Parlamento ataca lucro “selvagem” da banca. APB recusa lucros “ilegítimos” e lembra queda do SVB

ECO - Parceiro CNN Portugal , Alberto Teixeira
14 mar 2023, 18:05
O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Vítor Bento, durante a sua audição na Comissão de Orçamento e Finanças, na Assembleia da República

Resultados dos bancos aumentaram 70% no ano passado. Deputados sublinham lucros de sete milhões por dia, “feitos à custa das pessoas”. Líder da APB rejeita acusações e lembra a queda do SVB

Para o deputado do PSD Rui Vilar, os bancos estão a ter “um comportamento selvagem” e “apenas estão preocupados com o lucro”. O socialista Miguel Matos lembrou que a banca lucrou sete milhões de euros por dia no ano passado, “feitos à custa das pessoas, dos juros que estão a pagar na prestação da casa e das comissões excessivas”.

Que “torrente violenta”, desabafou o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Vítor Bento, durante uma audição parlamentar nesta terça-feira na comissão de orçamento e finanças, aproveitando a ocasião para recusar as acusações dos dois maiores grupos parlamentares.

“A banca, como qualquer empresa, procura o lucro, isso faz parte da lógica de uma economia de mercado concorrencial. E só nessa base é que as economias podem progredir. Não reconheço que os lucros sejam excessivos. Quanto muito, os lucros podem ser legítimos ou ilegítimos. Eu não vejo nenhuma situação de ilegitimidade nos lucros”, atirou aos deputados.

Mais tarde lembrou o episódio da queda do Silicon Valley Bank (SVB) e afirmou que a sociedade devia estar satisfeita com o aumento dos resultados dos bancos no ano passado. “É importante ter bancos saudáveis e rentáveis para não acontecer o que aconteceu este fim de semana”, apontou Vítor Bento.

Rui Vilar foi ao segundo round. “Não percebemos como é que, com os lucros a dispararem, os bancos continuam com juros dos depósitos na cauda da Europa e não baixam as comissões”, ripostou o deputado social-democrata. Miguel Matos acompanhou, acusando os bancos de meterem medo às famílias na renegociação dos créditos. “E o que dizer com os juros que andam a amealhar com os depósitos que têm no Banco Central Europeu?”

Bancos querem agradar sociedade, “mas não fazem milagres”

A APB foi chamada ao Parlamento para levar “um puxão de orelhas” dos deputados por causa do “desfasamento” na subida dos juros dos créditos e dos depósitos e também por causa do comportamento dos bancos na renegociação dos créditos.

Em relação às renegociações, Vítor Bento rejeitou que os bancos “não tem nenhuma insensibilidade social” e afirmou que é do interesse para a sua atividade que facilitem acordos com os seus clientes para evitar situações de incumprimento do crédito. “É do interesse da própria atividade que a sociedade goste deles”, afirmou a determinado momento.

Mas também sublinhou que as instituições “não fazem milagres” e haverá casos em que não vai conseguir ajudar e rejeitou que estejam a amedrontar os clientes quando dizem que ficarão “marcados” na central de responsabilidades de crédito do Banco de Portugal. “Não é verdade que os bancos incutem medo aos clientes, não é do seu interesse. Mas têm de informar sobre as consequências da renegociação. É bom que o cliente saiba o que acontece. Estando informadas, as pessoas tomam as decisões no seu melhor interesse”, esclareceu.

Até ao momento, terão sido renegociados cerca de 17 mil contratos, de acordo com a APB. Vítor Bento admite que o número não é maior porque não há interesse tanto do lado dos bancos como do lado dos clientes.

Relacionados

Economia

Mais Economia

Patrocinados