«Fazer muitos golos não é sinónimo de qualidade para a seleção»

15 mai 2015, 10:15
Fernando Santos (foto: Paulo Sampaio)

Fernando Santos responde aos leitores

Um tema que preocupa muitos dos leitores: a falta de pontas de lança na, ou para, a Seleção Nacional. Questões para o selecionador em torno da formação de jogadores para essa posição específica, mas também sobre alguns jogadores em concreto. E pretexto para Fernando Santos falar do processo de observação de jogadores, com muitas revelações pelo meio. Como a equipa técnica da seleção se concentrou durante quatro meses exclusivamente nas divisões secundárias, como se processa a recolha e organização de informação até chegar à avaliação de cada jogador. Ainda o azar de Nelson Oliveira. E, por fim, uma garantia do selecionador: «Podem estar seguros que os vamos ver.»

Pergunta


Desde Pauleta que não temos um ponta de lança de nível mundial, Qual seria, para si, a solução para que surja um craque nessa posição? A nossa Formação não sabe, ou não tem as ferramentas para formar com qualidade nessa posição?

Patrício Pereira


Fernando Santos


«Em relação à questão da formação de pontas de lança, a resposta é muito simples. Não compete à Federação Portuguesa de Futebol. Nós vamos buscar o que há.

Obviamente que no pouco tempo que temos ao nível da formação, até porque a maioria das equipas até aos sub-20 jogam com um sistema base que exige um ponta de lança, naturalmente procura-se que ele apareça. Agora, não é em meia dúzia de treinos na seleção que se vão criar pontas de lança, se depois no resto da época nos clubes isso não acontecer.

Estas questões e outras que põem muitas vezes, estas e outras que vêm de trás, são muito mais para além da Federação. São assuntos do futebol e não da Federação».

Perguntas


Avançados como Nelson Oliveira e Éder ainda não conseguiram tornar-se úteis à Seleção através de golos, seria uma boa ou uma má ideia apostar em goleadores «alternativos» como Orlando Sá ou Marco Paixão?
Luis Soares, França

Fernando Santos, nestes últimos tempos, na posição ponta de lança temos poucas opções. Na sua opinião qual serão os próximos avançados da seleção? Orlando Sá talvez, ou Gonçalo Paciência?
Gonçalo Gama, Vila Verde

Porque é que não aposta em Gonçalo Paciência ? Penso que é a solução ideal para a posição 9
Lucas Rodrigues

O avançado do Tondela, Tó Zé Marreco, tem sido muito eficaz na II Liga. Face ao fraco rendimento neste setor, será que este jogador poderá em breve merecer uma chamada à seleção nacional?
João Mendes, Coimbra


Fernando Santos


«Eu e a minha equipa técnica, que somos seis pessoas (eu mais quatro que trabalham diretamente comigo, mais um observador) passámos quatro meses a espiolhar todos os campeonatos. Todos. Da II Liga vimos dezenas de jogos. Quer das equipas B quer das outras divisões. Não andamos a apregoar onde é que vamos ver jogos, mas as pessoas sabem que fomos lá.

A Federação tem esses números. Há pouco tempo foram divulgados alguns desses números. Mas desde o jogo de novembro até fim de janeiro, meados de fevereiro, a única coisa que fizemos foi deixar de parte todas as competições principais e dedicar-nos só a essas. O único trabalho que fizemos eu, o Ilídio, o João, o Ricardo, o Justino, foi procurar ver jogos dessas divisões. Como sabem, eu por exemplo estive no Norte durante algum tempo, onde fui só ver jogos dessas equipas. Muita concentração nas equipas B também. 

E todos aqueles que nos chamarem a atenção nós vamos ver. Agora, nem sempre temos sucesso. Tínhamos duas observações marcadas, uma foi efetuada, a outra já não vai ser, para ver o Nelson Oliveira, que durante muito tempo não competiu e de repente apareceu a competir. E nós estamos em cima de todos estes jogadores. A partir do momento que sentimos que o jogador estava a competir procurámos imediatamente ir vê-lo. Infelicidade, fomos lá vê-lo, lesionou-se aos 30 minutos e vai parar dois meses. Já tínhamos programado vê-lo em casa e agora no jogo com o Arsenal. Infelizmente já não o podemos fazer, mas não podemos fugir disso».

(Não tem reticências portanto em convocar um jogador que esteja na II Liga)


«Não. Por isso é que eu chamei. Não só II Liga, mas chamei o Rui Fonte, ou por exemplo o Lucas João.
Nós já fomos ver muitos, muitos mesmo. Mas há jogadores que no meu entender e no nosso entender não cabem no nível da seleção nacional. Isto é perfeitamente normal, as pessoas têm que entender. Há quem cabe e quem não cabe.

Fazer muitos golos não é sinónimo de que se tem qualidade para se chegar à seleção nacional de Portugal. Por muita pena que eu tenha e perceba. Claro que percebo que uma pessoa que vê alguém que faz cinco golos num jogo, ou 30 golos numa época… Mas temos que ir ver o campeonato, temos que ver as condições, temos que olhar para eles.

Agora, que os vamos ver, podem estar seguros que os vamos ver. À Polónia já fomos 3, 4, 5 vezes ver os vários avançados que estão na Polónia, porque alguns deles têm feito muitos golos. E temos lá ido e vamos ver.

Nós criámos uma base de dados que nos permite comparar as coisas com muita facilidade. No nosso gabinete, equipa A, temos uma base de dados, e pouco tempo depois de acabar um jogo, eu recebo no meu telefone a observação do que foi feito. Agora, depois de observarmos, quando vamos cruzar opiniões, se chegarmos à conclusão que não, não.

Isto é muito simples. Ninguém está de fora».

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