportivo, tratador da relva, roupeiro, queria ser adepto e chefe de claque, porque ele é assim, pouco respeitador das convenções, um transgressor, às vezes romântico, outras vezes diabólico.

Ele no Big Brother pode ser tudo o que o entretenimento consente. E como homem-espectáculo está no local certo.

A TVI viu bem e deu-lhe o palco que ele fez por merecer.

Podemos vê-lo um dia destes, nas suas deambulações aparentemente loucas, a tentar aquecer-se no frigorífico ou a tentar refrescar-se no forno. A dar uma dentada na Jaciara e a atirar-se para o chão a queixar-se de dores de dentes e que ela é uma fera e tem um novo andar. E verte uma lágrima se for caso disso.

Bruno de Carvalho tem as manhas todas. Adora protagonismo e sabia que, no Big Brother, iria ser outra vez amplamente falado. E sempre pelo contraste e pelo insólito.

Aquela coisa de ser DJ, depois de ser presidente do Sporting, era uma coisa in, arrojada e atrevida, ao alcance de algumas gravações de telemóvel, mas ele precisava era mesmo de uma coisa Big. De uma coisa de Grande Irmão, de alto consumo, de uma coisa que fizesse jus à dimensão do ‘fenómeno’ Cristina Ferreira.

O Sporting livrou-se de um actor, o país já nem quer saber da barriga do Jardel, está doido para saber até onde pode chegar Bruno de Carvalho na sua verve transgressora.

Bruno de Carvalho nasceu, de facto, para ser presidente… … mas do… Big Brother!

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