O mistério do drone soviético que sobrevoou três países da NATO sem ser detetado

11 mar 2022, 21:02

Ninguém sabe de onde descolou, nem a que país pertence, mas a aeronave que "devia pertencer a um museu" voou sobre três países da NATO durante mais de uma hora sem ser detetada

Tinha acabado de escurecer, quando uma forte explosão abalou uma zona residencial nos arredores da cidade de Zagreb, a capital da Croácia. A explosão não fez feridos, mas a causa está envolta em mistério: especialistas militares croatas afirmam tratar-se de um avião de reconhecimento não tripulado de fabrico soviético, o Tupolev-141, que não é utilizado desde 1989, e ninguém sabe de onde é que a aeronave descolou. Sabe-se apenas que sobrevoou o espaço aéreo da Roménia, Hungria e Croácia, todos países da NATO, sem ser detetado, durante mais de uma hora. Mas como é que a uma aeronave militar conseguiu sobrevoar o espaço aéreo da aliança, numa altura em que decorre uma guerra na fronteira da Europa? E quem são os principais suspeitos?

Este drone entrou em serviço pela primeira vez em 1979, mas acabou por deixar de ser utilizado no ano de 1989. Porém, suspeita-se que tenha sido reintroduzido nas forças armadas ucranianas em 2014, durante o conflito na região do Donbass.

Horas depois do que aconteceu em Zagreb, o assessor do Ministério da Defesa Ucraniano Markian Lubkivskiy rejeitou tratar-se de um equipamento ucraniano e apontou a culpa para as forças russas. “O drone não tinha insígnias ucranianas. Tinha uma estrela vermelha”, afirmou, citado pela agência russa TASS. Resposta semelhante foi dada pelos representantes russos, que sublinham que as forças armadas deixaram de utilizar o aparelho em 1991.

“Porque é que foi para Zagreb? Não faz sentido nenhum. Se fosse uma provocação à NATO faria mais sentido que ela tivesse acontecido na Roménia, na Eslováquia ou Polónia”, considerou o major-general Agostinho Costa, à CNN Portugal. Para o especialista em questões militares, faz mais sentido olhar para outros países do antigo pacto de Varsóvia que possam ter acesso “a este material de museu”, particularmente a Sérvia, onde “há um revivalismo nacionalista”, que levou a NATO a reforçar as forças na Bósnia, de forma a reduzir a tensão no território.

Agostinho Costa acredita que a única “conclusão lógica” é de que a aeronave não vem da zona de conflito, uma vez que a NATO tem empreendido múltiplos esforços de vigilância na fronteira com a Ucrânia, através de meios aéreos, satélites e radares que permitiriam a deteção do engenho. “A minha opinião é de que ela não pode vir da zona de conflito, devido a todo o esforço de análise e vigilância situacional que a NATO está a fazer ao longo de toda a fronteira externa da NATO, com meios aéreos, satélites e radares”, frisou.

“Nós não conseguimos dizer a quem pertence. Estes são objetos voadores antigos utilizados pela União Soviética. Nem sequer consigo afirmar que o avião tenha vindo da Ucrânia sem fazer uma análise mais detalhada”, afirmou o almirante Robert Hrani, chefe da Defesa da Croácia na NATO. Sabe-se, no entanto, que o drone entrou no território húngaro através da Roménia, antes de entrar na Croácia, em direção a Zagreb, depois de o primeiro-ministro húngaro Viktor Órban o ter confirmado publicamente. 

A opção de se tratar de um avião russo parece implausível para o major-general, que não acredita ser do interesse russo violar o espaço aéreo da NATO e desencadear uma guerra de larga escala, complicando e muito a situação militar russa. “Russo o avião não é. Para além de criarem um incidente gravíssimo, o avião era abatido”, reparou.

“Os russos sabem que se violarem o espaço aéreo da NATO podem desencadear uma guerra. Os Estados Unidos recentemente enviaram baterias antiaéreas Patriot para a Polónia. São mísseis antiaéreos de longo alcance”, recordou.

Questionado sobre se este incidente fará aumentar os níveis de alerta da aliança para defender o espaço aéreo destes países, Agostinho Costa rejeitou essa hipótese, afirmando que fazê-lo seria “um atestado de incompetência enorme a todo o dispositivo militar”.

Europa

Mais Europa

Patrocinados