Um imigrante italiano e um poeta beatnik explicam a vitória do Chega em Albufeira

24 out, 07:00
DIA 3, ALBUFEIRA. Paolo Funassi, imigrante italiano de Albufeira

REPORTAGEM AUTÁRQUICAS || Em outubro, Albufeira parece Vegas encostada ao Atlântico e ouve-se mais inglês, francês e alemão do que português. No único concelho algarvio onde o Chega ganhou, seguimos duas chaves: um “ativista” que mede a cidade em milhões e um poeta que a mede em versos. “Não tenham medo e deem um voto de confiança”, diz um; “não aconteceu nada de espantoso — aqui o Chega é um PSD com outro tempero”, devolve o outro

Albufeira (CNN Autárquicas 2025) - A noite em Albufeira acende-se cedo e não desacelera.

As luzes agarram-se às fachadas, os letreiros prometem o mundo em cinco línguas, e as colunas dos bares fazem vibrar a rua como se outubro fosse agosto com outra roupa. Vê-se “full English breakfast” ao lado do polvo à lagareiro, ouve-se mais inglês e francês, até alemão, do que português; há ecrãs a garantir jogos da Premier e “happy hour” que dura quase o dia todo. Ao fundo, a cidade que desce para o mar parece outra da que sobe à serra e ao barrocal — aqui, néon e pulseiras; lá, muros caiados de traça árabe, quintais, alfarrobeiras, e casas de grande ostentação, muitas com bandeiras portuguesas no alto, erguidas por gente que veio de fora e ficou.

Hoje, contamos esta Albufeira pelo avesso do cartaz: recuamos à tarde para perceber como é que, aqui e só aqui no Algarve, o Chega venceu.

A meio da tarde, um pouco desviado do ruído, encontro-me com Paolo Funassi. Sentamo-nos numa esplanada onde o inglês passa em fila corrida. Ele pede uma Sprite. Fala depressa, em frases diretas, pousa números na mesa, sublinha ideias com a mão direita; a esquerda toca-me o braço quando a pergunta força a linha. Escolheu uma mesa resguardada o bastante para gravar sem perder a rua, como quem está habituado a fazer precisamente da rua estúdio e feed diário.

Nas páginas que gere e no LinkedIn, apresenta-se como italiano e “ativista social e ambiental”, gestor e dinamizador de redes como Albufeira Paradise e Estrangeiros/Foreigners Algarve; no LinkedIn, lista funções em direção comercial e desenvolvimento de negócio e refere ter presidido a uma empresa pública italiana — sem nomes próprios ou datas. À mesa, prefere a métrica do alcance: “Hoje tenho mais de 400 mil seguidores. Nos últimos 30 dias, tive 18 milhões de visualizações.” Repete devagar, como quem não quer que os algarismos se percam na gravação. Peço para confirmar. Entrega-me o telemóvel. Confirmo. Então pergunto-lhe de que vive. Sorri, atrasa, não foge. “Sou empregado.” Empregado onde, a fazer o quê. “Empregado, só.” A porta fecha com educação.

A seguir, entra na estrada onde se sente à vontade: as assembleias municipais em Albufeira. “Vim morar para cá há sete anos. Comecei a ir às assembleias há seis. Fui 60 vezes, mais. Nunca pedi nada para mim. Levava pedidos das pessoas.” O balanço é seco: “Recebi sempre ‘não’. Fui visto como chato, como Don Quixote. E habituei-me.” A enumeração que vem depois é método.

Primeiro os elogios: “As festas são as melhores do continente. A passagem de ano na praia, com drones, com fogo de artifício, com 300 mil pessoas.” Depois, o resto: a recolha do lixo “que falha”, a deservagem — “na rotunda do estacionamento da Praia de São Rafael chegaram a 1,80 metros, em março/abril” —, o centro de saúde “com contentores”, as escolas “também com contentores”, habitação municipal “quase nenhuma”. “A cidade tem dinheiro e falhou no básico.”

Falemos da bandeira da criminalidade, que é uma bandeira do partido que venceu nas eleições, o Chega. Paolo não a abana como o Chega. Explica a conta que o incomoda: em agosto a cidade torna-se outra, “com meio milhão de gente”, mas o número de crimes divide-se “pelos 45 mil” residentes oficiais. Logo, a taxa explode: 88 crimes por 1.000 residentes, a mais alta do país. É uma taxa por residentes oficiais; no pico do verão a população é várias vezes superior, o que infla o indicador. O que preenche o Relatório de Segurança Interna — descreve — são crimes contra o património, vandalismo e condução sob efeito de álcool: “coisas ligadas ao turismo”. “Não é uma cidade violenta.” É uma cidade, diz, “mal medida”. Não nega que haja “problemas”, mas recusa a lente que os amplia mais depressa do que a realidade.

Daqui, a conversa muda para a aritmética que, para ele, explica muito do presente. “Os estrangeiros são 38 por cento dos residentes oficiais. Se somas quem tem dupla nacionalidade, ficas perto de metade.” A cidade passa a mapa de círculos que se tocam pouco: “Ingleses com ingleses, escandinavos com escandinavos, comunidades asiáticas entre si”, e os portugueses “a olhar de fora”. A integração, sublinha, não acontece “por decreto”, acontece se tiver “onde pousar”. Daí o desporto que propôs e de que fizeram troça: “Pedi um campo de cricket. Para os indostânicos. Riram-se. Eu via os miúdos a jogar nos parques de estacionamento, a bola a bater nos carros. Um campo custa pouco, tira-os da rua, dá pertença. É como os skate-parks: quando eu era miúdo, quem andava de skate era visto como inadaptado, hoje é serviço público.” O cricket não é só bola e tacos; é um lugar para a comunidade pousar. Pergunto-lhe, sem rodeios, se aqui há imigrantes de primeira e de segunda. Ele responde de ombros, escolhe as palavras. “As comunidades não se comunicam. Isto cria duas Albufeiras.” A divisão não é teórica, é de domingo à tarde: igrejas por língua, petanca com dias marcados, grupos que não se cruzam. “Isso cria várias Albufeiras que não comunicam”, diz. E fecha sem flor, falando de “indostânicos”: quando a cidade cresce mais depressa do que os serviços — “com dez num quarto, com filas na Segurança Social, com creches sem vaga” — não é bom para ninguém: “Não é bom nem para os portugueses, nem para os imigrantes.”

Peço-lhe um retrato da Albufeira política destes anos recentes, que era PSD. Fala de quatro anos de redes sociais, as suas, “como detonante do descontentamento”: o que antes se ficava no café passou a circular em vídeo e fotografia; a perceção mudou. Viu o PS “brando”, viu um executivo do PSD a “adormecer” por falta de contraditório, viu o Chega “falar ao coração e ao estômago”: “Quando falo do coração é dar esperança. Quando falo do estômago é falar das necessidades.” Diz, sem rodeio, que “muitos estrangeiros” votaram Chega. Explica-se: está a favor da imigração “legal, regularizada”, contra uma “invasão” de gente que chega “sem perceber onde vai viver”. É a sua versão de como a cidade se saturou.

Nas lojas digitais, como na Amazon, a produção de Funassi multiplica-se. Tem muitas dezenas de títulos em auto-publicação: guias de concelhos e freguesias, crónicas apressadas sobre praias e festas, fotolivros, ficções ligeiras, manuais feitos à medida. A lista dá-lhe a autoimagem de “escritor”, mas o pináculo é outro: “Albufeira, Chega ao poder”, publicado meses antes das autárquicas, com uma sinopse que anuncia “o poder local” como “novo campo de batalha ideológica” e remata com convite à “análise, reflexão estratégica” e, sobretudo, à “ação”. Não é um ensaio com bibliografia; é uma frase colocada a tempo. Em política, quem chega primeiro à formulação fica com metade da conversa.

O currículo partidário, em pesquisa breve, desenha duas latitudes: coordenou a concelhia de Albufeira do ADN — e anunciou a saída há pouco —; mais atrás, foi candidato à assembleia municipal de Lagoa numa lista com gente do Bloco. À mesa, recusa rótulos, insiste no estatuto de “cidadão insistente”. Insiste: “Eu não sou do Chega.” Rejeita pertencer a partidos, mas a cidade digital lembra-lhe as fotografias de chapéu diferente. Hoje, nas páginas que gere, a proximidade conta mais do que a filiação: quem aparece, quem é defendido, quem ganha com a agenda diária. Ele escolhe outro verbo para se definir: “cobrar”. “Se correr mal, cobramos.”

Há um detalhe que não cabe em currículo e me ficou do primeiro minuto: o sotaque. Não é bem, bem italiano. As vogais têm a cadência larga de quem viveu muito tempo do outro lado do Atlântico. Digo-lho. Ele arruma os dados: “Sou italiano, mas vivi quase 20 anos na Argentina. Ir e vir. O meu pai trabalhava lá numa multinacional italiana. É como um português que vai para Angola e leva a família. Mas isso foi em adolescente. Trabalhar, trabalhei politicamente em Itália. Trabalhei dez anos no Senado Italiano e no Parlamento Regional da Lombardia. Como assessor. Depois fui presidente de uma empresa pública durante quatro anos — tipo as Águas do Algarve, só que lá.” Fica a ambiguidade que, na mesa, não desfaz: em Portugal, assume-se italiano; em entrevistas a jornais e rádios argentinas, apresentou-se como “argentino em Portugal” e "Peronista". A explicação, ou insistência minha, completa chegará no dia seguinte.

A luz inclina-se. Terminamos a conversa e peço-lhe um retrato. “Não vim preparado para fotografias.” Pede um instante e vai a casa trocar a t-shirt com motivo de bandeira americana, os calções de praia e os ténis brancos por algo mais formal. Regressa. Escolhe o local, sugere o enquadramento, aponta a avenida das palmeiras. Pousa com a naturalidade de quem faz lives todos os dias. Entre cliques, oferece aquilo em que acredita: o título. “Os títulos são importantes. Tens de meter assim: ‘A mudança de que esta Albufeira precisava’. Se eu partilhar com esse título, vai ser o artigo mais lido. Acredita. Eu sou um órgão de comunicação social, autenticamente. Chego a mais gente do que muitos jornais.” É a gramática de quem mede a cidade em alcance. No fim, diz-me: “Se algum jornalista teu amigo te pedir o meu número, podes dar logo.”

Saio do centro e subo. Em poucos quilómetros muda-se de cenário: a calçada dá lugar ao pó, as alfarrobeiras alinham-se, um labrador chega primeiro e anuncia a visita. É final de tarde — aquela luz em que as fotografias raramente falham. O portão abre-se e é o Cobramor que me recebe. Hugo Filipe Lopes sorri como quem já carregou muitos livros. Prefere o pseudónimo e a enumeração que o define: escritor “amaldiçoado”, poeta “contrariado”, tradutor, editor, “guerilheiro cultural”, “explorador sónico”, “intérprete sonoro”; beatnik de linhagem Ginsberg–Ferlinghetti. Diz que emigrou “para o sul profundo para tentar viver deliberadamente”. Uma parte da casa é biblioteca até ao teto; ficamos cá fora. O cão encosta a cabeça ao joelho e decide que também fica.

Pergunto-lhe o que se passou no domingo. “Não aconteceu nada de espantoso. Quem ganhou, no fundo, foi o PSD. Aqui o Chega é um PSD com outro tempero e um candidato convincente. O executivo anterior venceu anos a fio por falta de competição, não por mérito. Havia pouca oposição, pouca contradição.” A frase assenta numa década de memória: “O mau de Albufeira? Via-se famílias inteiras completamente bêbedas. Pais a cair, miúdos de cinco, seis anos ao lado.” Hoje, diz, “melhorou”. “O turismo do álcool não desapareceu, deslocou-se para a Oura e ficou mais jovem. A Câmara diz que não promove a Oura; o que corre mundo é precisamente a Oura.” No comércio pequeno, a maré cheia não chega à caixa. “A grande afluência não se traduz no consumo dos pequenos negócios. O ‘tudo incluído’ prende as pessoas aos hotéis.” O alojamento local, aqui, não é o de Lisboa: “é muito mais complemento de reforma ou salário, pessoas comuns a alugarem casitas.” Como na capital — só que mais cedo — a gentrificação chegou. “Os preços expulsaram quem é de cá. Os filhos dos ‘filhos da terra’ já não compram casa no concelho.”

Depois baixa dos telhados ao chão. Falamos de problemas ainda. Problemas que explicam a vitória do Chega. “Há um ecossistema silvestre ali à frente que foi demolido para fazer um mercado quando havia outras zonas preparadas.” Fora do postal “o lixo multiplica-se”, “os passeios acabam sem aviso”, “falta iluminação”. O centro de saúde "tem contentores" — já ouviramos do itálo-argentino Paolo. “Nas escolas, houve miúdos sem vaga até tarde. Para a minha filha ter lugar, tive de ir ao agrupamento e dizer que não saía dali sem solução.” A mobilidade fecha o triângulo: “Durante anos dei aulas em Faro. A partir das oito da noite não há comboio de regresso. Tens de ter carro. Pagar portagens, gastar gasóleo, poluir mais. O básico falha no básico.” Não há slogan — há uma lista de logística quotidiana.

Na imigração, recusa o atalho. “Há imigrantes que ninguém questiona: alemães em Monchique, suecos a jogar petanca, britânicos que lotam brunches. Talvez pela cor da pele, talvez pela cor do dinheiro.” E há quem chega para trabalhar, que “suscita receios apesar de não haver registo de violência associada a essas comunidades”. Lembra a celebração sikh que atravessou Albufeira. “Ofereceram comida a toda a gente. Gente sorridente, inclusiva. Houve surpresa em quem só os conhecia pelos media.” Na criminalidade, desarma a perceção: “Se fores ver os números — ou quem os lê por nós —, encontras crimes contra o património, vandalismo de turistas alcoolizados, condução sob efeito de álcool. Não há homicídios em massa.”

A comunidade cigana entra porque serviu de biombo retórico. Aponta a estrada. “Há dois acampamentos por perto. Passo lá de bicicleta.” O senso comum que insiste no “roubo de alfarroba” não resiste a perguntas. “Houve anos em que a alfarroba valia uma fortuna e sim, houve quem apanhasse sem pedir. Transformaram isso num selo étnico. Mas isso não é sério.” Mostra outra violência que não cabe em cartaz: “cães envenenados, figos envenenados, disputas de terreno”. “Isso existe. É daqui. Não é sobre os de fora nem é sobre os ciganos.”

No emprego, desmonta o refrão. “Os imigrantes não tiram trabalho aos portugueses. Os portugueses não querem o trabalho que os imigrantes aceitam.” Lembra os “dias abertos” de grandes superfícies — “durante anos o Continente e o Pingo Doce fizeram recrutamento e não aparecia quem quisesse trabalhar” —, e hoje “vês equipas estáveis e integradas com imigrantes”. Onde dói é noutro ponto: “O Algarve tem pouco para oferecer a quem tem entre 25 e 50 anos. Quem pode, sai. Ficam os reformados, os sazonais e uma classe média a tentar sobreviver a um custo de vida de cidade turística.” Voltamos à política. A esquerda — e Cobramor é apartidário, “mas, claro, mais de esquerda” —, pelo caminho, perdeu-se. “A CDU nem apareceu num dos debates. O PS não se impôs. Ficou o PSD de um lado e, do outro, uma versão mais nacionalista que soube falar a quem se sente deserdado. O voto foi protesto e expectativa. Depois de 24 anos, muita gente quis outra coisa. É humano.”

Pergunto-lhe se isto tudo cabe num poema. “Tudo é matéria de poema. Até a lista de compras. O problema é o que fazemos com o poema.” Fica um silêncio que não é vazio: o labrador endireita-se, a luz encosta-se às alfarrobeiras e o campo faz de metrónomo. Ele pousa a mão no chão, como quem assina a frase, e acrescenta que o poema, aqui, é menos decoração e mais ferramenta: serve para inventariar o que falha — o passe que não bate com o comboio, a consulta adiada, o lixo fora do postal — e para guardar o que resiste — a sombra certa, a fruta madura, o bairro que ainda se cumprimenta. Diz que o poema não resolve nada, mas “obriga a ver”; e ver, às vezes, é o começo de arrumar.

Voltamos a falar baixo. Há vento miúdo, o cão respira devagar, um cheiro doce sobe da terra. Ele diz que, quando tudo parece ruído, o poema funciona como filtro: “Tira a espuma, fica a substância.” E enumera, quase em ritmo: primeiro olhar, depois nomear, por fim escolher. “Se escolhermos bem as palavras, talvez escolhamos melhor as obras.” O sol desce um dedo, o pátio fica de cobre e, por momentos, parece que a cidade cabe toda ali — a que brilha no néon e a que tropeça no chão — à espera de uma linha que a arrume.

Regresso ao centro com duas Albufeiras a tocar-se sem se misturarem.

Entre uma e outra passa a explicação da vitória inédita de domingo: menos terramoto do que fadiga acumulada com megafone. No Algarve, o Chega só ganhou aqui; no país, além de Albufeira, venceu no Entroncamento e no pequeno município madeirense de São Vicente. A exceção mora no detalhe: anos de serviço básico em falência parcial, um candidato que “falou ao coração e ao estômago”. E um ecossistema de páginas que fazem jornal de bairro com alcance internacional. Uma timeline permanente a pôr a cidade em direto. Vídeos curtíssimos que transformam um desacato em conversa, denúncias que misturam câmara, freguesia e polícia num mesmo fio, tudo misturado com farmácias de serviço, estado do tempo, festas de freguesia, sunsets com legenda. Política sem dizer “política”.

No dia seguinte, já por Lisboa, ligo ao Paolo para fechar-lhe a biografia que para mim fica a meio. Atende. “Sou italiano”, insiste. Repete a vida na Argentina — “quase 20 anos, quase 20” —, por causa do trabalho do pai. “É por isso que escrevo perfeitamente espanhol.” Uma pesquisa pouco profunda, ou sem a necessidade de profundidade, dá-o como de Ituzaingó, na província de Corrientes, Argentina. Não encontro registos públicos fáceis de confirmar sobre o trabalho no Senado ou na Lombardia — fica a palavra de Paolo, em gravação. No fim, o passaporte interessa pouco, Ituzaingó ou Lombardia; o essencial é o movimento que provoca na cidade, conta o que Albufeira fizer com o que ele pôs em marcha. Antes de desligar, pede um minuto para um recado final: “Quero deixar um apelo aos estrangeiros: que não tenham medo. Que deem um voto de confiança à nova etapa em Albufeira. Se for uma péssima gestão, vamos cobrar. Mas agora confiem.” Fica dito. É um fecho que tem qualquer coisa de epígrafe.

O que vem a seguir prova-se no chão, não com recados. Mede-se em coisas simples: o centro de saúde deixar os contentores; as escolas terem vaga antes das filas; a erva não voltar a subir às rotundas; a recolha do lixo acompanhar a cidade real e não só o postal turístico; a promoção não ser só Oura para exportação, mas Albufeira inteira, com silêncio e sombra incluídos; os autocarros a baterem certo com os comboios nas horas em que as pessoas saem do trabalho; as tribos a terem pretextos para se cruzarem. E, quem sabe, num domingo qualquer, um campo de cricket com miúdos e famílias — a tal ideia de que se riram transformada em chão.

Fico com duas chaves para a mesma porta. A do Paolo, em voz de confiança vigiada: confiar agora e cobrar depois. A do Cobramor, inventário sem espuma: “Não aconteceu nada de espantoso.” Tornou-se visível o que já estava. Entre ambas, Albufeira fica como espelho do país — às vezes distorcido, às vezes claro.

A noite volta a acender-se cedo.

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