Avião que teve acidente e vitimou 179 pessoas na Coreia do Sul terá sofrido um “bird strike”: não é incomum e pode ser pior com os Boeing

29 dez 2024, 18:34

Boeing 737-8AS da companhia 'low-cost' Jeju Air colidiu com uma vedação de betão no Aeroporto Internacional de Muan e incendiou-se, tendo ficado quase completamente destruído. Apenas duas pessoas sobreviveram

As imagens do acidente impressionam.

O Boeing 737-800 da Jeju Air, uma companhia aérea de baixo custo sul-coreana — a mais popular do país e sem um histórico de acidentes —, regressado de Bangkok, na Tailândia, saiu da pista no Aeroporto Internacional de Muan, no sudoeste da Coreia do Sul, e embateu com violência contra um muro, acabado por explodir.

Das 181 pessoas a bordo (175 passageiros e seis tripulantes), 179 morreram — retornaria a maioria das férias de Natal na Tailândia —, tendo sido apenas dois tripulantes resgatados com vida dos destroços. Por agora, apenas 88 corpos foram identificados. É o acidente aéreo mais mortal na história da Coreia do Sul. 

Os bombeiros que acorreram ao local prontamente apontaram as causas do acidente: em parte mau-tempo, em parte “bird strike”, ou seja, uma colisão de aves com o motor do avião. Os especialistas não são tão prontos na resposta às causas do acidente, tendo sido aberto um inquérito — cujas respostas ainda demorarão, mas já foi possível recuperar a caixa negra do Boeing 737-800 e, portanto, haverá acesso às comunicações do piloto-chefe.

Os responsáveis pela Jeju Air garantem que se tratava de um piloto com alguma experiência, ocupando o cargo há seis anos e contabilizando mais de 6.800 horas de voo. Os mesmos responsáveis dizem igualmente que o acidente não foi causado por “nenhum problema de manutenção”. 

Mas o que é que já se sabe? Primeiro, que o acidente se deu pelas 9h00 (hora local, meia-noite em Lisboa) em Muan e que o Boeing 737-800 recebeu, minutos antes da previsão de aterragem, um alerta do comando de tráfego aéreo para um possível “bird strike”. A possibilidade ter-se-á consumado, pois o piloto-chefe emitiu um pedido de socorro e avançou para uma aterragem de emergência (na direção oposta da pista, sem recorrer ao trem de aterragem) — que se veio a revelar trágica.

Sabe-se ainda que um passageiro terá enviado, momentos antes do acidente, uma mensagem a um familiar, escrevendo somente: “Está um pássaro preso na asa”. 

A colisão com pássaros é comum. Segundo os dados da Organização da Aviação Civil Internacional, referentes ao período entre 2016 e 2021, só durante este período registaram-se mais de 273 mil ocorrências em 136 países. O caso talvez mais conhecido ocorreu em 2009, em Nova Iorque, com um Airbus da US Airways a ter de aterrar no rio Hudson. Não houve qualquer morte.

No entanto, quando se tratam de aviões da Boeing o risco pode ser maior. É pelo menos o que diz um artigo recente de Doug Drury, professor de aviação na CQUniversity, na Austrália, que refere que os motores turbofan da gigante da fabricação de aviões “podem ficar severamente danificados em caso de colisão com pássaros” — referindo ainda Drury que os pilotos de aviões Boeing são treinados para estarem “especialmente vigilantes ao início da manhã e pôr do sol” para situações de "bird strike". 

No Aeroporto Internacional de Muan, declarado “zona especial de desastre” (todos os voos de e para o aeroporto foram cancelados) pelo Presidente sul-coreano Choi Sang-mok, estiveram mobilizados 490 bombeiros e quase igual número de polícias, além de ter sido instalado um conjunto de tentas no aeroporto, num trabalho conjunto das autoridades aeroportuárias e da Cruz Vermelha, para se disponibilizar apoio psicológico às famílias das vítimas.

Precisamente às famílias, a Jeju Air endereçou um pedido de desculpas. A Boeing, por sua vez, expressou condolências. O Governo sul-coreano decretou um luto nacional de uma semana. 

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