Vai ser mais difícil conseguir crédito à habitação. Esta será a população mais afetada

20 fev 2022, 22:00
Fotografia: Rui Oliveira

Os dados do último trimestre de 2021 mostram que a idade média dos que pedem dinheiro para comprar casa foi de cerca de 41 anos. Com as novas regras do Banco de Portugal, só uma pequena fatia (14%) poderá continuar a pedir empréstimos com uma maturidade de 40 anos

A mudança vai sentir-se em força a partir de abril: quem tiver mais de 30 anos e quiser pedir um crédito à habitação vai ter de contar com novos limites nos prazos. Com menos tempo para pagar o empréstimo, as prestações acabarão por ficar mais altas.

Com as alterações, o Banco de Portugal quer evitar que os mutuários cheguem à idade da reforma, onde há uma quebra de rendimentos, com prestações da casa por pagar. E as novas regras vão acabar por penalizar, precisamente, as faixas etárias que mais recorrem a este tipo de crédito.

Os dados cedidos pelo regulador à CNN Portugal mostram que, no quarto trimestre de 2021, a idade média dos que contraíram crédito à habitação foi de cerca de 41 anos – um valor médio que está muito acima da idade onde, a partir de abril, passará a haver ‘penalizações’.

Nos novos contratos feitos entre outubro e novembro do ano passado, explica fonte oficial, “a concentração dos novos contratos de crédito à habitação deu-se em mutuários na faixa etária dos 30 aos 40 anos”.

Só 14 em cada 100 ficariam sem limites

Tendo em conta os dados do último trimestre, torna-se possível perceber que apenas 14% dos clientes poderiam aceder ao prazo máximo de 40 anos, que vem sendo possível pelos bancos, com as novas regras que vão ser aplicadas a partir de abril. Porque foi esse o universo dos novos contratos com mutuários abaixo dos 30 anos.

A faixa entre os 30 e os 35 anos representa 20%. Já o patamar seguinte, entre os 35 e os 40 anos, outros 22%. Ou seja, praticamente metade dos novos contratos foram assinados por clientes entre os 30 e os 40 anos, que vão enfrentar novos prazos e, consequentemente, ter de cobrir prestações mais altas.

No quarto trimestre de 2021, os clientes dos 40 aos 45 pesaram 21% do total. Dos 45 aos 50 anos, outros 13%. Um em cada 10 clientes (10%) pediu dinheiro para comprar casa depois dos 50 anos.

O que muda?

A partir de abril, os bancos têm de aplicar novas regras para o crédito à habitação. Com os limites recomendados pelo Banco de Portugal, só quem tem até 30 anos poderá continuar a aceder ao prazo máximo do empréstimo, de 40 anos.

A partir daí, os prazos ‘encolhem’. Dos 30 aos 35 anos de idade, o limite para o empréstimo passa a ser de 37 anos. Já para os clientes com mais de 35 anos, o novo patamar são 35 anos de crédito. E porquê? Para garantir que por volta dos 70 anos de idade a dívida esteja totalmente saldada.

Isto depois de, em 2021, se ter atingido um novo recorde: as novas operações de financiamento para a compra de casa atingiram 15.270 milhões de euros, muito influenciadas pelo clima de confiança dos consumidores e pelas baixas taxas de juros.

Mas, para lá da contração nos prazos, quem se prepara para comprar casa deve ter em conta outro elemento que deverá tornar a prestação ainda mais cara: a subida das taxas de juro, que se antecipa para o final do ano, depois de uma mudança de discurso por parte do Banco Central Europeu.

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