O balão espião chinês que os EUA abateram transmitiu informações em tempo real

CNN , Natasha Bertrand
3 abr 2023, 15:32
Marinha norte-americana recupera o balão-espião, abatido pelos Estados Unidos, ao largo da costa de Myrtle Beach, Carolina do Sul, a 5 de fevereiro. Créditos: US Navy via AP

O balão espião chinês que sobrevoou os Estados Unidos no início deste ano conseguiu captar imagens e recolher informações de inteligência de locais militares norte-americanos, disse uma fonte próxima do assunto à CNN.

O balão foi capaz de transmitir informações para Pequim em tempo real, disse a fonte, e o governo dos EUA ainda não sabe ao certo se o governo chinês poderia limpar os dados do balão à medida que os recebia. Isto levanta questões sobre se existe informação que o balão tenha conseguido reunir e que os EUA ainda não saibam.

Ainda assim, a comunidade de inteligência, da qual fazem parte 17 agências governamentais, não tem estado demasiado preocupada com a informação que o balão conseguiu recolher, disse a fonte, porque não é muito mais sofisticado do que aquilo que os satélites chineses são capazes de recolher quando orbitam pelos mesmo locais.

Os EUA também sabiam qual seria o percurso do balão e foram capazes de proteger locais sensíveis e bloquear alguns sinais antes que o balão conseguisse captá-los, disseram as autoridades.

Como informou a CNN, a comunidade de inteligência dos EUA desenvolveu no ano passado um método de rastrear o que diz ser uma frota de balões chineses a operar em todo o mundo, controlada pelos militares chineses.

O FBI ainda está a examinar o balão, mas as autoridades já conseguiram obter informações adicionais sobre como o dispositivo funcionava, incluindo os algoritmos utilizados para o software do balão e a forma como é alimentado e concebido.

A CNN contactou o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca e o Pentágono para comentários.

O balão cruzou pela primeira vez o espaço aéreo dos EUA sobre o Alasca em finais de janeiro antes de passar pelo Canadá e descer para o Montana, onde pairou durante alguns dias, levando os EUA a acreditar que estava a tentar vigiar locais militares sensíveis, como a Base da Força Aérea de Malmstrom. Acabou por ser abatido pelos EUA ao largo da Costa Leste a 4 de fevereiro, e o incidente agravou ainda mais as tensões entre Washington e Pequim, incluindo o adiamento de uma visita diplomática do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, à China.

Um alto funcionário do Departamento de Estado disse em fevereiro que, enquanto o balão flutuava pelos EUA, "era capaz de conduzir operações de recolha de sinais de inteligência".

O general Glen VanHerck, comandante do Comando Norte dos EUA e do NORAD [Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte, na tradução literal], disse na altura que os Estados Unidos "não avaliaram" que o balão "apresentava um risco de recolha significativo para além do que já existe em meios técnicos acionáveis por parte dos chineses".

O programa de vigilância, que inclui vários balões semelhantes, é conduzido em parte desde a pequena província chinesa de Hainan, disseram autoridades à CNN. Os EUA não sabem a dimensão exata da frota de balões de vigilância chineses, mas fontes dizem à CNN que o programa realizou pelo menos duas dúzias de missões em pelo menos cinco continentes nos últimos anos.

Cerca de meia dúzia desses voos ocorreram dentro do espaço aéreo dos EUA, embora não necessariamente sobre território norte-americano, de acordo com fonte dos serviços secretos.

A China tem mantido que o balão era apenas um balão meteorológico desviado da rota, e os EUA continuam a avaliar a possibilidade de não ter sido deliberadamente manobrado para o território continental norte-americano pelo governo chinês, informou a CNN.

Ainda assim, a China manteve alguma capacidade de manobrar o balão, acreditam as autoridades. E assim que o balão sobrevoou o Montana, a China pareceu tirar vantagem da sua posição para se aproximar de locais sensíveis e tentar recolher informações secretas.

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