De colete à prova de bala e faca erguida, "parecia que estava a ver um massacre escolar": o relato do que aconteceu na escola da Azambuja

18 set, 08:00

"Depois disto não vou mais sentir-me mais seguro na escola". Cauã Paraíso, de 11 anos, estava na escola quando viu o colega a esfaquear outros alunos. O agressor, de 12 anos, frequentava o 7.º ano e fontes próximas da família asseguram que "a culpa é o bullying"

"Estava a sair da sala e vi um miúdo com uma faca na mão a espetar nas costas de uma miúda". A imagem está retida na memória de Cauã Paraíso, um dos alunos da Escola Básica da Azambuja, onde nesta terça-feira um aluno de 12 anos feriu cinco raparigas e um rapaz.

Eram cerca das 14 horas, quando Cauã, de 11 anos, ao sair de uma aula se deparou com aquele cenário, sendo surpreendido ao ver um colega de faca em punho. "Pensei que estava a brincar e que era um brinquedo", conta o aluno do 6.ª ano. Mas depressa percebeu que era mais grave. "Quando vimos sangue percebemos que era uma faca de verdade”, lembra.

Além da ter a faca na mão, o agressor usava um colete à prova de bala. Pouco depois do sucedido, o presidente da Câmara Municipal da Azambuja, Silvino Lúcio chegou a referir que o aluno devia  "ter trazido o colete de casa - onde terá ido à hora do almoço. De acordo com fontes no local, o colete pertencerá ao pai do adolescente que o utilizava no trabalho. Por outro lado, as mesmas fontes garantem que o aluno esfaqueou os colegas não com uma faca do refeitório da escola - como se pensava inicialmente-, mas com uma navalha que também havia trazido de casa.

No total feriu cinco raparigas e um rapaz, com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos. Das vítimas, cinco foram transportadas para o Hospital de Vila Franca de Xira com ferimentos nos braços e na barriga. Já uma das raparigas foi transferida para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, devido aos ferimentos no tórax e na cabeça. Chegou com várias ligaduras e fez exames para ver se havia razão para preocupação. Mas segundo apurou a CNN Portugal, a estudante está estável e fora de perigo. 

O que se viveu dentro desta escola da Azambuja foram momentos de muita aflição e choque. O chão ficou cheio de sangue e toda a gente ficou assustada, conta Cauã. Pelo meio, ouvia-se choro. Estavam "muitas crianças a chorar no portão", descreve o rapaz, explicando que se lembra de ver um outro estudante a tentar parar "aquele miúdo" com a faca na mão. 

Mas terá sido a Fátima, uma auxiliar do estabelecimento que conseguiu convencer o adolescente e agressor a parar. Segundo o presidente da autarquia, Silvino Lúcio, o ataque só parou graças à intervenção "da Dona Fátima", uma das funcionárias do pessoal não docente da instituição. O aluno "agradeceu à auxiliar que o fez cair em si", revelou ainda o autarca. 

"Parecia que estava a ver um massacre escolar. Tanta gente a chora, mesmo muita gente a chorar. Era sirenes, era polícias, as crianças não se conseguiam acalmar", resume Cauã Paraíso, lembrando que ficou com uma certeza: "Depois disto não vou mais sentir-me mais seguro na escola".

O pai de Cauã, Leonardo Paraíso, explica que foi alertado para o sucedido no grupo que os encarregados de educação da turma criaram no WhatsApp. "Cheguei e deparo-me com isto: sirenes, sirenes e sirenes”, afirma, fazendo questão de mostrar a sua indignação perante a "escolas cada vez mais precárias e sem segurança" devido à falta de investimento: “O único culpado de isto tudo é o Estado”.

Mas quem é o jovem atacante?

O agressor é um aluno do 7.º ano, com 12 anos. À CNN Portugal, fontes próximas da família asseguraram que "a culpa disto é o bullying", mas para já são mais as dúvidas do que as certezas.

Isto, porque, por outro lado, o presidente da Câmara Municipal da Azambuja garante que a diretora do agrupamento escolar não lhe reportou "qualquer tipo de comportamento anormal do jovem em causa", considerando que "só a investigação e com acompanhamento psicológico poder-se-á perceber as motivações que o levaram a este ato”.

A CNN Portugal sabe que o jovem é filho de uma professora, mas que não dá aulas naquela escola. Depois do ataque, o menor ficou à guarda da GNR até a chegada da Polícia Judiciária. Durante o período sob vigilância da GNR, o "jovem estava calmo", garantiu o coronel Fernando Lisboa da GNR da Azambuja.

Uma nota interna a que a CNN Portugal teve acesso garante que a situação foi normalizada e que este foi um caso isolado. Por isso mesmo a Escola Básica da Azambuja vai reabrir normalmente esta quarta-feira.

O alerta foi dado às 14:33 e a investigação está agora a cargo da Polícia Judiciária, que já esteve no local. Uma equipa da GNR e ainda uma equipa de psicólogos também estão a acompanhar o processo.

“Uma situação inédita no concelho. Nada fazia prever que existisse uma situação destas no nosso concelho que é extremamente calmo. Estamos todos estupefactos”, disse o presidente da Câmara Municipal da Azambuja.

O Ministério da Educação, Ciência e Inovação emitiu um comunicado a esclarecer que já entrou em contacto com a diretora do agrupamento "para se inteirar da situação". E acrescentou que se mantém "a acompanhar a evolução do estado de saúde dos alunos feridos, desejando-lhes a recuperação plena".

Crime e Justiça

Mais Crime e Justiça

Mais Lidas

Patrocinados